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Capítulo Treze

O Aparecimento do Senhor Varāha

VERSO 1: Śrī Śukadeva Gosvāmī disse: Ó rei, após ouvir todos esses virtuosíssimos tópicos da parte do sábio Maitreya, Vidura perguntou em seguida sobre os tópicos da Suprema Personalidade de Deus, que ele adorava ouvir.

VERSO 2: Vidura disse: Ó grande sábio, o que fez Svāyambhuva, o querido filho de Brahmā, após obter sua tão amável esposa?

VERSO 3: Ó melhor entre os virtuosos, o original rei dos reis [Manu] era um grande devoto da Personalidade de Deus, Hari, e assim seu caráter sublime e atividades são dignos de serem ouvidos. Por favor, descreve-os. Estou muito ansioso por ouvi-los.

VERSO 4: As pessoas que ouvem da parte de um mestre espiritual com muito empenho e por longo tempo devem ouvir da boca de devotos puros sobre o caráter e as atividades dos devotos puros. Os devotos puros sempre pensam, dentro de seus corações, nos pés de lótus da Personalidade de Deus, que outorga a liberação a Seus devotos.

VERSO 5: Śrī Śukadeva Gosvāmī disse: A Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, sentiu prazer em colocar Seus pés de lótus sobre o colo de Vidura porque Vidura era muito manso e amável. O sábio Maitreya estava muito satisfeito com as palavras de Vidura, e, influenciando-se por seu estado de espírito, tentou falar.

VERSO 6: O sábio Maitreya disse a Vidura: Após seu aparecimento, Manu, o pai da humanidade, juntamente com sua esposa, dirigiu-se assim ao reservatório da sabedoria védica, Brahmā, com reverências e mãos postas.

VERSO 7: Vós sois o pai de todas as entidades vivas e a fonte de sua subsistência porque elas nascem de vós. Por favor, mostrai-nos como devemos fazer para prestar-vos serviço.

VERSO 8: Ó pessoa adorável, por favor, dai-nos vossa orientação para a execução do dever dentro de nossa capacidade de trabalho, para que possamos segui-lo a fim de obter fama nesta vida e progresso na próxima.

VERSO 9: O senhor Brahmā disse: Meu querido filho, ó senhor do mundo, estou muito satisfeito contigo, e desejo todas as bênçãos tanto para ti quanto para tua esposa. Tens te rendido a mim sem reservas, de todo o coração, seguindo minhas instruções.

VERSO 10: Ó herói, teu exemplo condiz inteiramente com a atitude de um filho na relação com seu pai. Essa espécie de adoração ao superior é necessária. Uma pessoa que está além do limite da inveja e que é lúcida aceita a ordem de seu pai com grande deleite e a executa com máximo empenho.

VERSO 11: Uma vez que és meu filho muito obediente, peço-te para gerar filhos qualificados como tu no ventre de tua esposa. Governa o mundo de acordo com os princípios do serviço devocional à Suprema Personalidade de Deus e, desse modo, adora o Senhor através das execuções de yajña.

VERSO 12: Ó rei, se puderes dar a devida proteção aos seres vivos no mundo material, este será o melhor serviço a mim. Quando o Senhor Supremo perceber que és um bom protetor das almas condicionadas, certamente o senhor dos sentidos ficará muito satisfeito contigo.

VERSO 13: A Suprema Personalidade de Deus, Janārdana [o Senhor Kṛṣṇa], é a forma para aceitar todos os resultados dos sacrifícios. Se Ele não é comprazido, então o esforço que alguém faça visando ao avanço é inútil. Ele é o Eu último, de modo que quem não O satisfaz certamente negligencia seus próprios interesses.

VERSO 14: Śrī Manu disse: Ó senhor todo-poderoso, ó matador de todos os pecados, hei de guiar-me por vossa ordem. Agora, por favor, deixai-me conhecer meu lugar e o das entidades vivas nascidas de mim.

VERSO 15: Ó mestre dos semideuses, por favor, tentai erguer a Terra, que está mergulhada na grande água, porque esse é o lugar de residência para todas as entidades vivas. Isso pode ser feito por vosso esforço e pela misericórdia do Senhor.

VERSO 16: Śrī Maitreya disse: Então, vendo a Terra mergulhada na água, Brahmā concentrou sua atenção por longo tempo em pensar como ela poderia ser erguida.

VERSO 17: Brahmā pensou: Enquanto tenho me ocupado no processo da criação, a Terra está sendo inundada por um dilúvio e tem descido às profundezas do oceano. O que nós, que estamos ocupados no assunto da criação, podemos fazer? É melhor deixar que o Senhor todo-poderoso nos oriente.

VERSO 18: Ó impecável Vidura, enquanto Brahmā pensava assim, subitamente uma pequena forma de javali surgiu de sua narina. A medida da criatura não era maior que a parte superior de um polegar.

