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CAPÍTULO UM

O Rei Sudyumna Torna-se uma Mulher

Este capítulo descreve como Sudyumna se tornou uma mulher e como a dinastia de Vaivasvata Manu se uniu com o Soma-vaṁśa, a dinastia proveniente da Lua.

Conforme o desejo de Mahārāja Parīkṣit, Śukadeva Gosvāmī falou sobre a dinastia de Vaivasvata Manu, que outrora fora o rei Satya­vrata, o governante de Draviḍa. Enquanto descrevia essa dinastia, ele também narrou como a Suprema Personalidade de Deus, enquanto estava deitado nas águas da devastação, produziu do lótus provenien­te de Seu umbigo o senhor Brahmā. Da mente do senhor Brahmā, gerou-se Marīci, e seu filho era Kaśyapa. A partir de Kaśyapa, através de Aditi, foi gerado Vivasvān, e, a partir de Vivasvān, veio Śrāddhadeva Manu, que nasceu do ventre de Saṁjñā. A esposa de Śrāddhadeva, Śraddhā, deu à luz dez filhos, e Ikṣvāku e Nṛga estavam entre eles.

Antes do nascimento de Ikṣvāku, o pai de Mahārāja Ikṣvāku, Śrāddhadeva, ou Vaivasvata Manu, não tinha filhos, mas, pela graça do grande sábio Vasiṣṭha, ele realizou um yajña para satisfa­zer Mitra e Varuṇa. Então, embora desejasse um filho, Vaivasvata Manu, pelo desejo de sua esposa, obteve uma filha chamada Ilā. Manu, entretanto, não ficou satisfeito com o fato de ter uma filha. Consequentemente, para a satisfação de Manu, o grande sábio Va­siṣṭha orou para que Ilā se transformasse em um menino, e sua oração foi ouvida pela Suprema Personalidade de Deus. Assim, Ilā tornou-­se um formoso jovem chamado Sudyumna.

Certa vez, Sudyumna saiu a viajar com seus ministros. Ao sopé da montanha Sumeru, existe uma floresta chamada Sukumāra, e logo que entraram nessa floresta, todos eles se transformaram em mulhe­res. Quando Mahārāja Parīkṣit perguntou a Śukadeva Gosvāmī qual a razão dessa transformação, Śukadeva Gosvāmī descreveu como Sudyumna, transformando-se em uma mulher, aceitou como espo­so Budha, o filho da Lua, com quem teve um filho chamado Purūravā. Pela graça do senhor Śiva, Sudyumna recebeu a bênção de que viveria um mês como mulher e um mês como homem. Assim, ele recuperou o seu reino e teve três filhos, chamados Utkala, Gaya e Vimala, todos os quais eram muito religiosos. Mais tarde, ele confiou seu reino a Purūravā e aceitou a ordem de vida vānaprastha.

VERSO 1: O rei Parīkṣit disse: Meu senhor, Śukadeva Gosvāmī, descreves­te elaboradamente todos os períodos dos vários Manus e, dentro desses períodos, mencionaste as maravilhosas atividades da Suprema Personalidade de Deus, cuja potência é ilimitada. Tive a grande for­tuna de ouvir tudo isso ser narrado por ti.

VERSOS 2-3: Satyavrata, o rei santo de Draviḍadeśa que, pela graça do Supre­mo, recebeu conhecimento espiritual no fim do milênio passado, mais tarde, no manvantara seguinte [período de Manu], tornou-se Vaivasvata Manu, o filho de Vivasvān. Foi de ti que recebi este co­nhecimento. Sei também que reis tais como Ikṣvāku eram filhos dele, como já explicaste.

VERSO 4: Ó afortunadíssimo Śukadeva Gosvāmī, ó grande brāhmaṇa, por favor, descreve-nos separadamente as dinastias e características de todos esses reis, pois estamos sempre ansiosos por te ouvir narrar esses tópicos.

VERSO 5: Por favor, conta-nos a respeito das habilidades de todos os céle­bres reis nascidos na dinastia de Vaivasvata Manu, incluindo aqueles que já se foram, aqueles que aparecerão no futuro e aqueles que existem atualmente.

VERSO 6: Sūta Gosvāmī disse: Quando Śukadeva Gosvāmī, o maior conhe­cedor dos princípios religiosos, na assembleia de todos os sábios entendidos no conhecimento védico, recebeu esse pedido de Mahā­rāja Parīkṣit, ele se colocou a falar.

