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Capítulo Um

Os Mestres Espirituais

Śrī Caitanya Mahāprabhu não é ninguém menos que a forma combinada de Śrī Rādhā e Kṛṣṇa. Ele é a vida daqueles devotos que seguem estritamente os passos de Śrīla Rūpa Gosvāmī. Śrīla Rūpa Gosvāmī e Śrīla Sanātana Gosvāmī são os dois principais seguidores de Śrīla Svarūpa Dāmodara Gosvāmī, que atuou como o servo mais íntimo do Senhor Śrī Kṛṣṇa Caitanya Mahāprabhu, conhecido como Viśvambhara nos primórdios de Sua vida. Śrīla Raghunātha Dāsa Gosvāmī foi discípulo direto de Śrīla Rūpa Gosvāmī. Śrīla Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī, o autor do Śrī Caitanya-caritāmṛta, destaca-se como discípulo direto de Śrīla Rūpa Gosvāmī e Śrīla Raghunātha Dāsa Gosvāmī.

O discípulo direto de Śrīla Kṛṣṇadāsa Kavirāja foi Śrīla Narottama Dāsa Ṭhākura, que aceitou Śrīla Viśvanātha Cakravartī como seu servo. Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura aceitou Śrīla Jagannātha Dāsa Bābājī, o qual iniciou Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura. Este, por sua vez, iniciou Śrīla Gaurakiśora Dāsa Bābājī, o mestre espiritual de Oṁ Viṣṇupāda Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Gosvāmī Mahārāja, que é o divino mestre de minha humilde pessoa.

Como pertencemos a essa corrente de sucessão discipular oriunda de Śrī Caitanya Mahāprabhu, a presente edição do Śrī Caitanya-caritāmṛta não incluirá nenhuma novidade inventada por nossos cérebros diminutos, mas apenas os restos do alimento comido originalmente pelo próprio Senhor. O Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu não pertence ao plano mundano dos três modos qualitativos. Ele pertence ao plano transcendental que está além do alcance da percepção sensorial imperfeita dum ser vivo. Nem mesmo o mais erudito dos acadêmicos mundanos pode aproximar-se do plano transcendental, a menos que se submeta ao som transcendental com uma atitude receptiva, pois é somente com esta atitude que se pode compreender a mensagem de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Portanto, o que se descreverá aqui nada tem a ver com os pensamentos experimentais criados por hábitos especulativos de mentes inertes. O assunto deste livro não é uma invenção mental, mas, isto sim, uma experiência espiritual real, que só podemos compreender aceitando a linha de sucessão discipular descrita acima. Qualquer desvio dessa linha impedirá o leitor de compreender o mistério do Śrī Caitanya-caritāmṛta, que é uma literatura transcendental destinada ao estudo pós-graduado daquele que assimilou todos os textos védicos, tais como os Upaniṣads e o Vedānta, e seus comentários naturais, tais como o Śrīmad-Bhāgavatam e a Bhagavad-gītā.

Esta edição do Śrī Caitanya-caritāmṛta é apresentada para o estudo de eruditos sinceros que realmente buscam a Verdade Absoluta. Não é a erudição arrogante dum especulador mental, mas o esforço sincero de servir à ordem duma autoridade superior. A vida e alma deste esforço humilde é o serviço a tal autoridade. Este livro não se desvia nem um pouco das escrituras reveladas, e por isso todo aquele que seguir na linha discipular será capaz de compreender a essência dele, pelo simples método da recepção auditiva.

O primeiro capítulo do Śrī Caitanya-caritāmṛta começa com quatorze versos em sânscrito descrevendo a Verdade Absoluta. Logo após, outros três versos em sânscrito descrevem as principais Deidades de Vṛndāvana, a saber, Śrī Rādhā-Madana-mohana, Śrī Rādhā-Govindadeva e Śrī Rādhā-Gopīnāthajī. O primeiro dos quatorze versos é uma representação simbólica da Verdade Suprema, e todo o primeiro capítulo é, na verdade, dedicado a este verso em particular, que descreve o Senhor Caitanya em Suas seis diferentes expansões transcendentais.

