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Capítulo Nove

A Árvore-dos-Desejos do Serviço Devocional

Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura, em seu Amṛta-pravāha-bhāṣya, dá o seguinte resumo do capítulo nove. Neste capítulo, o autor do Caitanya-caritāmṛta idealizou um exemplo figurado ao descrever a “planta de bhakti. Ele considera o Senhor Caitanya Mahāprabhu, que é conhecido como Viśvambhara, como sendo o jardineiro dessa planta, pois Ele é a principal personalidade que Se encarregou dela. Sendo o desfrutador supremo, Ele próprio desfrutava das flores bem como as distribuía. Primeiro, plantou-se a semente da planta em Navadvīpa, a terra natal do Senhor Caitanya Mahāprabhu, e logo a planta foi levada para Puruṣottama-kṣetra (Jagannātha Purī) e, em seguida, para Vṛndāvana. A semente frutificou primeiro em Śrīla Mādhavendra Purī e, então, em seu discípulo Śrī Īśvara Purī. Descreve-se metaforicamente que tanto a própria árvore quanto o tronco da árvore são Śrī Caitanya Mahāprabhu. Os devotos, encabeçados por Paramānanda Purī e outros oito grandes sannyāsīs, são como as raízes difundidas pela árvore. A partir do principal tronco, estendem-se dois galhos especiais, Advaita Prabhu e Śrī Nityānanda Prabhu, e, desses galhos, crescem outros galhos ou ramos. A árvore envolve o mundo inteiro, e as flores dela são para distribuição a todos. Dessa maneira, a árvore do Senhor Caitanya Mahāprabhu intoxica o mundo inteiro. Observe-se que esse é um exemplo figurado feito para explicar a missão do Senhor Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 1: Ofereço minhas respeitosas reverências ao mestre espiritual, do mundo inteiro, o Senhor Śrī Kṛṣṇa Caitanya Mahāprabhu, por cuja misericórdia mesmo um cão pode cruzar a nado um grande oceano.

VERSO 2: Todas as glórias a Śrī Kṛṣṇa Caitanya, que é conhecido como Gaurahari! Todas as glórias a Advaita e a Nityānanda Prabhu!

VERSO 3: Todas as glórias aos devotos do Senhor Caitanya, liderados por Śrīvāsa Ṭhākura! A fim de satisfazer todos os meus desejos, lembro-me de seus pés de lótus.

VERSO 4: Lembro-me também dos seis Gosvāmīs – Rūpa, Sanātana, Bhaṭṭa Raghunātha, Śrī Jīva, Gopāla Bhaṭṭa e Dāsa Raghunātha.

VERSO 5: Pela misericórdia de todos esses vaiṣṇavas e gurus é que tento escrever sobre os passatempos e as qualidades do Senhor Caitanya Mahāprabhu. Quer eu saiba ou não, escrevo este livro para autopurificação.

VERSO 6: Refugio-me na Suprema Personalidade de Deus, Śrī Caitanya Mahāprabhu, que é a própria árvore do transcendental amor a Kṛṣṇa, seu jardineiro e também o outorgador e desfrutador de seus frutos.

VERSO 7: O Senhor Caitanya pensou: “Meu nome é Viśvambhara, ‘aquele que mantém todo o universo’. O significado desse nome tornar-se-á realidade se Eu puder encher todo o universo com amor a Deus.”

VERSO 8: Pensando dessa maneira, Ele aceitou o dever de um lavrador e começou a cultivar um jardim em Navadvīpa.

VERSO 9: Assim, o Senhor trouxe a árvore-dos-desejos do serviço devocional a esta Terra e tornou-Se seu jardineiro. Ele plantou a semente e borrifou-a com a água de Seu desejo.

VERSO 10: Todas as glórias a Śrī Mādhavendra Purī, o reservatório de todo o serviço devocional a Kṛṣṇa! Ele é como uma árvore-dos-desejos do serviço devocional, e foi nele que a semente do serviço devocional frutificou primeiro.

