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CAPÍTULO CINCO

Prahlāda Mahārāja, o Santo Filho de Hiraṇyakaśipu

Prahlāda Mahārāja não cumpria as ordens de seus professores, pois sempre se ocupava em adorar o Senhor Viṣṇu. Como se descreve neste capítulo, Hiraṇyakaśipu fez tudo para matar Prahlāda Mahārāja e, com esse intento, conseguiu uma serpente para mordê-lo e também o colocou sob as patas de elefantes, mas, apesar de suas atrocidades, não foi exitoso.

O mestre espiritual de Hiraṇyakaśipu, Śukrācārya, tinha dois filhos chamados Ṣaṇḍa e Amarka, que estavam encarregados de educar Prahlāda Mahārāja. Embora os professores tentassem educar o menino Prahlāda em política, economia e outras atividades materiais, ele não se importava com as instruções por eles ministradas. Em vez disso, continuava a ser um devoto puro. Prahlāda Mahārāja jamais gostava da ideia de discriminar entre amigos e inimigos. Porque tinha tendências espirituais, era igual com todos.

Certa vez, Hiraṇyakaśipu perguntou a seu filho qual foi a melhor coisa que aprendera de seus professores. Prahlāda Mahārāja respondeu que um homem absorto em consciência material de dualidades, pensando: “Isso é meu, e aquilo pertence ao meu inimigo”, deve abandonar a vida familiar e ir para a floresta a fim de adorar o Senhor Supremo.

Ao ouvir seu filho falar sobre serviço devocional, Hiraṇyakaśipu deduziu que o menininho fora influenciado por algum colega seu. Portanto, ele aconselhou que os professores cuidassem do menino para que ele não se tornasse um devoto consciente de Kṛṣṇa. Entretanto, quando os professores perguntaram a Prahlāda Mahārāja por que ele contrariava seus ensinamentos, Prahlāda Mahārāja ensinou aos professores que a mentalidade segundo a qual somos os proprietários é falsa e que ele, portanto, estava tentando tornar-se um devoto imaculado do Senhor Viṣṇu. Os professores, muito furiosos com essa resposta, castigaram e hostilizaram o menino, infligindo-lhe muitas condições adversas. Eles lecionaram no melhor de sua capacidade e, então, apresentaram-no a seu pai.

Hiraṇyakaśipu afetuosamente pôs seu filho Prahlāda em seu colo e, então, perguntou-lhe qual a melhor coisa que aprendera com seus professores. Como de costume, Prahlāda Mahārāja começou a louvar os nove processos de serviço devocional, tais como śravaṇa e kīrtana. Assim, Hiraṇyakaśipu, o rei dos demônios, ficando extremamente irado, repreendeu os professores Ṣaṇḍa e Amarka por terem dado a Prahlāda Mahārāja um treinamento errado. Os ditos professores informaram ao rei que, por natureza, Prahlāda Mahārāja era um devoto, e não ouvia as instruções deles. Quando eles provaram sua inocência, Hiraṇyakaśipu perguntou a Prahlāda onde aprendera viṣṇu-bhakti. Prahlāda Mahārāja respondeu que quem é apegado à vida familiar não desenvolve a consciência de Kṛṣṇa, nem ele nem a sua coletividade. Ao contrário, submete-se a repetidos nascimentos e mortes neste mundo material e simplesmente continua mastigando o mastigado. Prahlāda explicou que o dever de todo homem é se refugiar em um devoto puro e, dessa maneira, preparar-se para compreender a consciência de Kṛṣṇa.

Enfurecido com essa resposta, Hiraṇyakaśipu arremessou Prahlāda Mahārāja de seu colo. Uma vez que Prahlāda era tão traiçoeiro a ponto de ter-se tornado devoto de Viṣṇu, que matara seu tio Hiranyākṣa, Hiraṇyakaśipu pediu aos seus assistentes que o matassem. Os assistentes de Hiraṇyakaśipu golpearam Prahlāda com armas afiadas, atiraram-no sob os pés de elefantes, sujeitaram-no a condições infernais, lançaram-no do pico de uma montanha e, na tentativa de matá-lo, recorreram a muitos outros artifícios. Mas não tiveram êxito. Em decorrência disso, Hiraṇyakaśipu foi sentindo mais e mais medo de seu filho Prahlāda Mahārāja e o prendeu. Os filhos de Śukrācārya, o mestre espiritual de Hiraṇyakaśipu, começaram a transmitir a Prahlāda seus próprios ensinamentos, mas Prahlāda Mahārāja não aceitava as instruções deles. Enquanto os professores estavam ausentes da sala de aula, Prahlāda Mahārāja, na escola, começava a pregar a consciência de Kṛṣṇa, e, através de suas instruções, todos os seus colegas de classe, os filhos dos demônios, tornaram-se devotos como ele.