A primeira manifestação descrita é o mestre espiritual, que aparece como duas partes plenárias chamadas “o mestre espiritual iniciador” e “o mestre espiritual instrutor”. Eles são idênticos posto que ambos são manifestações fenomenais da Verdade Suprema. A seguir, descrevem-se os devotos, que se dividem em duas classes, a saber, os aprendizes e os graduados. A seguir, estão as encarnações (avatāras) do Senhor, que, segundo se explica, não são diferentes do Senhor. Essas encarnações são consideradas em três divisões: encarnações da potência do Senhor, encarnações de Suas qualidades e encarnações de Sua autoridade. A esse respeito, expõem-se as manifestações diretas do Senhor Śrī Kṛṣṇa e Suas manifestações para passatempos transcendentais. A seguir, consideram-se as potências do Senhor, dentre as quais se descrevem três manifestações principais: as consortes no reino de Deus (Vaikuṇṭha), as rainhas de Dvārakā-dhāma e, acima de todas, as donzelas de Vrajadhāma. Finalmente, apresenta-se o próprio Senhor Supremo, que é o manancial de todas essas manifestações.

O Senhor Śrī Kṛṣṇa e Suas expansões plenárias estão todos na categoria do próprio Senhor, a Verdade Absoluta energética, ao passo que Seus devotos, Seus associados eternos, são Suas energias. Fundamentalmente, a energia e o energético são a mesma coisa, mas, uma vez que suas funções se manifestam de forma diferente, são também simultaneamente diferentes. Desse modo, a Verdade Absoluta manifesta-Se numa unidade diversificada. Esta verdade filosófica, que está em concordância com os Vedānta-sūtras, chama-se acintya-bhedābheda-tattva, ou a concepção de igualdade e diferença simultâneas. Na última parte deste capítulo, descrevem-se a posição transcendental de Śrī Caitanya Mahāprabhu e a de Śrīla Nityānanda Prabhu com referência aos fatos teístas supramencionados.

VERSO 1: Ofereço minhas respeitosas reverências aos mestres espirituais, aos devotos do Senhor, às encarnações do Senhor, a Suas porções plenárias, a Suas energias e ao próprio Senhor primordial, Śrī Kṛṣṇa Caitanya.

VERSO 2: Ofereço minhas respeitosas reverências a Śrī Kṛṣṇa Caitanya e ao Senhor Nityānanda, que são como o Sol e a Lua. Eles nasceram simultaneamente no horizonte de Gauḍa para dissipar a escuridão da ignorância e, assim, abençoar maravilhosamente a todos.

VERSO 3: O que as Upaniṣads descrevem como o Brahman impessoal é apenas a refulgência de Seu corpo, e o Senhor conhecido como a Superalma é apenas Sua porção plenária localizada. Ele é a Suprema Personalidade de Deus, o próprio Kṛṣṇa, pleno das seis opulências. Ele é a Verdade Absoluta, e nenhuma outra verdade é superior ou igual a Ele.

VERSO 4: Que este Senhor, que é conhecido como o filho de Śrīmatī Śacīdevī, situe-Se transcendentalmente no canto mais recôndito de vossos corações. Resplandecente com a irradiância de ouro derretido, Ele aparece na era de Kali por Sua misericórdia imotivada para outorgar o que nenhuma outra encarnação jamais outorgou antes: o conhecimento espiritual mais sublime e radiante do doce sabor de Seu serviço.