VERSO 7: Śukadeva Gosvāmī continuou: Ó rei, subjugador de teus inimigos, ouve enquanto te falo muito pormenorizadamente a respeito da dinastia de Manu. Explicarei tudo o que for possível, embora ninguém consiga dizer tudo sobre ela, nem mesmo em centenas de anos.

VERSO 8: A transcendental Pessoa Suprema, a Superalma de todas as entidades vivas, situadas em diferentes status de vida, superiores ou inferiores, existia no fim do milênio, quando, a não ser Ele, nem este cosmo manifesto nem qualquer outra coisa existia.

VERSO 9: Ó rei Parīkṣit, a partir do umbigo da Suprema Personalidade de Deus, ori­ginou-se um lótus dourado, no qual nasceu o senhor Brahmā de quatro faces.

VERSO 10: Da mente do senhor Brahmā, nasceu Marīci, e do sêmen de Marīci, apareceu Kaśyapa. De Kaśyapa, através do ventre de Aditi, nasceu Vivasvān.

VERSOS 11-12: Ó rei, melhor da dinastia Bhārata, de Vivasvān, pelo ventre de Saṁjñā, nasceu Śrāddhadeva Manu. Śrāddhadeva Manu, tendo dominado seus sentidos, gerou dez filhos no ventre de sua esposa, Śraddhā. Os nomes desses filhos eram Ikṣvāku, Nṛga, Śaryāti, Diṣṭa, Dhṛṣṭa, Karūṣaka, Nariṣyanta, Pṛṣadhra, Nabhaga e Kavi.

VERSO 13: A princípio, Manu não tinha filhos. Portanto, para que ele obtivesse um filho, o grande santo Vasiṣṭha, que era muito poderoso em conhecimento espiritual, realizou um sacrifício para satisfazer os semideuses Mitra e Varuṇa.

VERSO 14: Durante aquele sacrifício, Śraddhā, a esposa de Manu, que seguia o voto de subsistir apenas bebendo leite, aproximou-se do sacerdo­te encarregado do sacrifício, prestou-lhe reverências e suplicou-lhe uma filha.

VERSO 15: Ao receber do sacerdote principal a seguinte ordem: “Agora, faze oblações”, a pessoa encarregada das oblações pegou a manteiga clarificada para oferecê-la. Então, lembrou-se do pedido da esposa de Manu e realizou o sacrifício enquanto cantava a palavra “vaṣaṭ”.

VERSO 16: Manu iniciara aquele sacrifício com o propósito de obter um filho, mas, como o sacerdote aceitou o pedido da esposa de Manu, nasceu uma filha chamada Ilā. Ao ver a filha, Manu não ficou muito satisfeito. Então, dirigiu ao seu guru, Vasiṣṭha, as seguintes palavras.

VERSO 17: Meu senhor, sois todos hábeis em cantar os mantras védicos. Então, como o resultado foi o oposto do desejado? Isso é motivo de lamen­tação. Não deveria haver semelhante inversão dos resultados dos mantras védicos.

VERSO 18: Sois totalmente autocontrolados, de mente bem equilibrada e conhecedores da Verdade Absoluta. E, devido às austeridades e penitências, limpastes-vos completamente de toda a contaminação material. Vossas palavras, como as dos semideuses, nunca falham. Então, como é possível que vossa determinação tenha-se perdido?

VERSO 19: O poderosíssimo bisavô Vasiṣṭha, após ouvir essas palavras de Manu, entendeu o erro cometido pelo sacerdote. Assim, ele dirigiu ao filho do deus do Sol as seguintes palavras.

VERSO 20: Esta discrepância no objetivo se deve ao fato de o teu sacerdote ter-se desviado do propósito original. Entretanto, mediante meu poder pessoal, eu te darei um bom filho.

VERSO 21: Śukadeva Gosvāmī disse: Ó rei Parīkṣit, após tomar esta decisão, o poderosíssimo e famoso Vasiṣṭha ofereceu orações à Pessoa Suprema, Viṣṇu, para transformar Ilā em homem.

VERSO 22: A Suprema Personalidade de Deus, o controlador supremo, estando satisfeito com Vasiṣṭha, deu-lhe a bênção que ele desejava. Assim, Ilā se transformou em um varão muito formoso chamado Sudyumna.

