Capítulo Oito
Dhruva Mahārāja Deixa o Lar Rumo à Floresta
VERSO 1: O grande sábio Maitreya disse: Os quatro grandes sábios Kumāras, encabeçados por Sanaka, bem como Nārada, Ṛbhu, Haṁsa, Aruṇi e Yati, todos filhos de Brahmā, não viveram no lar, mas se tornaram ūrdhva-retā, ou naiṣṭhika-brahmacārīs, autênticos celibatários.
VERSO 2: O senhor Brahmā teve outro filho chamado Irreligião, cuja esposa se chamava Falsidade. Da combinação de ambos nasceram dois demônios chamados Dambha, ou Trapaça, e Māyā, ou Vigarice. Esses dois demônios foram adotados por um demônio chamado Nirṛti, que não tinha filhos.
VERSO 3: Maitreya disse a Vidura: Ó grande alma, de Dambha e Māyā nasceram a Cobiça e Nikṛti, ou Astúcia. Da combinação entre eles, vieram filhos chamados Krodha (Ira) e Hiṁsā (Inveja), e da combinação destes nasceram Kali e sua irmã Durukti (Palavras Ásperas).
VERSO 4: Ó maior de todos os homens bons, da combinação de Kali com Palavras Ásperas nasceram filhos chamados Mṛtyu (Morte) e Bhīti (Temor). Da combinação de Mṛtyu e Bhīti, vieram filhos chamados Yātanā (Dor Excessiva) e Niraya (Inferno).
VERSO 5: Meu querido Vidura, acabo de explicar-te resumidamente as causas da devastação. Quem ouve esta descrição três vezes alcança piedade e elimina a contaminação pecaminosa de sua alma.
VERSO 6: Maitreya continuou: Ó melhor da dinastia Kuru, passarei a descrever-te agora os descendentes de Svāyambhuva Manu, que nasceu de uma parte de uma expansão plenária da Suprema Personalidade de Deus.
VERSO 7: Svāyambhuva Manu teve dois filhos com sua esposa, Śatarūpā, e os nomes dos filhos eram Uttānapāda e Priyavrata. Por serem ambos descendentes de uma expansão plenária de Vāsudeva, a Suprema Personalidade de Deus, eles eram muito competentes para governar o universo com a finalidade de manter e proteger os cidadãos.
VERSO 8: O rei Uttānapāda tinha duas rainhas, chamadas Sunīti e Suruci. Suruci era muito mais querida pelo rei; Sunīti, cujo filho chamava-se Dhruva, não era sua favorita.
VERSO 9: Certa vez, o rei Uttānapāda acariciava Uttama, o filho de Suruci, tendo-o sentado em seu colo. Embora Dhruva Mahārāja também tentasse subir ao colo do rei, este não o acolheu muito bem.
VERSO 10: Enquanto o menino, Dhruva Mahārāja, procurava subir ao colo de seu pai, Suruci, sua madrasta, ficou com muita inveja da criança e, cheia de orgulho, colocou-se a falar de modo a ser ouvida pelo próprio rei.
VERSO 11: A rainha Suruci disse a Dhruva Mahārāja: Meu caro menino, não mereces sentar-te no trono ou no colo do rei. Certamente também és filho do rei, mas, por não teres nascido de meu ventre, não estás qualificado para sentar-te no colo de teu pai.
VERSO 12: Meu caro menino, não estás ciente de que não nasceste de meu ventre, mas de outra mulher. Portanto, deves saber que tua tentativa está condenada ao fracasso. Estás tentando satisfazer um desejo que é impossível de ser realizado.
VERSO 13: Se desejas realmente elevar-te ao trono do rei, terás de submeter-te a rigorosas austeridades. Antes de mais nada, deverás satisfazer a Suprema Personalidade de Deus, Nārāyaṇa, e depois, quando fores favorecido por Ele devido a tal adoração, terás de nascer da próxima vez a partir do meu ventre.
VERSO 14: O sábio Maitreya continuou: Meu querido Vidura, assim como uma serpente, quando golpeada por uma vara, respira muito pesadamente, Dhruva Mahārāja, tendo sido golpeado pelas ásperas palavras de sua madrasta, começou a respirar muito pesadamente devido à grande ira. Ao ver que seu pai mantinha-se calado e não protestava, ele imediatamente deixou o palácio e foi ter com sua mãe.
