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CAPÍTULO OITO

O Senhor Nṛsiṁhadeva Mata o Rei dos Demônios

Descreve-se neste capítulo que Hiraṇyakaśipu estava disposto a matar seu próprio filho Prahlāda Mahārāja, mas, aparecendo diante do demônio como Śrī Nṛkeśarī, metade leão e metade homem, a Suprema Personalidade de Deus o matou.

Seguindo as instruções de Prahlāda Mahārāja, todos os filhos dos demônios se apegaram ao Senhor Viṣṇu, a Suprema Personalidade de Deus. Quando esse apego se intensificou, seus professores, Ṣaṇḍa e Amarka, ficaram muito temerosos com a possibilidade de que os meninos se tornassem cada vez mais devotados ao Senhor. Em desespero, aproximaram-se de Hiraṇyakaśipu e descreveram em pormenores o efeito da pregação de Prahlāda. Após ouvir isso, Hiraṇyakaśipu decidiu matar seu filho Prahlāda. Hiraṇyakaśipu estava tão irado que, embora Prahlāda Mahārāja tivesse caído a seus pés e dissesse muitas palavras apenas para apaziguá-lo, não conseguiu satisfazer seu pai demoníaco. Hiraṇyakaśipu, tal qual um típico demônio, passou a apregoar que era maior do que a Suprema Personalidade de Deus, mas Prahlāda Mahārāja o desafiou dizendo que Hiraṇyakaśipu não era Deus e começou a glorificar a Suprema Personalidade de Deus, declarando que o Senhor é onipenetrante, que tudo está sob o controle dEle e que ninguém é igual a Ele, tampouco maior do que Ele. Assim, pediu que seu pai se tornasse submisso ao onipotente Senhor Supremo.

Quanto mais Prahlāda Mahārāja glorificava a Suprema Personalidade de Deus, mais irado e agitado ficava o demônio. Hiraṇyakaśipu perguntou a seu filho vaiṣṇava se Deus existia dentro das colunas do palácio, e Prahlāda Mahārāja imediatamente respondeu que, como está presente em toda parte, o Senhor também Se encontrava dentro das colunas. Ao ouvir seu jovem filho falar essa filosofia, Hiraṇyakaśipu zombou da afirmação do menino, tomando-a como mera conversa de criança e, com seu punho, deu um forte golpe no pilar.

Logo que Hiraṇyakaśipu golpeou a coluna, produziu-se um som estrondoso. Primeiramente, Hiraṇyakaśipu, o rei dos demônios, conseguiu ver apenas o pilar, mas, para confirmar as afirmações de Prahlāda, o Senhor surgiu do pilar como a maravilhosa encarnação de Narasiṁha, metade leão e metade homem. Hiraṇyakaśipu entendeu de imediato que a extraordinária e maravilhosa forma do Senhor decerto significava a sua morte e, então, preparou-se para lutar com a forma que era metade leão, metade homem. O Senhor realizou este Seu passatempo lutando um pouco com o demônio, e, à tardinha, logo antes de a noite cair, o Senhor agarrou o demônio, colocou-o sobre o colo e o matou, rasgando-lhe o abdômen com as unhas. O Senhor não matou apenas Hiraṇyakaśipu, o rei dos demônios, mas também matou muitos seguidores deste. Quando não restava ninguém com quem lutar, o Senhor, rugindo com muita ira, sentou-Se no trono de Hiraṇyakaśipu.

Com isso, todo o universo ficou livre do governo de Hiraṇyakaśipu, e todos sentiram o júbilo da bem-aventurança transcendental. Depois, todos os semideuses, encabeçados pelo senhor Brahmā, aproximaram-se do Senhor. Entre eles, encontravam-se grandes pessoas santas, os Pitās, os Siddhas, os Vidyādharas, as Nāgas, os Manus, os prajāpatis, os Gandharvas, os Cāraṇas, os Yakṣas, os Kimpuruṣas, os Vaitālikas, os Kinnaras e também muitas outras variedades de seres com forma humana. Colocados a uma pequena distância da Suprema Personalidade de Deus, eles começaram a oferecer suas orações ao Senhor, cuja refulgência espiritual encantava todos que O viam sentado no trono.