VERSO 1: O grande santo Nārada Muni disse: Os demônios, encabeçados por Hiraṇyakaśipu, aceitaram Śukrācārya como seu sacerdote encarregado de realizar cerimônias ritualísticas. Os dois filhos de Śukrācārya, Ṣaṇḍa e Amarka, viviam perto do palácio de Hiraṇyakaśipu.

VERSO 2: Prahlāda Mahārāja já era instruído acerca da vida devocional, mas, quando seu pai o enviou para que recebesse instruções da parte dos dois filhos de Śukrācārya, eles o aceitaram em sua escola, onde faria companhia aos outros filhos dos asuras.

VERSO 3: Prahlāda decerto ouvia e recitava os tópicos de política e economia ensinados pelos professores, mas entendia que a filosofia política implica considerar alguém como amigo e outrem como inimigo, de modo que ele não apreciava isso.

VERSO 4: Meu querido rei Yudhiṣṭhira, certa vez, Hiraṇyakaśipu, o rei dos demônios, sentou seu filho Prahlāda em seu colo e, com muito afeto, perguntou-lhe: Meu querido filho, por favor, dize-me qual é, na tua opinião, o melhor de todos os assuntos que estudaste com teus professores.

VERSO 5: Prahlāda Mahārāja respondeu: Ó melhor dos asuras, rei dos demônios, conforme aprendi com o meu mestre espiritual, todo aquele que aceita um corpo e uma vida familiar temporários certamente se torna vítima da ansiedade porque cai em um poço escuro, onde não há água, mas apenas sofrimento. Deve-se abandonar essa posição e ir para a floresta [vana]. Mais claramente, deve-se ir para Vṛndāvana, onde prevalece apenas a consciência de Kṛṣṇa, após o que a pessoa deve refugiar-se na Suprema Personalidade de Deus.

VERSO 6: Nãrada Muni continuou: Quando Prahlāda Mahārāja falou sobre o caminho da autorrealização em serviço devocional, mostrando sua fidelidade ao partido dos inimigos de seu pai, Hiraṇyakaśipu, o rei dos demônios, ouviu as palavras de Prahlāda e, sorrindo, disse o seguinte: “É essa a inteligência das crianças corrompidas pelas palavras dos inimigos.”

VERSO 7: Hiraṇyakaśipu aconselhou os seus assistentes: Meus queridos demônios, levai este menino ao gurukula, onde receberá instruções, dai-lhe toda a proteção e não deixeis que sua inteligência continue sendo influenciada por vaiṣṇavas que, disfarçados, possam ir até lá.

VERSO 8: Quando os servos de Hiraṇyakaśipu levaram o menino Prahlāda de volta ao gurukula [o local onde os brāhmaṇas ensinam as crianças], os sacerdotes dos demônios, Ṣaṇḍa e Amarka, apaziguaram-no. Com vozes muito doces e palavras afetuosas, eles lhe fizeram a seguinte pergunta.

VERSO 9: Querido filho Prahlāda, desejamos que tenhas toda a paz e boa fortuna. Por favor, não mintas e responde apenas com a verdade. Esses meninos que estás vendo não são como tu, pois eles não falam palavras enganosas. Como foi que aprendeste essas instruções? Como foi que tua inteligência se corrompeu desse modo?

VERSO 10: Ó melhor da tua família, esta contaminação da tua inteligência foi produzida por ti ou pelos teus inimigos? Todos nós somos teus professores e estamos ansiosos por ouvir falares sobre isso. Por favor, conta-nos a verdade.