VERSO 5: As aventuras amorosas de Śrī Rādhā e Kṛṣṇa são manifestações transcendentais da potência interna outorgante de prazer do Senhor. Embora Rādhā e Kṛṣṇa sejam iguais em Sua identidade, Eles Se separaram eternamente. Agora, essas duas identidades transcendentais uniram-Se novamente sob a forma de Śrī Kṛṣṇa Caitanya. Prostro-me ante Ele, que Se manifesta com o sentimento e a tez de Śrīmatī Rādhārāṇī apesar de ser o próprio Kṛṣṇa.

VERSO 6: Desejando entender a glória do amor de Rādhārāṇī, as qualidades maravilhosas nEle que só Ela aprecia graças ao amor dEla, e a felicidade que Ela sente ao compreender a doçura do amor dEle, o Supremo Senhor Hari, ricamente dotado com as emoções dEla, surge do ventre de Śrīmatī Śacīdevī, assim como a Lua surge do oceano.

VERSO 7: Que Śrī Nityānanda Rāma seja o objeto de minha lembrança constante. Saṅkarṣaṇa, Śeṣa Nāga e os Viṣṇus deitados no Oceano Kāraṇa, no Oceano Garbha e no Oceano de Leite são Suas porções plenárias e porções de suas porções plenárias.

VERSO 8: Rendo-me aos pés de lótus de Śrī Nityānanda Rāma, que é conhecido como Saṅkarṣaṇa entre os componentes do catur-vyūha (Vāsudeva, Saṅkarṣaṇa, Pradyumna e Aniruddha). Ele possui opulências plenas e reside em Vaikuṇṭha-loka, muito além da criação material.

VERSO 9: Ofereço todas as minhas reverências aos pés de Śrī Nityānanda Rāma, cuja representação parcial chamada Kāraṇodakaśāyī Viṣṇu, que está deitado no Oceano Kāraṇa, é o puruṣa original, o senhor da energia ilusória e o refúgio de todos os universos.

VERSO 10: Ofereço todas as minhas reverências aos pés de Śrī Nityānanda Rāma, de quem Garbhodakaśāyī Viṣṇu é uma parte parcial. Do umbigo de Garbhodakaśāyī Viṣṇu, brota o lótus onde nasce Brahmā, o engenheiro do universo. O caule desse lótus é o local de repouso da multidão de planetas.

VERSO 11: Ofereço minhas respeitosas reverências aos pés de Śrī Nityānanda Rāma, cuja parte secundária é o Viṣṇu deitado no Oceano de Leite. Este Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu é a Superalma de todas as entidades vivas e o mantenedor de todos os universos. Śeṣa Nāga é Sua outra subparte.

VERSO 12: O Senhor Advaita Ācārya é a encarnação de Mahā-Viṣṇu, cuja função principal é criar o mundo cósmico através das ações de māyā.

VERSO 13: Ele chama-Se Advaita porque não é diferente de Hari, o Senhor Supremo, e chama-Se Ācārya porque propaga o culto da devoção. Ele é o Senhor e a encarnação do devoto do Senhor. Portanto, refugio-me nEle.

VERSO 14: Ofereço minhas reverências a Kṛṣṇa, o Senhor Supremo, que não é diferente de Seus aspectos como devoto, encarnação devocional, manifestação devocional, devoto puro e energia devocional.

VERSO 15: Glórias aos plenamente misericordiosos Rādhā e Madana-mohana! Sou aleijado e insensato, mas Eles são meus orientadores, e Seus pés de lótus são tudo para mim.

VERSO 16: Num templo de joias em Vṛndāvana, debaixo duma árvore-dos-desejos, Śrī Śrī Rādhā-Govinda, servidos por Seus associados muito íntimos, estão sentados num trono refulgente. Ofereço-Lhes minhas humildes reverências.

VERSO 17: Śrī Śrīla Gopīnātha, o iniciador da doçura transcendental da dança da rāsa, encontra-Se à beira do Vaṁśīvaṭa e atrai a atenção das donzelas vaqueirinhas com o som de Sua célebre flauta. Que todos eles nos concedam suas bênçãos.