VERSO 1: Nārada Muni prosseguiu: Todos os filhos dos demônios apreciaram as instruções transcendentais de Prahlāda Mahārāja e as levaram muito a sério. Eles rejeitaram as instruções materialistas dadas por seus professores, Ṣaṇḍa e Amarka.

VERSO 2: Ao observarem que todos os estudantes, os filhos dos demônios, estavam se tornando avançados em consciência de Kṛṣṇa devido à associação com Prahlāda Mahārāja, Ṣaṇḍa e Amarka, os filhos de Śukrācārya, ficaram com medo. Aproximaram-se do rei dos demônios e descreveram a verdadeira situação.  

VERSOS 3-4: Ao se inteirar da situação, Hiraṇyakaśipu ficou tão extremamente irado que seu corpo tremia. Foi então que ele decidiu matar o seu filho Prahlāda. Por natureza, Hiraṇyakaśipu era muito cruel e, sentindo-se insultado, começou a sibilar como uma serpente pisada. Seu filho Prahlāda era pacífico, meigo e cortês, e tinha seus sentidos sob controle. De mãos postas, permanecia diante de Hiraṇyakaśipu. Considerando a idade e o comportamento de Prahlāda, ele não deveria ser castigado. Porém, fixando nele um olhar penetrante e perverso, Hiraṇyakaśipu o censurou com as seguintes palavras ásperas.

VERSO 5: Hiraṇyakaśipu disse: Ó pessoa das mais insolentes, és um ininteligentíssimo destruidor da família, e, sendo o mais baixo da humanidade, violaste meu poder de governar-te e, portanto, és um tolo obstinado. Hoje te enviarei para a residência de Yamarāja.

VERSO 6: Meu filho Prahlāda, és um patife. Sabes muito bem que, quando estou irado, todos os planetas dos três mundos estremecem juntamente com seus principais governantes. Quem te deu poder, ó insolente, para te tornares tão atrevido a ponto de não ficares com medo de desafiar a minha autoridade em governar-te?

VERSO 7: Prahlāda Mahārāja disse: Meu querido rei, a fonte de minha força, sobre a qual estás indagando, também é a fonte da tua. Na verdade, a fonte que origina todas as espécies de forças é única. Ele não é apenas a tua e a minha força, mas a única força de todos. Sem Ele, ninguém pode obter força alguma. Móveis ou inertes, superiores ou inferiores, todos, incluindo o senhor Brahmā, são controlados pela força da Suprema Personalidade de Deus.

VERSO 8: A Suprema Personalidade de Deus, que é o controlador supremo e o fator tempo, é o poder dos sentidos, o poder da mente, o poder do corpo e a força vital dos sentidos. Sua influência é ilimitada. Ele é a melhor de todas as entidades vivas, o controlador dos três modos da natureza material. Mediante Seu poder pessoal, Ele cria, mantém e, por fim, aniquila esta manifestação cósmica.

VERSO 9: Prahlāda Mahārāja continuou: Meu querido pai, por favor, abandona tua mentalidade demoníaca. Em teu coração, não discrimines entre amigos e inimigos; procura ter uma mente equânime com todos. A não ser a mente descontrolada e desencaminhada, não existe inimigo algum neste mundo. Quando uma pessoa vê todos na plataforma de igualdade, ela consegue adorar o Senhor perfeitamente.

VERSO 10: Houve outrora muitos tolos que, exatamente como tua pessoa, não derrotaram os seis inimigos que consomem a riqueza do corpo. Esses tolos pensavam com muito orgulho: “Venci todos os inimigos em todas as dez direções.” Contudo, se alguém vence os seis inimigos e é equânime com todas as entidades vivas, não existem inimigos para ele. Os inimigos são meras imaginações da pessoa que está em ignorância.