VERSO 11: Prahlāda Mahārāja respondeu: Deixai-me oferecer minhas respeitosas reverências à Suprema Personalidade de Deus, cuja energia externa criou distinções, tais como “meu amigo” e “meu inimigo”, iludindo a inteligência dos homens. Na verdade, agora estou passando por esta experiência, embora anteriormente já tenha ouvido as fontes autorizadas falarem a respeito disso.

VERSO 12: Quando a Suprema Personalidade de Deus fica satisfeita com a entidade viva devido ao serviço devocional por ela prestado, ela se torna um paṇḍita e não faz distinções entre amigos, inimigos e ela própria. Então, usando de inteligência, ela pensa: “Todos nós somos servos eternos de Deus e, portanto, não somos diferentes um do outro.”

VERSO 13: As pessoas que sempre pensam em termos de “inimigo” e “amigo” são incapazes de descobrir que a Superalma está dentro delas mesmas. Sem nem precisar mencioná-las, mesmo seres tão elevados como o senhor Brahmā, que são plenamente versados na literatura védica, às vezes ficam confusos com o processo mediante o qual se executam os princípios do serviço devocional. A mesma Suprema Personalidade de Deus, que criou essa situação, certamente me deu a inteligência para eu tomar o partido do vosso pretenso inimigo.

VERSO 14: Ó brāhmaṇas [professores], assim como o ferro atraído por uma pedra magnética se move automaticamente rumo ao ímã, minha consciência, tendo sido mudada por Sua vontade, sente-se atraída ao Senhor Viṣṇu, que carrega um disco em Sua mão. Logo, não tenho independência.

VERSO 15: O grande santo Nārada Muni prosseguiu: A grande alma Prahlāda Mahārāja silenciou-se após dizer isso a seus professores, Ṣaṇḍa e Amarka, os filhos seminais de Śukrācārya. Esses supostos brāhmaṇas ficaram então irados com ele. Porque eram servos de Hiraṇyakaśipu, ficaram muito pesarosos e, para castigar Prahlāda Mahārāja, falaram as seguintes palavras.

VERSO 16: Oh! Por favor, trazei-me uma vara! Este Prahlāda está arruinando nosso nome e nossa fama. Devido à sua inteligência perniciosa, ele se tornou como um carvão na dinastia dos demônios. Agora, ele precisa ser tratado mediante a quarta das quatro categorias de diplomacia política.

VERSO 17: Este patife Prahlāda apareceu como uma árvore espinhosa em uma floresta de sândalo. Para derrubar árvores de sândalo, precisa-se de um machado, e a madeira da árvore espinhosa é muito adequada para se fazer o cabo do machado. O Senhor Viṣṇu é o machado que corta a floresta de sândalo, ou seja, a família dos demônios, e esse Prahlāda é o cabo desse machado.

VERSO 18: Ṣaṇḍa e Amarka, os professores de Prahlāda Mahārāja, infligiram a seu discípulo várias categorias de castigos e ameaças e começaram a lhe ensinar os caminhos da religião, do desenvolvimento econômico e do gozo dos sentidos. Era esse o ensinamento que eles lhe ministravam.

VERSO 19: Passado algum tempo, os professores Ṣaṇḍa e Amarka julgaram que Prahlāda Mahārāja estivesse suficientemente instruído em afazeres diplomáticos, tais como apaziguar líderes públicos, agradá-los com a oferta de postos lucrativos, dividi-los e governá-los, e puni-los em caso de desobediência. Então, certo dia, depois que a mãe de Prahlāda banhou pessoalmente o menino e o vestiu com esmero, colocando-lhe adornos suficientes, eles o apresentaram a seu pai.

VERSO 20: Ao ver que o seu filho caíra a seus pés e oferecia-lhe reverências, Hiraṇyakaśipu, como um pai afetuoso, imediatamente começou a derramar bênçãos ao filho e o abraçou com ambos os braços. O pai naturalmente se sente feliz ao abraçar o filho, e Hiraṇyakaśipu ficou muito feliz com isso.

VERSO 21: Nārada Muni continuou: Meu querido rei Yudhiṣṭhira, Hiraṇyakaśipu sentou Prahlāda Mahārāja em seu colo e começou a cheirar sua cabeça. Com lágrimas afetuosas caindo de seus olhos e umedecendo o rosto sorridente da criança, ele lhe falou as seguintes palavras.