VERSO 15: Quando Dhruva Mahārāja encontrou-se com sua mãe, seus lábios tremiam de raiva, e ele chorava tomado de imensa aflição. A rainha Sunīti imediatamente pegou seu filho no colo, enquanto os residentes do palácio que tinham ouvido todas as palavras ásperas de Suruci relatavam tudo com pormenores. Assim, Sunīti também ficou muito pesarosa.
VERSO 16: Este incidente foi insuportável para a paciência de Sunīti. Ela começou a arder como se estivesse em um incêndio florestal, e, em sua aflição, tornou-se como uma folha queimada e entregou-se a lamentar. Conforme se lembrava das palavras de sua co-esposa, seu brilhante rosto de lótus enchia-se de lágrimas. Ela, então, falou.
VERSO 17: Ela também respirava muito pesadamente, sem saber qual era o verdadeiro remédio para aquela situação dolorosa. Não encontrando remédio algum, ela disse a seu filho: Meu querido filho, não desejes nada de inauspicioso para os outros. Todo aquele que inflige dor aos outros sofre ele mesmo esta dor.
VERSO 18: Sunīti disse: Meu querido filho, tudo o que Suruci falou é verdade, porque o rei, teu pai, não me considera sua esposa ou sequer sua criada. Ele envergonha-se de aceitar-me. Portanto, é um fato que nasceste do ventre de uma mulher desventurada, e cresceste alimentando-te do seio dela.
VERSO 19: Meu querido filho, tudo o que Suruci, tua madrasta, falou, embora muito duro de ouvir, é verdade. Portanto, se desejas realmente sentar-te no mesmo trono que teu meio-irmão, Uttama, então abandona tua atitude invejosa e imediatamente procura executar as instruções de tua madrasta. Sem mais demora, deves ocupar-te em adorar os pés de lótus da Suprema Personalidade de Deus.
VERSO 20: Sunīti continuou: Tão grandiosa é a Suprema Personalidade de Deus que, simplesmente adorando Seus pés de lótus, teu bisavô, o senhor Brahmā, adquiriu as qualificações necessárias para criar este universo. Embora seja não-nascido e o líder de todas as criaturas, ele está situado naquele posto elevado por causa da misericórdia da Suprema Personalidade de Deus, a quem mesmo grandes yogīs adoram, controlando a mente e regulando o ar vital [prāṇa].
VERSO 21: Sunīti informou a seu filho: Teu avô Svāyambhuva Manu executou grandes sacrifícios com distribuição de caridade e, deste modo, com fé e devoção inquebrantáveis, adorou e satisfez a Suprema Personalidade de Deus. Agindo dessa maneira, ele obteve o maior sucesso em felicidade material e, depois disso, atingiu a liberação, a qual é impossível de alcançar adorando os semideuses.
VERSO 22: Meu querido filho, deves também refugiar-te na Suprema Personalidade de Deus, que é muito bondoso com Seus devotos. As pessoas que buscam a liberação do ciclo de nascimentos e mortes refugiam-se sempre aos pés de lótus do Senhor em serviço devocional. Purificando-te mediante a execução da ocupação a ti designada, simplesmente situa a Suprema Personalidade de Deus em teu coração e, sem te desviares por um momento, ocupa-te sempre a serviço dele.
VERSO 23: Meu querido Dhruva, quanto a mim, não encontro ninguém que possa mitigar tua aflição além da Suprema Personalidade de Deus, cujos olhos são como pétalas de lótus. Muitos semideuses tais como o senhor Brahmā buscam o prazer da deusa da fortuna, mas a própria deusa da fortuna, com uma flor de lótus em sua mão, está sempre pronta a prestar serviço ao Senhor Supremo.
VERSO 24: O grande sábio Maitreya continuou: A instrução de Sunīti, a mãe de Dhruva Mahārāja, destinava-se realmente à satisfação de seu objetivo desejado. Portanto, após deliberada consideração e com inteligência e determinação fixa, ele deixou a casa paterna.
VERSO 25: O grande sábio Nārada tomou conhecimento dessa notícia acidentalmente e, compreendendo todas as atividades de Dhruva Mahārāja, ficou maravilhado. Ele se aproximou de Dhruva e, tocando a cabeça do menino com sua mão plenamente virtuosa, falou o seguinte.
VERSO 26: Quão maravilhosos são os poderosos kṣatriyas. Eles não podem tolerar sequer uma leve ofensa contra seu prestígio. Que espantoso! Este menino é apenas uma criança, mas as palavras ásperas de sua madrasta tornaram-se insuportáveis para ele.