VERSO 11: Hiraṇyakaśipu respondeu: És um patife. Estás tentando minimizar meu valor, como se fosses capaz de me superar no controle dos sentidos. Consideras-te inteligente por demais. Portanto, posso facilmente entender que desejas morrer em minhas mãos, pois só se dão a esse tipo de conversa sem sentido aqueles que estão prestes a morrer.

VERSO 12: Ó desafortunadíssimo Prahlāda, sempre descreveste um ser supremo diferente de mim, um ser supremo que está acima de tudo, que é o controlador de todos e que é onipenetrante. Mas onde Ele está? Se Ele está em toda parte, por que Ele não está presente diante de mim neste pilar?

VERSO 13: Porque falas tanta tolice, agora mesmo separarei de teu corpo a tua cabeça. Veremos, então, se teu adorável Senhor virá proteger-te. Faço questão de ver isso.

VERSO 14: Estando obcecado pela ira, Hiraṇyakaśipu, que possuía muitíssima força física, fez uso de palavras ásperas para repreender seu excelente filho, o devoto Prahlāda. Amaldiçoando-o repetidas vezes, Hiraṇyakaśipu pegou de sua espada, levantou-se do seu trono real e, com muita ira, golpeou a coluna com seu punho.

VERSO 15: Então, de dentro do pilar, eclodiu um som horripilante, que parecia rachar a cobertura do universo. Ó meu querido Yudhiṣṭhira, esse som alcançou até mesmo as moradas dos semideuses, tais como o senhor Brahmā, e, ao ouvirem-no, eles pensaram: “Oh! Nossos planetas estão sendo destruídos!”

VERSO 16: Enquanto mostrava seu poder extraordinário, Hiraṇyakaśipu, que desejava matar seu próprio filho, ouviu aquele som magnífico e estrondoso, nunca antes ouvido por alguém. Ao escutarem o som, os outros líderes dos demônios ficaram com medo. Nenhum deles pôde localizar em que setor da assembleia teria surgido aquele som.

VERSO 17: Para provar que a afirmação de Seu servo Prahlāda Mahārāja tinha fundamento – em outras palavras, para provar que o Senhor Supremo está em toda parte, mesmo dentro do pilar de um salão de assembleia –, Hari, a Suprema Personalidade de Deus, manifestou uma forma maravilhosa nunca antes vista. A forma não era nem de homem nem de leão. Assim, no salão da assembleia, o Senhor apareceu em Sua forma maravilhosa.

VERSO 18: Enquanto Hiraṇyakaśipu olhava aos arredores tentando identificar a fonte do som, essa maravilhosa forma do Senhor, que não podia ser definida nem como homem nem como leão, emergiu do pilar. Estupefato, Hiraṇyakaśipu se colocou a imaginar: “Que criatura é esta, metade homem e metade leão?”

VERSOS 19-22: Hiraṇyakaśipu estudou a forma do Senhor, tentando determinar o que seria a forma de Nṛsiṁhadeva que agora Se encontrava em sua frente. A forma do Senhor era extremamente aterradora devido a Seus olhos irados, que pareciam ouro derretido; devido à Sua juba reluzente, a expandir as dimensões de Seu rosto amedrontador, e por seus dentes mortais e Sua língua afiada como uma navalha, que se movia como uma espada em um duelo. Suas orelhas estavam eretas e imóveis, e Suas narinas e Sua boca escancarada lembravam as cavernas de uma montanha. Suas mandíbulas se moviam assustadoramente, e Seu corpo era da altura do céu. Seu pescoço era muito curto e grosso, Seu peito era amplo, Sua cintura era delgada, e os pelos de Seu corpo eram tão brancos como os raios da Lua. Seus braços, que pareciam fileiras de soldados, espalhavam-se em todas as direções, à medida que, com Seu búzio, disco, maça, lótus e outras armas naturais, Ele matava os demônios, os impostores e os ateístas.