VERSO 22: Hiraṇyakaśipu disse: Meu querido Prahlāda, meu querido filho, ó longevo, durante muito tempo, ouviste teus professores te ensinarem tantas coisas. Agora, por favor, repete-me tudo o que julgas ser o melhor desse conhecimento.

VERSOS 23-24: Prahlāda Mahārāja disse: Ouvir e cantar a respeito do santo nome, da forma, das qualidades, da parafernália e dos passatempos do Senhor Viṣṇu, que são todos transcendentais, lembrar-se deles, servir aos pés de lótus do Senhor, oferecer ao Senhor respeitosa adoração com dezesseis classes de artigos, oferecer orações ao Senhor, tornar-se Seu servo, considerar o Senhor o melhor amigo de todos e Lhe entregar tudo (em outras palavras, servi-lo com corpo, mente, palavras) –, estes nove processos são aceitos como serviço devocional puro. Alguém que dedicou sua vida a servir a Kṛṣṇa através desses nove métodos deve ser considerado a pessoa mais erudita, pois adquiriu o conhecimento completo.

VERSO 25: Após ouvir da boca de seu filho Prahlāda essas palavras referentes ao serviço devocional, Hiraṇyakaśipu ficou extremamente irado. Com seus lábios trêmulos, falou o seguinte a Ṣaṇḍa, o filho de seu guru, Śukrācārya.

VERSO 26: Ó desqualificado e infame filho de um brāhmaṇa, desobedeceste à minha ordem e te refugiaste no grupo dos meus inimigos. Ensinaste a este pobre menino o serviço devocional! Por que tamanha tolice?

VERSO 27: No decorrer do tempo, várias classes de doenças se manifestam naqueles que são pecaminosos. Do mesmo modo, neste mundo, existem muitos impostores que se fazem passar por amigos, mas não tardará a hora em que, devido ao seu falso comportamento, a sua verdadeira inimizade será desmascarada.

VERSO 28: O filho de Śukrācārya, o mestre espiritual de Hiraṇyakaśipu, disse: Ó inimigo do rei Indra, ó rei! Nada do que teu filho Prahlāda disse lhe foi ensinado por mim ou alguma outra pessoa. Seu serviço devocional espontâneo se desenvolveu naturalmente nele. Portanto, por favor, não fiques irado, tampouco nos acuses desnecessariamente. Não é apropriado insultar um brāhmaṇa dessa maneira.

VERSO 29: Śrī Nārada Muni continuou: Ao receber essa resposta que o professor lhe apresentara, Hiraṇyakaśipu voltou a se dirigir a seu filho Prahlāda. Hiraṇyakaśipu disse: Patife, mais caído de nossa família, se não foram teus professores que te deram essa educação, onde, então, aprendeste isso?

VERSO 30: Prahlāda Mahārāja respondeu: Devido aos seus sentidos descontrolados, as pessoas demasiadamente apegadas à vida materialista progridem rumo às condições infernais e repetidamente mastigam aquilo que já foi mastigado. Mesmo que instruídas por outros, ou mesmo que se valham de seus próprios esforços, ou inclusive mediante uma combinação de ambos os processos, elas jamais sentem alguma inclinação por Kṛṣṇa.

VERSO 31: As pessoas que estão fortemente absortas na consciência de desfrutar da vida material e que, portanto, aceitaram como seu líder ou guru outro homem cego apegado aos objetos sensoriais externos, não podem entender que a meta da vida é regressar ao lar, regressar ao Supremo, e se ocupar a serviço do Senhor Viṣṇu. Assim como homens cegos guiados por outro cego saem do caminho correto e caem em um buraco, os homens materialmente apegados e liderados por outro homem materialmente apegado são atados pelas cordas do trabalho fruitivo, que são feitas de fios muito fortes, e continuam vezes e mais vezes na vida materialista, sofrendo as três classes de sofrimentos.

VERSO 32: A menos que untem o corpo com a poeira dos pés de lótus de um vaiṣṇava inteiramente livre da contaminação material, as pessoas muito propensas à vida materialista não poderão se apegar aos pés de lótus do Senhor, que é glorificado por Suas atividades incomuns. Apenas quem se torna consciente de Kṛṣṇa e, nesse estado de espírito, refugia-se nos pés de lótus do Senhor pode livrar-se da contaminação material.