VERSO 18: Glórias a Śrī Caitanya e Nityānanda! Glórias a Advaitacandra! E glórias a todos os devotos de Śrī Gaura [Senhor Caitanya]!

VERSO 19: Essas três Deidades de Vṛndāvana [Madana-mohana, Govinda e Gopīnātha] têm absorvido o corpo e a alma dos gauḍīya vaiṣṇavas [seguidores do Senhor Caitanya]. Adoro Seus pés de lótus, pois Elas são os Senhores de meu coração.

VERSO 20: No início desta narração, simplesmente por lembrar-me do mestre espiritual, dos devotos do Senhor e da Personalidade de Deus, invoquei suas bênçãos.

VERSO 21: Tal lembrança destrói todas as dificuldades e facilmente capacita-nos a satisfazer nossos próprios desejos.

VERSO 22: A invocação envolve três processos: definir o objetivo, oferecer bênçãos e oferecer reverências.

VERSO 23: Os dois primeiros versos oferecem respeitosas reverências, de modo geral e específico, ao Senhor, que é o objeto da adoração.

VERSO 24: No terceiro verso, indico a Verdade Absoluta, que é a substância fundamental. Com tal descrição, pode-se vislumbrar a Verdade Suprema.

VERSO 25: No quarto verso, invoco a bênção do Senhor para o mundo inteiro, orando que o Senhor Caitanya conceda Sua misericórdia a todos.

VERSO 26: Nesse mesmo verso, também explico a razão externa para a encarnação do Senhor Caitanya. Contudo, nos versos cinco e seis, explico a razão principal para Seu advento.

VERSO 27: Nesses seis versos, descrevo a verdade sobre o Senhor Caitanya, ao passo que, nos cinco versos subsequentes, descrevo a glória do Senhor Nityānanda.

VERSO 28: Os próximos dois versos descrevem a verdade de Advaita Prabhu, e o verso seguinte descreve o Pañca-tattva (o Senhor, Sua porção plenária, Sua encarnação, Suas energias e Seus devotos).

VERSO 29: Portanto, estes quatorze versos oferecem invocações auspiciosas e descrevem a Verdade Suprema.

VERSO 30: Ofereço minhas reverências a todos os meus leitores vaiṣṇavas, ao começar a explicar as complexidades de todos esses versos.

VERSO 31: Solicito a todos os meus leitores vaiṣṇavas que leiam e ouçam, com apurada atenção, esta narração sobre Śrī Kṛṣṇa Caitanya, como se recomenda nas escrituras reveladas.

VERSO 32: O Senhor Kṛṣṇa diverte-Se manifestando-Se como os mestres espirituais, os devotos, as energias diversas, as encarnações e as porções plenárias. Eles todos são seis num só.

VERSO 33: Portanto, adorei os pés de lótus dessas seis diversidades da verdade una, invocando as bênçãos delas.

VERSO 34: Ofereço minhas respeitosas reverências aos mestres espirituais, aos devotos do Senhor, às encarnações do Senhor, a Suas porções plenárias, a Suas energias e ao próprio Senhor primordial, Śrī Kṛṣṇa Caitanya.

VERSO 35: Antes de mais nada, ofereço minhas respeitosas reverências aos pés de lótus de meu mestre espiritual iniciador e de todos os meus mestres espirituais instrutores.

VERSO 36: Os mestres espirituais instrutores são Śrī Rūpa Gosvāmī, Śrī Sanātana Gosvāmī, Śrī Bhaṭṭa Raghunātha, Śrī Jīva Gosvāmī, Śrī Gopāla Bhaṭṭa Gosvāmī e Śrīla Raghunātha Dāsa Gosvāmī.

VERSO 37: Meus mestres espirituais instrutores são estes seis. Portanto, ofereço milhões de respeitosas reverências a seus pés de lótus.