VERSOS 23-24: Ó rei Parīkṣit, esse herói, Sudyumna, acompanhado de alguns minis­tros e associados e montado em um cavalo trazido de Sindhupradeśa, foi caçar na floresta certa vez. Ele usava uma armadura, estava ornado com arcos e flechas e era muito belo. Enquanto perseguia os animais e os matava, ele alcançou a parte setentrional da floresta.

VERSO 25: Lá no norte, na base do monte Meru, existe uma floresta conhecida como Sukumāra, onde o senhor Śiva sempre desfruta com Umā. Sudyumna entrou naquela floresta.

VERSO 26: Ó rei Parīkṣit, tão logo Sudyumna, que era muito hábil em subju­gar os inimigos, entrou na floresta, ele se viu transformado em uma mulher, e seu cavalo transformado em uma égua.

VERSO 27: Quando também viram suas identidades transformadas e seus sexos mudados, todos os seus seguidores ficaram muito melancólicos e simplesmente olhavam uns para os outros.

VERSO 28: Mahārāja Parīkṣit disse: Ó poderosíssimo brāhmaṇa, por que este lugar recebeu tamanho poder, e quem o tornou tão poderoso? Por favor, responde a esta questão, pois estou muito ansioso por ouvir acerca disso.

VERSO 29: Śukadeva Gosvāmī respondeu: Grandes pessoas santas, que seguiam estritamente as regras e regulações espirituais e cuja própria refulgência dissipava toda a escuridão presente em todas as direções, dirigiram-se àquela floresta para ver o senhor Śiva certa vez.

VERSO 30: Ao ver as grandes pessoas santas, a deusa Ambikā ficou muito en­vergonhada porque estava despida naquele momento. Levantando-se imediatamente do colo de seu esposo, ela tentou cobrir seus seios.

VERSO 31: Vendo o senhor Śiva e Pārvatī ocupados em atividades sexuais, todas as grandes pessoas santas imediatamente desistiram de ir adiante e partiram para o āśrama de Nara-Nārāyaṇa.

VERSO 32: Em seguida, apenas para satisfazer sua esposa, o senhor Śiva disse: “Qualquer macho que entre neste lugar imediatamente se transfor­mará em fêmea!”

VERSO 33: Desde então, nenhum homem havia entrado naquela floresta. Mas agora, o rei Sudyumna, tendo-se transformado em mulher, começou a andar com seus associados de floresta em floresta.

VERSO 34: Sudyumna se transformara na mais bela de todas as mulheres capazes de provocar desejos sexuais e estava rodeada por outras mu­lheres. Ao ver essa bela mulher perambulando perto de seu āśrama, Budha, o filho da Lua, imediatamente desejou desfrutá-la.

VERSO 35: A bela mulher também quis aceitar Budha, o filho do rei da Lua, como seu esposo. Assim, Budha gerou em seu ventre um filho cha­mado Purūravā.

VERSO 36: Ouvi de fontes garantidas que o rei Sudyumna, o filho de Manu, tendo assim obtido a feminilidade, lembrou-se do mestre espiritual de sua família, Vasiṣṭha.

VERSO 37: Ao ver a condição deplorável de Sudyumna, Vasiṣṭha ficou muito pesaroso. Desejando que Sudyumna recuperasse sua masculinidade, Vasiṣṭha novamente começou a adorar o Senhor Śaṅkara [Śiva].

VERSOS 38-39: Ó rei Parīkṣit, o senhor Śiva estava contente com Vasiṣṭha. Por­tanto, para satisfazê-lo, mantendo a palavra que dera a Pārvatī, o senhor Śiva disse à pessoa santa: “Durante um mês, teu discípulo Sudyumna pode permanecer homem; no mês seguinte, voltará a ser mulher. Dessa maneira, ele poderá governar o mundo a seu bel-prazer.”

VERSO 40: Recebendo do mestre espiritual esse favor, então, em consonância com às palavras do senhor Śiva, Sudyumna recuperava em meses alternados sua masculinidade desejada e, dessa maneira, governava o reino, embora os cidadãos não estivessem satisfeitos com isso.

VERSO 41: Ó rei, Sudyumna teve três filhos muito piedosos, chamados Utkala, Gaya e Vimala, que se tornaram os reis de Dakṣinā-patha.

VERSO 42: Depois, tendo chegado o devido tempo, quando Sudyumna, o rei do mundo, estava suficientemente idoso, ele entregou todo o reino a seu filho Purūravā e se dirigiu à floresta.

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