VERSO 23: Hiraṇyakaśipu murmurou consigo mesmo: “O Senhor Viṣṇu, que possui muito poder místico, traçou este plano para me matar, mas que utilidade há nisso? Quem pode lutar contra mim?” De posse desse pensamento e apanhando sua maça, Hiraṇyakaśipu, tal qual um elefante, investiu contra o Senhor.

VERSO 24: Assim como um pequeno inseto cai forçosamente no fogo e essa criatura insignificante se torna invisível, Hiraṇyakaśipu se tornou invisível ao atacar o Senhor, que era pleno de refulgência. Isso não é espantoso de modo algum, pois o Senhor sempre está situado em bondade pura. Outrora, durante a criação, Ele entrou no universo escuro e o iluminou com Seu fulgor espiritual.

VERSO 25: Depois disso, o grande demônio Hiraṇyakaśipu, muitíssimo irado, atacou rapidamente Nṛsiṁhadeva, começando a golpeá-lO com sua maça. O Senhor Nṛsiṁhadeva, entretanto, capturou o grande demônio, juntamente com sua maça, assim como Garuḍa captura uma enorme serpente.

VERSO 26: Ó Yudhiṣṭhira, ó grande filho de Bharata, quando o Senhor Nṛsṁhadeva deu a Hiraṇyakaśipu uma oportunidade de fugir de Suas mãos, assim como Garuḍa, às vezes, brinca com uma serpente e a deixa escapar de sua boca, os semideuses, que haviam perdido suas moradas e se escondiam atrás das nuvens com medo do demônio, não consideraram muito bom aquele incidente. Na verdade, eles se perturbaram.

VERSO 27: Ao se livrar das mãos de Nṛsiṁhadeva, Hiraṇyakaśipu pensou que o Senhor temia o seu poder. Portanto, após um pequeno descanso, ele pegou de sua espada e escudo e, com muito ímpeto, novamente arremeteu contra o Senhor.

VERSO 28: Enquanto ria alto e de maneira estridente, a Suprema Personalidade de Deus, Nārāyaṇa, que é extremamente forte e poderoso, agarrou Hiraṇyakaśipu, que se protegia com sua espada e escudo, não apresentando pontos vulneráveis. Com a velocidade de um falcão, Hiraṇyakaśipu se movia ora no céu, ora na terra, mantendo os olhos fechados devido ao medo que a risada de Nṛsiṁhadeva lhe causava.

VERSO 29: Assim como uma serpente captura um rato ou Garuḍa captura uma serpente muito venenosa, o Senhor Nṛsiṁhadeva capturou Hiraṇyakaśipu, que não podia ser trespassado nem mesmo pelo raio do rei Indra. À medida que Hiraṇyakaśipu, sentindo-se muito aflito com o fato de ter sido capturado, movia seus membros de um lado a outro e em todas as direções, o Senhor Nṛsiṁhadeva colocou o demônio em Seu colo, apoiando-o em Suas coxas, e, na entrada do salão da assembleia, o Senhor, com as unhas de Sua mão, dilacerou o demônio com grande facilidade.

VERSO 30: A boca e a juba do Senhor Nṛsiṁhadeva ficaram salpicadas de sangue, e era impossível alguém conseguir fitar Seus olhos ferozes e cheios de ira. Lambendo os lados de Sua boca com Sua língua, a Suprema Personalidade de Deus, Nṛsiṁhadeva, que estava decorado com uma guirlanda do intestino arrancado do abdômen de Hiraṇyakaśipu, parecia um leão que acaba de matar um elefante.

VERSO 31: A Suprema Personalidade de Deus, que tinha muitos e muitos braços, primeiramente arrancou o coração de Hiraṇyakaśipu, após o que o jogou de lado. Então, partiu em direção aos soldados do demônio. Esses soldados, que, com suas armas em riste, tinham vindo aos milhares para combater o Senhor Nṛsiṁhadeva, eram fiéis seguidores de Hiraṇyakaśipu, mas o Senhor matou todos eles meramente com as pontas de Suas unhas.