VERSO 11: A semente do serviço devocional, a seguir, frutificou sob a forma de Śrī Īśvara Purī, após o que o próprio jardineiro, Caitanya Mahāprabhu, tornou-Se o principal tronco da árvore do serviço devocional.

VERSO 12: Através de Seus poderes inconcebíveis, o Senhor tornou-Se o jardineiro, o tronco e os galhos simultaneamente.

VERSOS 13-15: Paramānanda Purī, Keśava Bhāratī, Brahmānanda Purī e Brahmānanda Bhāratī, Śrī Viṣṇu Purī, Keśava Purī, Kṛṣṇānanda Purī, Śrī Nṛsiṁha Tīrtha e Sukhānanda Purī – todas essas nove raízes de sannyāsīs brotaram do tronco da árvore. Assim, a árvore ergueu-se firmemente reforçada por essas nove raízes.

VERSO 16: Com o sóbrio e grave Paramānanda Purī como a raiz central e as outras oito raízes nas oito direções, a árvore de Caitanya Mahāprabhu ergueu-se firmemente.

VERSO 17: Do tronco, cresceram muitos galhos e, acima deles, inúmeros outros.

VERSO 18: Assim, os galhos da árvore de Caitanya formaram um grupo, ou sociedade, com grandes galhos cobrindo todo o universo.

VERSO 19: De cada galho, cresceram muitas centenas de galhos secundários. Ninguém pode contar quantos galhos cresceram dessa maneira.

VERSO 20: Tentarei descrever os principais entre os inúmeros galhos. Por favor, ouvi a descrição da árvore de Caitanya.

VERSO 21: No topo da árvore, o tronco ramificou-se em dois. Um tronco foi denominado Śrī Advaita Prabhu, e o outro, Śrī Nityānanda Prabhu.

VERSO 22: Desses dois troncos, cresceram muitos galhos, e galhos secundários, que cobriram o mundo inteiro.

VERSO 23: Esses galhos e galhos secundários e os galhos destes tornaram-se tão numerosos que, na verdade, ninguém pode descrevê-los.

VERSO 24: Assim, os discípulos e os discípulos dos discípulos e seus admiradores espalharam-se pelo mundo inteiro, sendo impossível enumerá-los a todos.

VERSO 25: Assim como uma grande figueira ostenta frutos por toda a sua copa, da mesma forma, cada parte da árvore do serviço devocional ostentava frutos.

VERSO 26: Uma vez que Śrī Caitanya Mahāprabhu era o tronco original, o sabor dos frutos que cresciam nos galhos e galhos secundários superava o sabor do néctar.

VERSO 27: Os frutos amadureciam e tornavam-se doces e nectáreos. O jardineiro, Śrī Caitanya Mahāprabhu, distribuía-os sem exigir qualquer pagamento.

VERSO 28: Toda a riqueza nos três mundos não pode igualar-se ao valor de um desses frutos nectáreos do serviço devocional.

VERSO 29: Não levando em consideração quem o pedia ou quem não o pedia, nem quem era digno ou quem não era digno de recebê-lo, Caitanya Mahāprabhu distribuía o fruto do serviço devocional.

VERSO 30: O jardineiro transcendental, Śrī Caitanya Mahāprabhu, distribuía, às mãos cheias, os frutos em todas as direções, e, quando as pobres pessoas famintas comiam os frutos, o jardineiro sorria com muito prazer.

VERSO 31: Assim, o Senhor Caitanya disse às variedades múltiplas de galhos e galhos secundários da árvore do serviço devocional:

VERSO 32: “Uma vez que a árvore do serviço devocional é transcendental, cada uma de suas partes pode executar a ação de todas as demais. Muito embora uma árvore seja supostamente imóvel, esta árvore se move.”

VERSO 33: “Todas as partes desta árvore são espiritualmente conscientes. E assim, à medida que crescem, espalham-se por todo o mundo.”

VERSO 34: “Eu sou o único jardineiro. A quantos locais posso ir? Quantos frutos posso colher e distribuir?”

VERSO 35: “Com certeza, seria uma tarefa muito trabalhosa: colher os frutos e distribuí-los sozinho, e, ainda assim, Eu suspeito que alguns os receberiam e outros não.”