VERSO 33: Depois que Prahlāda Mahārāja falou essas palavras e se calou, Hiraṇyakaśipu, cego de ira, arremessou-o de seu colo e o fez cair ao chão.

VERSO 34: Indignado e irado, seus olhos vermelhos parecendo cobre derretido, Hiraṇyakaśipu disse aos seus servos: Ó demônios, levai este menino para bem longe de mim! Ele merece morrer. Matai-o o mais rápido possível!

VERSO 35: Foi este menino Prahlāda quem matou o meu irmão, pois, abandonando a sua família, ele, como um servo humilde, passou a prestar serviço devocional ao inimigo, o Senhor Viṣṇu.

VERSO 36: Embora Prahlāda tenha apenas cinco anos, ele deixou de se relacionar afetuosamente com seu pai e sua mãe mesmo nessa tenra idade. Portanto, não é bom confiar nele. Na verdade, nem mesmo se deve confiar que ele se mostrará leal a Viṣṇu.

VERSO 37: Embora uma erva medicinal nascida na floresta não esteja na mesma categoria do ser humano, se ela for benéfica, será mantida muito cuidadosamente. Do mesmo modo, alguém que não faz parte da família, mas é favorável, deve ser protegido como se fosse um filho. Por outro lado, se um membro do corpo está envenenado por uma doença, deve-se amputá-lo para que o resto do corpo continue saudável. Igualmente, quando o próprio filho de alguém se torna um rival, deve ser rejeitado, embora tenha nascido do próprio corpo dessa pessoa.

VERSO 38: Assim como os sentidos descontrolados são inimigos de todos os yogīs ocupados no avanço da vida espiritual, este Prahlāda, que parece amigável, é um inimigo, pois não posso controlá-lo. Portanto, este inimigo, quer esteja comendo, quer esteja sentado, quer esteja dormindo, deve ser morto de qualquer maneira.

VERSOS 39-40: Os demônios [Rākṣasas], servos de Hiraṇyakaśipu, começaram, então, a golpear com seus tridentes as delicadas partes do corpo de Prahlāda Mahārāja. Todos os demônios tinham rostos assustadores, dentes pontiagudos e barbas e cabelos avermelhados, e pareciam extremamente ameaçadores. Fazendo um som estrondoso e gritando: “Retalhai-o! Trespassai-o!”, eles começaram a atacar Prahlāda Mahārāja, que, sentado em silêncio, meditava na Suprema Personalidade de Deus.

VERSO 41: Muito embora alguém que não tenha um cabedal de atividades piedosas execute alguma boa ação, ela não dará resultado. Portanto, as armas dos demônios não exerciam sobre Prahlāda Mahārāja nenhum efeito tangível porque ele era um devoto que não se deixava perturbar pelas condições materiais e que estava sempre ocupado em meditar na Suprema Personalidade de Deus e em prestar serviço ao Senhor Supremo, o qual, imutável, não pode ser compreendido através dos sentidos materiais e é a alma do universo inteiro.

VERSO 42: Meu querido rei Yudhiṣṭhira, ao tomar conhecimento de que fracassaram todas as tentativas dos demônios de matar Prahlāda Mahārāja, Hiraṇyakaśipu, o rei dos demônios, ficando muito temeroso, passou a cogitar outros meios para matá-lo.

VERSOS 43-44: Hiraṇyakaśipu não conseguiu matar seu filho atirando-o sob as patas de grandes elefantes, jogando-o entre enormes e pavorosas serpentes, empregando feitiços destrutivos, arremessando-o do topo de uma colina, evocando magias e encantamentos, administrando veneno, deixando-o passar fome, expondo-o ao frio, vento, fogo e água intensos ou lançando pesadas pedras para o esmagar. Ao verificar que era impossível ferir Prahlāda, o qual era inteiramente desprovido de pecados, Hiraṇyakaśipu se encheu de ansiedade querendo descobrir o que poderia fazer em seguida.