VERSO 32: O pelo sobre a cabeça de Nṛsiṁhadeva açoitava as nuvens e as espalhava por todos os lados, Seus olhos brilhantes suplantavam a refulgência dos luzeiros no céu, e Sua respiração agitava os mares e oceanos. Por causa de Seu rugido, todos os elefantes do mundo começaram a chorar de medo.

VERSO 33: O pelo da cabeça de Nṛsiṁhadeva lançou aeroplanos ao espaço sideral e ao sistema planetário superior. Devido à pressão dos pés de lótus do Senhor, a Terra pareceu sair de sua posição, e todas as colinas e montanhas se curvaram ao peso de Sua força intolerável. Em virtude da refulgência corpórea do Senhor, o céu e todas as direções reduziram sua iluminação natural.

VERSO 34: Manifestando uma refulgência notável e um semblante aterrador, o Senhor Nṛsiṁha, estando muito irado e não encontrando nenhum rival capaz de enfrentar Seu poder e opulência, ali mesmo, no salão da assembleia, sentou-Se no excelente trono do rei. Devido ao medo e ao respeito, ninguém ousou apresentar-se para servir ao Senhor diretamente.

VERSO 35: Hiraṇyakaśipu havia sido exatamente como uma febre de meningite na cabeça dos três mundos. Portanto, quando, nos planetas celestiais, as esposas dos semideuses viram que o grande demônio fora morto pelas próprias mãos da Suprema Personalidade de Deus, seus rostos desabrocharam em grande júbilo. As esposas dos semideuses não se cansavam de derramar chuvas de flores sobre o Senhor Nṛsiṁhadeva.

VERSO 36: Naquele momento, os aeroplanos dos semideuses, que desejavam ver as atividades de Nārāyaṇa, o Senhor Supremo, encheram o céu. Os semideuses começaram a bater tambores e timbales, e, ao ouvi-los, as mulheres angélicas se puseram a dançar, enquanto os principais Gandharvas cantavam docemente.

VERSOS 37-39: Meu querido rei Yudhiṣṭhira, os semideuses se aproximaram, então, do Senhor. Encabeçados pelo senhor Brahmā, pelo rei Indra e pelo senhor Śiva, entre eles estavam grandes pessoas santas e os habitantes de Pitṛloka, de Siddhaloka, de Vidyādhara-loka e do planeta das serpentes. Os Manus se aproximaram, e a mesma atitude foi tomada pelos líderes de vários outros planetas. As dançarinas angélicas se colocaram ao Seu redor, bem como os Gandharvas, os Cāraṇas, os Yakṣas, os habitantes de Kinnaraloka, os Vetālas, os habitantes de Kimpuruṣa-loka e os servos pessoais de Viṣṇu, tais como Sunanda e Kumuda. Todos iam se achegando ao Senhor, de quem emanava um brilho intenso. De mãos postas diante de seus rostos, ofereceram-Lhe individualmente suas reverências e orações.

VERSO 40: O senhor Brahmā orou: Meu Senhor, sois ilimitado e possuís potências intermináveis. Ninguém pode calcular ou estimar Vosso poder e Vossa influência maravilhosa, pois as ações que praticais nunca são contaminadas pela energia material. Através das qualidades materiais, criais, mantendes e aniquilais muito facilmente o universo, apesar do que permaneceis imutável e sem deterioração. Portanto, ofereço-Vos minhas respeitosas reverências.

VERSO 41: O senhor Śiva disse: O fim do milênio é a ocasião para manifestardes Vossa ira. Agora que foi morto esse demônio insignificante, Hiraṇyakaśipu, ó meu Senhor, que sois naturalmente afetuoso com Vosso devoto, por favor, protegei seu filho Prahlāda Mahārāja, que está postado perto de Vós, tal qual um devoto plenamente rendido a Vós.