VERSO 27: O grande sábio Nārada disse: Meu querido menino, não passas de uma criança cujo apego é a folguedos e outras frivolidades. Por que te deixaste afetar por palavras que feriram tua honra?
VERSO 28: Meu querido Dhruva, se sentes que tua honra foi ferida, ainda assim não tens motivo para insatisfação. Esse tipo de insatisfação é mais um aspecto da energia ilusória; todas as entidades vivas são controladas por suas ações anteriores, daí existirem diferentes variedades de vida, de gozo ou de sofrimento.
VERSO 29: O processo da Suprema Personalidade de Deus é muito maravilhoso. Quem é inteligente deve aceitar esse processo e contentar-se com qualquer coisa que venha, favorável ou desfavorável, por Sua vontade suprema.
VERSO 30: Agora resolveste te submeter ao processo místico de meditação de acordo com a instrução de tua mãe, simplesmente para alcançar a misericórdia do Senhor, porém, na minha opinião, tais austeridades não são possíveis para nenhum homem comum. É muito difícil satisfazer a Suprema Personalidade de Deus.
VERSO 31: Nārada Muni continuou: Após tentar este processo por muitos e muitos nascimentos e permanecerem desapegados da contaminação material, colocando-se continuamente em transe e praticando muitas espécies de austeridades, muitos yogīs místicos mostraram-se incapazes de encontrar o fim do caminho da compreensão de Deus.
VERSO 32: Por esta razão, meu querido menino, não deves esforçar-te por isso: não lograrás o sucesso. É melhor que vás para casa. Quando estiveres crescido, obterás uma oportunidade de executar estas realizações místicas pela misericórdia do Senhor. Poderás, então, dedicar-te a este processo.
VERSO 33: Todos devem tentar manter-se satisfeitos em qualquer condição de vida – seja na aflição, seja na felicidade – que a vontade suprema lhes ofereça. Alguém que persevere dessa maneira é capaz de cruzar a escuridão da ignorância muito facilmente.
VERSO 34: Todo homem deve agir assim: ao encontrar uma pessoa mais qualificada que ele, deve ficar muito satisfeito; ao encontrar uma pessoa menos qualificada, deve ter compaixão dela, e, ao encontrar alguém igual, deve fazer amizade com ele. Dessa maneira, jamais será afetado pelas três espécies de sofrimentos deste mundo material.
VERSO 35: Dhruva Mahārāja disse: Meu querido Senhor Nāradajī, para uma pessoa cujo coração está perturbado pelas condições materiais de felicidade e aflição, tudo o que tão amavelmente acabastes de explicar sobre como atingir a paz de espírito é decerto uma excelente instrução. Mas, quanto a mim, estou coberto pela ignorância, e essa espécie de filosofia não toca meu coração.
VERSO 36: Meu querido senhor, sou muito insolente por não aceitar vossas instruções, mas a culpa não é minha. Devo isso ao fato de ter nascido em família kṣatriya. Minha madrasta, Suruci, trespassou-me o coração com suas palavras ásperas. Portanto, vossas valiosas instruções não penetram em meu coração.
VERSO 37: Ó brāhmaṇa erudito, meu desejo é ocupar uma posição mais elevada do que qualquer posição já atingida dentro dos três mundos por qualquer pessoa, mesmo por meus pais e avós. Por favor, fazei-me o obséquio de aconselhar-me sobre um caminho honesto a seguir, pelo qual eu possa alcançar a meta de minha vida.
VERSO 38: Meu querido senhor, sois um digno filho do senhor Brahmā, e viajais tocando vosso instrumento musical, a vīṇā, para o bem-estar de todo o universo. Sois como o Sol, que gira no universo para o benefício de todos os seres vivos.
VERSO 39: O sábio Maitreya continuou: A grande personalidade Nārada Muni, ao ouvir as palavras de Dhruva Mahārāja, ficou com muita compaixão dele e, a fim de demonstrar-lhe sua imotivada misericórdia, deu-lhe o seguinte bom conselho.
VERSO 40: O grande sábio Nārada disse a Dhruva Mahārāja: A instrução dada por tua mãe, Sunīti, de seguires o caminho do serviço devocional à Suprema Personalidade de Deus, é justamente adequada para ti. Portanto, deves absorver-te inteiramente no serviço devocional ao Senhor.