VERSO 38: Há inúmeros devotos do Senhor, dos quais Śrīvāsa Ṭhākura é o principal. Ofereço minhas respeitosas reverências milhares de vezes aos pés de lótus deles.

VERSO 39: Advaita Ācārya é a encarnação parcial do Senhor, e por isso ofereço minhas reverências milhões de vezes a Seus pés de lótus.

VERSO 40: Śrīla Nityānanda Rāma é a manifestação plenária do Senhor, e eu fui iniciado por Ele. Portanto, ofereço minhas respeitosas reverências a Seus pés de lótus.

VERSO 41: Ofereço minhas respeitosas reverências às potências internas do Senhor, encabeçadas por Śrī Gadādhara Prabhu.

VERSO 42: O Senhor Śrī Kṛṣṇa Caitanya Mahāprabhu é a própria Personalidade de Deus, e por isso prostro-me inumeráveis vezes a Seus pés de lótus.

VERSO 43: Tendo oferecido reverências ao Senhor e a todos os Seus associados, tentarei agora explicar estas seis diversidades em uma só.

VERSO 44: Embora eu saiba que meu mestre espiritual é servo de Śrī Caitanya, também sei que Ele é uma manifestação plenária do Senhor.

VERSO 45: Segundo a opinião ponderada de todas as escrituras reveladas, o mestre espiritual não é diferente de Kṛṣṇa. O Senhor Kṛṣṇa libera Seus devotos sob a forma do mestre espiritual.

VERSO 46: “Deve-se saber que o ācārya sou Eu mesmo e não deve ser desrespeitado de forma alguma. Não se deve invejá-lo, julgando-o um homem comum, pois ele é o representante de todos os semideuses.”

VERSO 47: Deve-se saber que o mestre espiritual instrutor é a Personalidade de Kṛṣṇa. O Senhor Kṛṣṇa manifesta-Se como a Superalma e como o maior devoto do Senhor.

VERSO 48: “Ó meu Senhor! Poetas transcendentais e entendidos na ciência espiritual não poderiam expressar plenamente a dívida deles para contigo, mesmo que fossem dotados com a prolongada duração de vida de Brahmā, pois Tu apareces sob dois aspectos – externamente como o ācārya e internamente como a Superalma – para liberar o ser vivo corporificado, orientando-o de modo a que possa alcançar-Te.”

VERSO 49: “Para aqueles que estão constantemente devotados e Me adoram com amor, Eu dou a compreensão com a qual eles podem vir a Mim.”

VERSO 50: A Suprema Personalidade de Deus [svayaṁ bhagavān] deu instruções a Brahmā e o fez autorrealizado.

VERSO 51: “Por favor, ouve com atenção o que te falarei, pois o conhecimento transcendental sobre Mim é não somente científico, mas também repleto de mistérios.”

VERSO 52: “Por Minha misericórdia imotivada, ilumina-te de verdade sobre Minha personalidade, manifestações, qualidades e passatempos.”

VERSO 53: “Antes da criação cósmica, somente Eu existo, e não existe fenômeno algum, seja ele grosseiro, sutil ou primordial. Após a criação, somente Eu existo em tudo, e, após a aniquilação, somente Eu permaneço eternamente.”

VERSO 54: “O que parece ser verdade sem Mim é decerto Minha energia ilusória, pois nada pode existir sem Mim. É como um reflexo de luz real nas sombras, pois na luz não há nem sombras nem reflexos.”

VERSO 55: “Assim como os elementos materiais penetram os corpos de todos os seres vivos e, apesar disso, permanecem fora de todos eles, Eu existo dentro de todas as criações materiais e, apesar disso, não estou dentro delas.”

VERSO 56: “Portanto, uma pessoa interessada em conhecimento transcendental deve sempre, direta e indiretamente, indagar a respeito dele para conhecer a verdade onipenetrante.”