VERSO 36: “Portanto, ordeno a todo homem dentro deste universo que aceite este movimento para a consciência de Kṛṣṇa e difunda-o em toda parte.”

VERSO 37: “Sou o único jardineiro. Se Eu não distribuir estes frutos, que farei com eles? Quantos frutos posso comer sozinho?”

VERSO 38: “O desejo transcendental da Suprema Personalidade de Deus borrifou com água toda a árvore, e, assim, ela exibe inúmeros frutos de amor a Deus.”

VERSO 39: “Que este movimento para a consciência de Kṛṣṇa seja propagado em todo o mundo! Que as pessoas comam destes frutos e finalmente se libertem da velhice e da morte!”

VERSO 40: “Se os frutos forem distribuídos em todo o mundo, Minha reputação como homem piedoso será reconhecida em toda parte, e, assim, todas as pessoas glorificarão Meu nome com muito prazer.”

VERSO 41: “Todo aquele que tenha nascido como ser humano na terra da Índia [Bhārata-varṣa] deve tornar sua vida bem-sucedida e trabalhar para o benefício de todas as outras pessoas.”

VERSO 42: “‘É dever de todo ser vivo realizar atividades beneficentes em favor dos outros, dedicando sua vida, sua riqueza, sua inteligência e suas palavras.’”

VERSO 43: “‘Com seu trabalho, pensamentos e palavras, o homem inteligente deve realizar ações que sejam benéficas para todas as entidades vivas, nesta vida e na próxima.’”

VERSO 44: “Sou um mero jardineiro. Não tenho qualquer reino nem imensas riquezas. Tudo o que tenho são algumas frutas e flores que desejo utilizar para alcançar piedade em Minha vida.”

VERSO 45: “Embora Eu esteja agindo como jardineiro, também desejo ser a árvore, pois, assim, poderei beneficiar a todos.”

VERSO 46: “‘Vede só como estas árvores sustentam todas as entidades vivas! O nascimento delas é bem-sucedido. O comportamento delas é como o de grandes personalidades, pois qualquer pessoa que peça algo a uma árvore nunca vai embora desapontada.’”

VERSO 47: Os descendentes da árvore [os devotos de Śrī Caitanya Mahāprabhu] ficaram muito contentes ao receber essa ordem diretamente do Senhor.

VERSO 48: O fruto do amor a Deus é tão saboroso que, onde quer que um devoto o distribua, aqueles que saboreiam o fruto, em qualquer parte do mundo, imediatamente ficam inebriados.

VERSO 49: O fruto do amor a Deus distribuído por Caitanya Mahāprabhu é um intoxicante tão grande que qualquer pessoa que o coma, enchendo seu estômago, logo enlouquece por ele e naturalmente canta, dança, ri e desfruta.

VERSO 50: Quando Śrī Caitanya Mahāprabhu, o grande jardineiro, vê que as pessoas estão cantando, dançando e rindo e que algumas delas estão rolando no chão e outras sibilando bem alto, Ele sorri com muito prazer.

VERSO 51: O próprio Senhor Caitanya, o grande jardineiro, come deste fruto, em consequência do que Ele permanece constantemente louco, como se desamparado e confuso.

VERSO 52: Com Seu movimento de saṅkīrtana, o Senhor deixou todos loucos como Ele. Não encontramos ninguém que não se apaixonasse por Seu movimento de saṅkīrtana.

VERSO 53: As pessoas que haviam anteriormente criticado o Senhor Caitanya Mahāprabhu, chamando-O de bêbado, também comeram o fruto e começaram a dançar, dizendo: “Muito bom! Muito bom!”

VERSO 54: Após explicar como o Senhor distribuiu o fruto do amor a Deus, agora desejo descrever os diferentes galhos da árvore do Senhor Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 55: Orando aos pés de lótus de Śrī Rūpa e Śrī Raghunātha, desejando sempre a misericórdia deles, eu, Kṛṣṇadāsa, narro o Śrī Caitanya-caritāmṛta, seguindo seus passos.

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