VERSO 41: Qualquer pessoa que deseje os frutos dos quatro princípios de religiosidade, desenvolvimento econômico, gozo dos sentidos e, finalmente, liberação – deve ocupar-se em serviço devocional à Suprema Personalidade de Deus, visto que a adoração a Seus pés de lótus produz a satisfação de todos esses desejos.
VERSO 42: Meu querido menino, desejo-te, portanto, toda a boa fortuna. Deves ir até a margem do Yamunā, onde existe uma floresta sagrada chamada Madhuvana, e ali purificar-te. Simplesmente indo até ali, uma pessoa aproxima-se mais da Suprema Personalidade de Deus, que sempre vive nesse local.
VERSO 43: Nārada Muni instruiu: Meu querido menino, nas águas do rio Yamunā, que é conhecido como Kālindī, deves tomar três banhos diariamente, pois essa água é muito auspiciosa, sagrada e limpa. Após banhar-te, deves executar os princípios reguladores necessários para o aṣṭāṅga-yoga e, então, sentar-te em teu āsana [assento] em uma posição calma e silenciosa.
VERSO 44: Após sentar-te em teu assento, pratica as três espécies de exercícios respiratórios, e assim gradualmente controla o ar vital, a mente e os sentidos. Liberta-te inteiramente de toda a contaminação material e, com grande paciência, começa a meditar na Suprema Personalidade de Deus.
VERSO 45: [Descreve-se aqui a forma do Senhor.] O rosto do Senhor é perpetuamente belíssimo e de expressão agradável. Para os devotos que O veem, Ele nunca parece insatisfeito, e está sempre disposto a conceder-lhes bênçãos. Seus olhos, Suas sobrancelhas bem decoradas, Seu nariz afilado e Sua ampla testa são todos belíssimos. Ele é mais belo do que todos os semideuses.
VERSO 46: Nārada Muni continuou: A forma do Senhor é sempre jovem. Todo membro e cada parte do Seu corpo são corretamente formados, livres de defeitos. Seus olhos e lábios são rosados como o sol nascente. Ele está sempre disposto a dar abrigo à alma rendida, e qualquer pessoa que tenha a fortuna de contemplá-lO sente completa satisfação. O Senhor é sempre digno de ser o mestre da alma rendida, pois Ele é o oceano de misericórdia.
VERSO 47: Descreve-se ainda o Senhor como portador da marca de Śrīvatsa, ou o assento da deusa da fortuna, e Sua compleição corpórea é de cor azulada profunda. O Senhor é uma pessoa, usa guirlanda de flores e manifesta-Se eternamente com quatro mãos, que seguram [começando da mão esquerda inferior] o búzio, a roda, a maça e a flor de lótus.
VERSO 48: Todo o corpo da Suprema Personalidade de Deus, Vāsudeva, é enfeitado. Ele usa um precioso elmo incrustado de joias, colares e braceletes, Seu pescoço é adornado com a joia Kaustubha, e Ele Se veste com roupas de seda amarela.
VERSO 49: O Senhor está decorado com pequenos sinos dourados em volta de Sua cintura, e Seus pés de lótus são enfeitados com sinos de tornozelo dourados. Todos os aspectos de Seu corpo são muito atrativos e agradáveis aos olhos. Ele é sempre pacífico, calmo e tranquilo e muito agradável aos olhos e à mente.
VERSO 50: Os verdadeiros yogīs meditam na forma transcendental do Senhor enquanto Ele permanece no verticilo do lótus de seus corações, à luz das unhas semelhantes a joias de Seus pés de lótus.
VERSO 51: O Senhor está sempre sorrindo, e o devoto deve constantemente ver o Senhor nessa forma, na qual Ele olha muito misericordiosamente para o devoto. Dessa maneira, o meditador deve contemplar a Suprema Personalidade de Deus, o outorgador de todas as bênçãos.
VERSO 52: Aquele que medita dessa maneira, concentrando a mente na forma sempre auspiciosa do Senhor, liberta-se muito prontamente de toda a contaminação material e não decai da meditação no Senhor.
VERSO 53: Ó filho do rei, agora eu te falarei o mantra que deve ser entoado juntamente com este processo de meditação. Aquele que cuidadosamente entoa este mantra por sete noites pode ver os seres humanos perfeitos que voam pelo céu.