VERSO 57: “Todas as glórias a Cintāmaṇi e a meu mestre espiritual iniciador, Somagiri. Todas as glórias a meu mestre espiritual instrutor, a Suprema Personalidade de Deus, que usa penas de pavão em Sua coroa. Sob a sombra de Seus pés de lótus, que são como árvores-dos-desejos, Jayaśrī [Rādhārāṇī] goza da doçura transcendental de uma consorte eterna.”

VERSO 58: Como não se pode experimentar visualmente a presença da Superalma, Ele aparece ante nós como um devoto liberado. Semelhante mestre espiritual não é outro senão o próprio Kṛṣṇa.

VERSO 59: “Portanto, deve-se evitar as más companhias e associar-se somente com devotos. Tais santos, com suas instruções vivenciadas, podem cortar o nó que vincula uma pessoa a atividades desfavoráveis ao serviço devocional.”

VERSO 60: “A mensagem espiritualmente poderosa da Divindade só pode ser discutida adequadamente numa sociedade de devotos, e é agradabilíssimo ouvi-la em tal companhia. Para quem ouve os devotos falarem, o caminho da experiência transcendental abre-se rapidamente, e, aos poucos, ele adquire um gosto pelo conhecimento, e esse gosto, com o transcurso do tempo, transforma-se em atração e devoção.”

VERSO 61: Um devoto puro constantemente ocupado no serviço amoroso ao Senhor é idêntico ao Senhor, que permanece sempre sentado em seu coração.

VERSO 62: “Os santos são Meu coração, e apenas Eu sou seus corações. Eles não conhecem ninguém além de Mim, e por isso Eu não reconheço ninguém além deles como Meus.”

VERSO 63: “Santos de vosso calibre são em si mesmos locais de peregrinação. Em virtude de sua pureza, eles são companheiros constantes do Senhor, e por isso podem purificar até mesmo os locais de peregrinação.”

VERSO 64: Semelhantes devotos puros enquadram-se em duas categorias: a dos associados pessoais [pāriṣats] e a dos devotos neófitos [sādhakas].

VERSOS 65-66: Há três categorias de encarnações de Deus: encarnações parciais, encarnações qualitativas e encarnações dotadas de poder. Os puruṣas e Matsya são exemplos de encarnações parciais.

VERSO 67: Brahmā, Viṣṇu e Śiva são encarnações qualitativas. Encarnações tais como os Kumāras, o rei Pṛthu e Mahāmuni Vyāsa [o compilador dos Vedas] são encarnações dotadas de poder.

VERSO 68: A Personalidade de Deus manifesta-Se sob duas modalidades de formas: prakāśa e vilāsa.

VERSOS 69-70: Quando a Personalidade de Deus Se expande em muitas formas, todas com seus aspectos indiferenciados, como o Senhor Kṛṣṇa o fez ao casar-Se com dezesseis mil rainhas e ao executar sua dança da rāsa, semelhantes formas do Senhor chamam-se formas manifestas.

VERSO 71: “É espantoso que o Senhor Śrī Kṛṣṇa, que é único e inigualável, tenha Se expandido em dezesseis mil formas semelhantes para casar-Se com dezesseis mil rainhas em seus respectivos lares.”

VERSO 72: “Ao começar as festividades da dança da rāsa, rodeado por grupos de vaqueirinhas, o Senhor Kṛṣṇa, o Senhor de todos os poderes místicos, colocou-Se entre cada duas das mocinhas.”

VERSOS 73-74: “Quando as vaqueirinhas e Kṛṣṇa reuniram-se assim, cada mocinha pensava que Kṛṣṇa estava ternamente abraçando somente a ela. A fim de contemplarem esse maravilhoso passatempo do Senhor, os habitantes do céu e suas esposas, todos muito ansiosos de ver a dança, voavam no céu em suas centenas de aeroplanos. Eles jogavam flores e batiam docemente em tambores.”