VERSO 45: Hiraṇyakaśipu pensou: Usei muitos insultos ao castigar este menino Prahlāda e tramei muitos meios para matá-lo, mas, apesar de todos os meus esforços, ele não morreu. Na verdade, ele se salvou através de seus próprios poderes, e não foi nem um pouco afetado por essas traições e atos abomináveis.

VERSO 46: Embora esteja bem perto de mim e seja apenas uma criança, ele é completamente destemido. Porque jamais se esquece do meu mau comportamento e de sua ligação com seu mestre, o Senhor Viṣṇu, ele parece a cauda de um cachorro que, sendo curva, nunca pode ser esticada.

VERSO 47: Posso ver que a força desse menino é ilimitada, pois ele não temeu nenhuma de minhas punições. Ele parece imortal. Portanto, devido à minha inimizade para com ele, acabarei morrendo. Ou talvez isso não aconteça.

VERSO 48: Imbuído deste pensamento, o rei dos Daityas, melancólico e desprovido de brilho corpóreo, permanecia calado e cabisbaixo. Então, Ṣaṇḍa e Amarka, os dois filhos de Śukrācārya, falaram-lhe em particular.

VERSO 49: Ó senhor, sabemos que basta moveres tuas sobrancelhas para que todos os comandantes dos diversos planetas fiquem muito assustados. Sem a ajuda de ninguém, conquistaste todos os três mundos. Portanto, não encontramos nenhuma razão para ficares triste e tão ansioso. Quanto a Prahlāda, ele não passa de uma criança e não pode ser uma fonte de ansiedades. Afinal, suas más qualidades ou boas qualidades não têm valor.

VERSO 50: Até o retorno de Śukrācārya, nosso mestre espiritual, mantém presa essa criança com as cordas de Varuṇa para que ela não fuja impelida pelo medo. Em qualquer caso, na época em que ele estiver um pouco crescido e tiver assimilado nossas instruções ou servido nosso mestre espiritual, ele terá uma nova inteligência. Assim, não há motivos para alguma ansiedade.

VERSO 51: Após ouvir estas instruções de Ṣaṇḍa e Amarka, os filhos de seu mestre espiritual, Hiraṇyakaśipu aquiesceu e lhes pediu que instruíssem Prahlāda no sistema de dever ocupacional seguido pelos chefes de família que compõem a realeza.

VERSO 52: Depois disso, Ṣaṇḍa e Amarka ensinaram sistemática e incessantemente Prahlāda Mahārāja, que era muito submisso e humilde, acerca de religião mundana, desenvolvimento econômico e gozo dos sentidos.

VERSO 53: Os professores Ṣaṇḍa e Amarka instruíram Prahlāda Mahārāja nas três classes de avanço material conhecidas como religião, desenvolvimento econômico e gozo dos sentidos. Todavia, Prahlāda, estando situado acima dessas instruções, não as apreciou, pois elas se baseiam na dualidade dos afazeres mundanos, os quais envolvem a pessoa no modo de vida materialista, caracterizado por nascimento, morte, velhice e doença.

VERSO 54: Quando os professores iam para casa a fim de cuidar de suas tarefas familiares, os alunos da mesma idade de Prahlāda Mahārāja chamavam-no para que aproveitassem a oportunidade das horas de lazer e fossem brincar.

VERSO 55: Prahlāda Mahārāja, que era, em verdade, supremamente erudito, dirigiu-se, então, a seus amigos de classe falando-lhes com uma linguagem muito doce. Sorrindo, começou a lhes ensinar a inutilidade do modo de vida materialista. Sendo muito bondoso, compartilhou com eles as seguintes instruções.

VERSOS 56-57: Meu querido rei Yudhiṣṭhira, todas as crianças tinham muita afeição e respeito por Prahlāda Mahārāja e, devido à tenra idade deles, não estavam muito contaminados pelas instruções e ações de seus professores, os quais estavam apegados à dualidade censurável e ao conforto corpóreo. Assim, abandonando seus brinquedos, os meninos se sentaram ao redor de Prahlāda Mahārāja dispondo-se a ouvi-lo. Com seus corações e olhos fixos nele, olhavam-no com muita seriedade. Prahlāda Mahārāja, embora nascido em uma família de demônios, era um devoto elevado e desejava o bem-estar deles. Então, começou a instruí-los sobre a futilidade da vida materialista.

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