VERSO 19: Ó descendente de Bharata, enquanto Brahmā O observava, aquele javali situou-Se no céu numa maravilhosa manifestação, tão gigantesca como um grande elefante.

VERSO 20: Maravilhado observando no céu aquela fantástica forma semelhante a um javali, Brahmā, acompanhado por grandes brāhmaṇas, como Marīci, bem como os Kumāras e Manu, colocou-se a indagar-se de várias maneiras.

VERSO 21: Acaso seria alguma entidade extraordinária que apareceu disfarçada de javali? Admira muito que Ele tenha surgido de meu nariz.

VERSO 22: Primeiramente, esse javali foi visto como não maior do que a ponta de um polegar, e, em um instante, ficou tão grande como uma rocha. Minha mente está perturbada. Será Ele a Suprema Personalidade de Deus, Viṣṇu?

VERSO 23: Enquanto Brahmā deliberava com seus filhos, a Suprema Personalidade de Deus, Viṣṇu, urrou tumultuosamente como uma grande montanha.

VERSO 24: A onipotente Suprema Personalidade de Deus vivificou Brahmā e os outros brāhmaṇas altamente elevados ao urrar novamente com Sua voz incomum, que ecoou em todas as direções.

VERSO 25: Quando os grandes sábios e pensadores que são habitantes de Janaloka, Tapoloka e Satyaloka ouviram a aterradora voz do Senhor Javali, que era o som todo-auspicioso do Senhor todo-misericordioso, eles cantaram auspiciosos cânticos dos três Vedas.

VERSO 26: Brincando como um elefante, Ele entrou na água após rugir novamente em resposta às orações védicas dos grandes devotos. O Senhor é o objeto das orações védicas, e assim Ele entendeu que as orações dos devotos se destinavam a Ele.

VERSO 27: Antes de entrar na água para resgatar a Terra, o Senhor Javali voou no céu, dando chicotadas com Sua cauda, Seus pelos duros arrepiando-se. Seu próprio olhar era luminoso, e Ele espalhou as nuvens no céu com Suas patas e Suas reluzentes presas brancas.

VERSO 28: Ele era o Supremo Senhor Viṣṇu em pessoa e, portanto, era transcendental. No entanto, porque tinha o corpo de um javali, procurou a Terra farejando. Suas presas eram medonhas, e Ele olhava para os devotos-brāhmaṇas ocupados em oferecer orações. Então, Ele entrou na água.

VERSO 29: Mergulhando na água como uma gigantesca montanha, o Senhor Javali dividiu o oceano ao meio, e duas altas ondas apareceram como os braços do oceano, que chorou alto, como se orasse ao Senhor: Ó Senhor de todos os sacrifícios, por favor, não me partais em dois! Por favor, dai-me proteção!

VERSO 30: O Senhor Javali penetrou na água com Suas patas, que eram como flechas afiadas, e atingiu os limites do oceano, embora este fosse ilimitado. Ele viu a Terra, o lugar de repouso para todos os seres vivos, deitada como estivera no início da criação, e Ele pessoalmente a ergueu.

VERSO 31: O Senhor Javali pegou muito facilmente a Terra com Suas presas e a levou para fora da água. Assim, Ele parecia muito esplêndido. Então, Sua ira cintilando como a roda Sudarśana, Ele imediatamente matou o demônio (Hiraṇyākṣa), embora este tentasse lutar contra o Senhor.

VERSO 32: Logo a seguir, o Senhor Javali matou o demônio dentro da água, assim como um leão mata um elefante. A face e a língua do Senhor ficaram untadas com o sangue do demônio, assim como um elefante fica avermelhado ao escavar a terra púrpura.

VERSO 33: Então, o Senhor, brincando tal qual um elefante, suspendeu a Terra na extremidade de Suas curvadas presas brancas. Ele assumiu uma coloração azulada como a da árvore tamāla, e, em virtude disso, os sábios encabeçados por Brahmā puderam compreender que Ele era a Suprema Personalidade de Deus, e ofereceram respeitosas reverências ao Senhor.

VERSO 34: Todos os sábios entoaram com grande respeito: Ó inconquistável desfrutador de todos os sacrifícios, todas as glórias e todas as vitórias a Vós! Estais Vos movendo sob Vossa forma dos Vedas personificados, e nos poros de Vosso corpo estão submersos os oceanos. Por certas razões [para erguer a Terra], agora assumistes a forma de um javali.

VERSO 35: Ó Senhor, Vossa forma é adorável através das realizações de sacrifícios, mas as almas que não passam de canalhas são incapazes de vê-la. Todos os hinos védicos, o Gāyatri e outros, estão no toque de Vossa pele. Nos pelos de Vosso corpo, encontra-se a grama kuśa, em Vossos olhos está a manteiga clarificada, e em Vossas quatro pernas estão os quatro tipos de atividades fruitivas.