VERSO 75: “Se numerosas formas, todas com suas características idênticas, manifestam-se simultaneamente, semelhantes formas chamam-se prakāśa-vigrahas do Senhor.”

VERSO 76: Porém, quando as numerosas formas são levemente diferentes uma da outra, elas são chamadas vilāsa-vigrahas.

VERSO 77: “Quando o Senhor, mediante Sua potência inconcebível, manifesta numerosas formas com diferentes características, tais formas chamam-se vilāsa-vigrahas.”

VERSO 78: Baladeva, Nārāyaṇa em Vaikuṇṭha-dhāma e o catur-vyūha – Vāsudeva, Saṅkarṣaṇa, Pradyumna e Aniruddha – são exemplos de tais vilāsa-vigrahas

VERSOS 79-80: Há três classes de energias (consortes) do Senhor Supremo: as Lakṣmīs em Vaikuṇṭha, as rainhas em Dvārakā e as gopīs em Vṛndāvana. Dentre todas, as gopīs são as melhores, pois têm o privilégio de servir a Śrī Kṛṣṇa, o Senhor primordial, o filho do rei de Vraja.

VERSO 81: Os associados pessoais de Śrī Kṛṣṇa, o Senhor primordial, são Seus devotos, que são idênticos a Ele. Ele é completo com Seu séquito de devotos.

VERSO 82: Até aqui adorei a todos os diversos níveis de devotos. A fonte de toda a boa fortuna está em adorá-los.

VERSO 83: No primeiro verso, eu imploro uma benção geral, mas, no segundo, oro a uma forma específica do Senhor.

VERSO 84: “Ofereço minhas respeitosas reverências a Śrī Kṛṣṇa Caitanya e ao Senhor Nityānanda, que são como o Sol e a Lua. Eles nasceram simultaneamente no horizonte de Gauḍa para dissipar a escuridão da ignorância e, assim, abençoar maravilhosamente a todos.”

VERSO 85-86: Śrī Kṛṣṇa e Balarāma, as Personalidades de Deus, que anteriormente apareceram em Vṛndāvana e eram milhões de vezes mais refulgentes do que o Sol e a Lua, surgiram acima do horizonte oriental de Gauḍadeśa (Bengala Ocidental), compadecendo-Se do estado caído do mundo.Śrī Kṛṣṇa e Balarāma, as Personalidades de Deus, que anteriormente apareceram em Vṛndāvana e eram milhões de vezes mais refulgentes do que o Sol e a Lua, surgiram acima do horizonte oriental de Gauḍadeśa (Bengala Ocidental), compadecendo-Se do estado caído do mundo.

VERSO 87: O aparecimento de Śrī Kṛṣṇa Caitanya e Prabhu Nityānanda inundou o mundo de felicidade.

VERSOS 88-89: Assim como o Sol e a Lua dissipam a escuridão com seu aparecimento e revelam a natureza de tudo, da mesma forma, estes dois irmãos dissipam a escuridão da ignorância dos seres vivos e iluminam-nos com o conhecimento da Verdade Absoluta.

VERSO 90: A escuridão da ignorância chama-se kaitava, o processo da enganação, que começa com religiosidade, desenvolvimento econômico, gozo dos sentidos e liberação.

VERSO 91: “A grande escritura Śrīmad-Bhāgavatam, compilada por Mahāmuni Vyāsadeva a partir de quatro versos originais, descreve os devotos mais elevados e generosos e rejeita inteiramente os métodos enganadores de religiosidade motivada materialmente. Ela propõe o princípio máximo de religião eterna, que realmente pode mitigar as três espécies de misérias de um ser vivo e outorgar-lhe a bênção máxima de prosperidade e conhecimento plenos. Aquelas pessoas desejosas de ouvir a mensagem desta escritura com submissa atitude de serviço poderão cativar imediatamente o Senhor Supremo em seus corações. Portanto, não há necessidade de nenhuma outra escritura além do Śrīmad-Bhāgavatam.”