VERSO 42: O rei Indra disse: Ó Senhor Supremo, sois nosso libertador e protetor. As partilhas de sacrifício a que tínhamos direito, as quais na verdade eram Vossas, mas que o demônio extorquiu de nós, conseguistes recuperá-las. Porque o rei demoníaco, Hiraṇyakaśipu, era muito aterrorizante, todos os nossos corações, que são Vossa morada permanente, foram por ele devastados. Agora, com Vossa presença, a melancolia e a escuridão de nossos corações se dissiparam. Ó Senhor, para aqueles que estão sempre ocupados em Vosso serviço, que é mais sublime do que a liberação, toda a opulência material é insignificante. Se eles nem mesmo se importam com a liberação, o que dizer, então, de se interessarem nos benefícios obtidos através de kāma, artha e dharma?

VERSO 43: Todas as pessoas santas ali presentes ofereceram suas orações com as seguintes palavras: Ó Senhor, ó mantenedor supremo dos que se refugiaram em Vossos pés de lótus, ó original Personalidade de Deus, o processo de austeridade e penitência, no qual nos instruístes antes, é o poder espiritual do Vosso próprio eu. É através da austeridade que criais o mundo material, que repousa adormecido dentro de Vós. Essa austeridade esteve a ponto de ser interrompida pelas atividades desse demônio, mas agora, graças ao Vosso aparecimento sob a forma de Nṛsiṁhadeva, destinada a simplesmente nos proteger, e com a morte desse demônio, novamente aprovastes o processo de austeridade.

VERSO 44: Os habitantes de Pitṛloka oraram: Ofereçamos nossas respeitosas reverências ao Senhor Nṛsiṁhadeva, o mantenedor dos princípios religiosos do universo. Ele matou Hiraṇyakaśipu, o demônio que, à força, desfrutou de todas as oferendas das cerimônias śrāddha realizadas por nossos filhos e netos por ocasião dos aniversários de nossa morte e que bebeu a água na qual foram mergulhadas sementes de sésamo e oferecida nos lugares sagrados de peregrinação. Matando esse demônio, ó Senhor, arrancastes toda a propriedade acumulada em seu abdômen, trespassando-o com Vossas unhas. Portanto, desejamos oferecer-Vos nossas respeitosas reverências.

VERSO 45: Os habitantes de Siddhaloka oraram: Ó Senhor Nṛsiṁhadeva, como pertencemos a Siddhaloka, naturalmente alcançamos a perfeição em todas as oito espécies de poder místico. Entretanto, Hiraṇyakaśipu era tão desonesto que, à força de seu poder e austeridades, arrebatou nossos poderes. Em decorrência disso, tornou-se muito orgulhoso de sua força mística. Agora, porque esse impostor foi morto por Vossas unhas, nós Vos oferecemos nossas respeitosas reverências.

VERSO 46: Os habitantes de Vidyādhara-loka oraram: Devido ao fato de que sentia muito orgulho de sua força física superior e era muito hábil em derrotar os outros, esse tolo Hiraṇyakaśipu aboliu o poder que havíamos adquirido e que, de acordo com muitas variedades de meditação a que recorríamos, dava-nos a oportunidade de manifestarmos várias espécies de aparecimento e desaparecimento. Agora, a Suprema Personalidade de Deus matou o demônio exatamente como se este fosse um animal. A essa suprema forma de passatempo do Senhor Nṛsiṁhadeva, nós eternamente oferecemos nossas respeitosas reverências.

VERSO 47: Os habitantes de Nāgaloka disseram: O pecaminosíssimo Hiraṇyakaśipu roubou todas as joias de nossos capelos e todas as nossas belas esposas. Agora que seu peito foi dilacerado por Vossas unhas, sois uma fonte de prazer para nossas esposas. Portanto, nós Vos oferecemos nossas respeitosas reverências.

VERSO 48: Todos os Manus ofereceram suas orações da seguinte maneira: Como Vossos mensageiros, ó Senhor, nós, os Manus, somos os legisladores da sociedade humana, mas, devido à supremacia temporária deste grande demônio, Hiraṇyakaśipu, nossas leis de manutenção do varṇāśrama-dharma foram revogadas. Ó Senhor, agora que matastes esse grande demônio, reassumimos nossa condição normal. Por favor, determinai o que deverão fazer agora estes Vossos servos eternos.