VERSO 36: Ó Senhor, Vossa língua é um prato de sacrifício, Vossas narinas são outro prato de sacrifício, em Vossa barriga está o prato de refeição do sacrifício, e as cavidades de Vossos ouvidos são outro prato de sacrifício. Em Vossa boca, encontra-se o prato de sacrifício chamado Brahmā, Vossa garganta é o prato de sacrifício conhecido como soma, e qualquer coisa que mastigais é conhecida como agni-hotra.

VERSO 37: Além disso, ó Senhor, a repetição de Vosso aparecimento é o desejo de todos os tipos de iniciação. Vosso pescoço é o local para os três desejos, e Vossas presas são o resultado da iniciação e o fim de todos os desejos. As atividades que precedem a iniciação são Vossa língua, Vossa cabeça é o fogo sem sacrifício, bem como o fogo da adoração, e Vossas forças vitais são o agregado de todos os desejos.

VERSO 38: Ó Senhor, Vosso sêmen é o sacrifício chamado soma-yajña. As realizações ritualísticas da manhã são Vosso crescimento. Vossa pele e sensações táteis são os sete elementos do sacrifício agniṣṭoma. As juntas de Vosso corpo são símbolos de vários outros sacrifícios executados em doze dias. Portanto, Vós sois o objeto de todos os sacrifícios chamados soma e asoma, e Vós sois cativado unicamente através de yajña.

VERSO 39: Ó Senhor, Vós sois a Suprema Personalidade de Deus e sois adorável através de orações universais, hinos védicos e ingredientes sacrificatórios. Oferecemos nossas respeitosas reverências a Vós. Podeis ser compreendido pela mente pura e livre de toda a contaminação material, visível e invisível. Oferecemos nossas respeitosas reverências a Vós como o mestre espiritual supremo do conhecimento em serviço devocional.

VERSO 40: Ó levantador da Terra, a Terra com suas montanhas, a qual Vós erguestes com Vossas presas, está situada tão belamente como uma flor de lótus com folhas sustentadas por um elefante enfurecido que acaba de sair da água.

VERSO 41: Ó Senhor, assim como os picos de grandes montanhas tornam-se belos quando decorados de nuvens, Vosso corpo transcendental tornou-se belo por terdes erguido a Terra na extremidade de Vossas presas.

VERSO 42: Ó Senhor, para os propósitos residenciais de todos os habitantes, tanto móveis quanto imóveis, esta Terra é Vossa esposa, e Vós sois o pai supremo. Oferecemos nossas respeitosas reverências a Vós, e também à mãe Terra, em quem investistes Vossa própria potência, assim como um hábil executor de sacrifício ateia fogo à madeira araṇi.

VERSO 43: Quem mais além de Vós, a Suprema Personalidade de Deus, poderia libertar a Terra de dentro da água? No entanto, isso não é muito maravilhoso para Vós, porque Vós agistes mais maravilhosamente ainda na criação do universo. Através de Vossa energia, Vós criastes esta maravilhosa manifestação cósmica.

VERSO 44: Ó Senhor Supremo, sem dúvida nós somos habitantes dos planetas mais piedosos – os lokas Jana, Tapas e Satya –, mas, ainda assim, temos sido purificados pelas gotas de água que pingam dos pelos de Vossos ombros com o sacudir de Vosso corpo.

VERSO 45: Ó Senhor, não há limite para Vossas atividades maravilhosas. Qualquer pessoa que deseje conhecer o limite de Vossas atividades certamente é tola. Todos neste mundo são condicionados pelas poderosas potências místicas. Por favor, concedei Vossa misericórdia sem causa para estas almas condicionadas.

VERSO 46: O sábio Maitreya disse: O Senhor, sendo assim adorado por todos os grandes sábios e transcendentalistas, tocou a Terra com Suas patas e colocou-a sobre a água.

VERSO 47: Dessa maneira, a Personalidade de Deus, o Senhor Viṣṇu, o mantenedor de todas as entidades vivas, ergueu a Terra de dentro da água e, tendo-a colocado a flutuar na água, regressou à Sua própria morada.

VERSO 48: Se alguém ouve e descreve, numa atitude de serviço devocional, esta auspiciosa narração do Senhor Javali, que é digna de ser descrita, o Senhor, que está dentro do coração de todos, fica muito satisfeito.

VERSO 49: Nada permanece inalcançável para quem satisfaz a Suprema Personalidade de Deus. Através da conquista transcendental, compreende-se que tudo o mais é insignificante. Aquele que se ocupa em transcendental serviço amoroso é elevado ao estágio perfectivo máximo pelo próprio Senhor, que está sentado no coração de todos.

VERSO 50: Quem, além daquele que não é um ser humano, poderia existir neste mundo e não se interessar pela meta última da vida? Quem poderia recusar o néctar das narrações sobre as atividades da Personalidade de Deus, que por si só podem livrar-nos de todas as dores materiais?

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