VERSO 92: O principal processo de enganação consiste em desejar alcançar a liberação, fundindo-se no Supremo, porque isso provoca o desaparecimento permanente do serviço amoroso a Kṛṣṇa.

VERSO 93: “O prefixo ‘pra’ [no verso do Śrīmad-Bhāgavatam] indica que o desejo de liberação é inteiramente rejeitado.”

VERSO 94: Todas as espécies de atividades, tanto auspiciosas quanto inauspiciosas, que sejam prejudiciais ao desempenho do transcendental serviço amoroso ao Senhor Śrī Kṛṣṇa são ações da escuridão da ignorância.

VERSO 95: Pela graça do Senhor Caitanya e do Senhor Nityānanda, elimina-se essa escuridão de ignorância e traz-se à tona a verdade.

VERSO 96: A Verdade Absoluta é Śrī Kṛṣṇa, e a devoção amorosa a Śrī Kṛṣṇa manifesta com amor puro é alcançada através do canto congregacional do santo nome, que é a essência de toda a bem-aventurança.

VERSO 97: O Sol e a Lua dissipam a escuridão do mundo externo e, assim, revelam objetos materiais externos, tais como potes e pratos.

VERSO 98: Mas esses dois irmãos (o Senhor Caitanya e o Senhor Nityānanda) dissipam a escuridão do mais profundo recôndito do coração e, deste modo, ajudam-nos a encontrar as duas classes de bhāgavatas (pessoas ou coisas relacionadas com a Personalidade de Deus).

VERSO 99: Um dos bhāgavatas é a grande escritura Śrīmad-Bhāgavatam, e o outro é o devoto puro absorto nas doçuras da devoção amorosa.

VERSO 100: Por meio das ações desses dois bhāgavatas, o Senhor instila as doçuras do transcendental serviço amoroso no coração do ser vivo, e assim o Senhor, no coração de Seu devoto, deixa-Se controlar pelo amor do devoto.

VERSO 101: A primeira maravilha é que ambos os irmãos aparecem simultaneamente, e a outra é que Eles iluminam as mais recônditas profundezas do coração.

VERSO 102: Esses dois, o Sol e a Lua, são muito bondosos com as pessoas do mundo. Assim, para a boa sorte de todos, Eles apareceram no horizonte da Bengala.

VERSO 103: Portanto, adoremos os santos pés desses dois Senhores. Desta maneira, podemos nos livrar de todas as dificuldades no caminho da autorrealização.

VERSO 104: Com esses dois versos, invoquei as bênçãos de ambos os Senhores. Agora, por favor, ouve com atenção o significado do terceiro.

VERSO 105: Evito propositalmente estender-me na descrição com medo de aumentar o volume deste livro. Descreverei a essência tão concisamente quanto possível.

VERSO 106: “Eloquência verdadeira é a verdade essencial falada concisamente.”

VERSO 107: O simples fato de ouvir com submissão livrará o coração de uma pessoa de todas as imperfeições da ignorância, e, assim, ela alcançará profundo amor por Kṛṣṇa. Esse é o caminho da paz.

VERSOS 108-109: Quem ouvir pacientemente sobre as glórias de Śrī Caitanya Mahāprabhu, Śrī Nityānanda Prabhu e Śrī Advaita Prabhu – bem como de Seus devotos, atividades devocionais, nomes, fama, e sobre as doçuras das transcendentais trocas amorosas entre Eles – aprenderá a essência da Verdade Absoluta. Portanto, descrevo esses temas (no Caitanya-caritāmṛta) com lógica e discriminação.

VERSO 110: Orando aos pés de lótus de Śrī Rūpa e Śrī Raghunātha, desejando sempre a misericórdia deles, eu, Kṛṣṇadāsa, narro o Śrī Caitanya-caritāmṛta, seguindo seus passos.

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