VERSO 49: Os prajāpatis ofereceram as seguintes orações: Ó Senhor Supremo, Senhor inclusive de Brahmā e Śiva, nós, os prajāpatis, fomos criados por Vós para executarmos Vossas ordens, mas fomos proibidos por Hiraṇyakaśipu de continuarmos criando boas progênies. Agora, o demônio jaz morto diante de nós, com o peito retalhado por Vós. Portanto, deixai-nos oferecer nossas respeitosas reverências a Vós, cuja encarnação sob esta forma de bondade pura se destina ao bem-estar de todo o universo.

VERSO 50: Os habitantes de Gandharvaloka oraram: Ó onipotência, sempre nos ocupamos em Vosso serviço, dançando e cantando em atuações dramáticas, mas esse Hiraṇyakaśipu, pela influência de sua força física e bravura, manteve-nos sob seu jugo. Agora, porém, Vossa Onipotência lhe impôs essa condição inferior. Que benefício pode resultar das atividades desse arrogante Hiraṇyakaśipu?

VERSO 51: Os habitantes do planeta Cāraṇa disseram: Ó Senhor, visto que destruístes o demônio Hiraṇyakaśipu, que sempre foi um espinho no coração de todos os homens honestos, sentimo-nos aliviados agora, e eternamente nos refugiamos em Vossos pés de lótus, que outorgam à alma condicionada o poder de se libertar da contaminação material.

VERSO 52: Os habitantes de Yakṣaloka oraram: Ó controlador dos vinte e quatro elementos, somos considerados os melhores servos de Vossa Onipotência, pois prestamos serviços que Vos satisfazem, apesar do que, por ordem de Hiraṇyakaśipu, o filho de Diti, fomos ocupados como carregadores de palanquim. Ó Senhor Nṛsiṁhadeva, sabeis como esse demônio causou problemas a todos, mas, agora, Vós o matastes, e seu corpo está se decompondo nos cinco elementos materiais.

VERSO 53: Os habitantes de Kimpuruṣa-loka disseram: Somos entidades vivas insignificantes, mas sois a Suprema Personalidade de Deus, o controlador supremo. Portanto, como Vos podemos oferecer orações adequadas? Visto que este demônio foi condenado pelos devotos que estavam desgostosos com ele, decidistes, então, matá-lo.

VERSO 54: Os habitantes de Vaitālika-loka disseram: Querido Senhor, devido ao fato de que, em monumentais assembleias e arenas de sacrifício, vivíamos cantando Vossas glórias imaculadas, estávamos acostumados a receber grande respeito da parte de todos. Esse demônio, entretanto, usurpou essa posição. Agora, para nossa imensa fortuna, matastes esse grande demônio, exatamente como uma pessoa que cura uma doença crônica.

VERSO 55: Os Kinnaras disseram: Ó controlador supremo, somos servos eternos de Vossa Onipotência, mas, em vez de Vos prestar serviço, esse demônio nos ocupou em servi-lo constantemente e sem remuneração. Agora, matastes esse homem pecaminoso. Portanto, ó Senhor Nṛsiṁhadeva, nosso mestre, oferecemos-Vos nossas respeitosas reverências. Por favor, continuai nosso amo.

VERSO 56: Os associados do Senhor Viṣṇu em Vaikuṇṭha ofereceram esta oração: Ó Senhor, nosso refúgio supremo, vimos hoje Vossa maravilhosa forma de Nṛsiṁhadeva, destinada à boa fortuna do mundo inteiro. Ó Senhor, sabemos que Hiraṇyakaśipu era o mesmo Jaya que Vos prestava serviço, mas foi amaldiçoado pelos brāhmaṇas e, então, recebeu um corpo de demônio. Compreendemos que o fato de ele ter sido morto agora demonstra Vossa misericórdia especial para com ele.

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