VERSO 54: Oṁ namo bhagavate vāsudevāya. Este é o mantra de doze sílabas para adorar o Senhor Kṛṣṇa. Devem-se instalar as formas físicas do Senhor e, juntamente com o canto do mantra, devem-se oferecer flores e frutas e outras variedades de alimentos exatamente de acordo com as regras e regulações prescritas pelas autoridades. Mas isso deve ser feito levando em conta lugar, tempo e conveniências e inconveniências concomitantes.
VERSO 55: Deve-se adorar o Senhor oferecendo-Lhe água pura, guirlandas de flores puras, frutas, flores e legumes, disponíveis na floresta, ou colhendo gramíneas recém-brotadas, pequenos botões de flores ou até mesmo cascas de árvores, e, se possível, oferecendo-Lhe folhas de tulasī, que são muito queridas pela Suprema Personalidade de Deus.
VERSO 56: É possível adorar uma forma do Senhor feita de elementos físicos tais como terra, água, polpa, madeira e metal. Na floresta, pode-se fazer uma forma com nada mais do que terra e água e adorá-la de acordo com os princípios acima. O devoto que tem pleno controle sobre si mesmo deve ser muito sóbrio e pacífico e deve contentar-se simplesmente em comer as frutas e os vegetais disponíveis na floresta.
VERSO 57: Meu querido Dhruva, além de adorar a Deidade e cantar o mantra três vezes por dia, deves meditar nas atividades transcendentais da Suprema Personalidade de Deus sob Suas diferentes encarnações, como são manifestas por Sua vontade suprema e por Suas potências pessoais.
VERSO 58: Devem-se seguir os passos dos devotos anteriores no que diz respeito a como adorar o Senhor Supremo com a parafernália prescrita, ou deve-se oferecer adoração dentro do coração, recitando o mantra para a Personalidade de Deus, que não é diferente do mantra.
VERSOS 59-60: Qualquer pessoa que desse modo se ocupe em serviço devocional ao Senhor, séria e sinceramente, com mente, palavras e corpo, e que esteja fixa nas atividades dos métodos devocionais prescritos, é abençoada pelo Senhor de acordo com seu desejo. Se um devoto deseja religiosidade material, desenvolvimento econômico, gozo dos sentidos ou liberação do mundo material, ele recebe esses resultados.
VERSO 61: Quem é sério quanto à liberação deve dedicar-se com afinco ao processo do transcendental serviço amoroso, ocupando-se vinte e quatro horas por dia na fase mais elevada de êxtase, e deve certamente afastar-se de todas as atividades de gozo dos sentidos.
VERSO 62: Quando Dhruva Mahārāja, o filho do rei, foi assim aconselhado pelo grande sábio Nārada, ele circum-ambulou Nārada, seu mestre espiritual, e ofereceu-lhe respeitosas reverências. Em seguida, ele partiu rumo a Madhuvana, que está sempre marcada pelas pegadas de lótus do Senhor Kṛṣṇa e que, portanto, é especialmente auspiciosa.
VERSO 63: Depois que Dhruva entrou na floresta Madhuvana para executar serviço devocional, o grande sábio Nārada julgou prudente ir ter com o rei e ver como ele passava em seu palácio. Quando Nārada Muni aproximou-se do palácio, o rei o recebeu adequadamente, oferecendo-lhe as devidas reverências. Após sentar-se confortavelmente, Nārada começou a falar.
VERSO 64: O grande sábio Nārada perguntou: Meu querido rei, teu rosto parece estar murchando, e parece que vens pensando em algo por muitíssimo tempo. Por que isso? Foste impedido de seguir teu caminho de ritos religiosos, desenvolvimento econômico e gozo dos sentidos?
VERSO 65: O rei respondeu: Ó melhor dos brāhmaṇas, sou muito apegado à minha esposa, e sou tão caído que abandonei todo o comportamento misericordioso, mesmo para com meu filho, que tem apenas cinco anos. Eu bani meu filho e sua mãe, muito embora ele seja uma grande alma e um grande devoto.
VERSO 66: Meu querido brāhmaṇa, o rosto do meu filho era como uma flor de lótus. Estou pensando em suas precárias condições. Ele está desprotegido, e talvez esteja com muita fome. Talvez tenha deitado em alguma parte da floresta e os lobos o tenham atacado e comido seu corpo.
VERSO 67: Ai de mim! Vê só como minha esposa me dominou! Imagina só a minha crueldade! Por amor e afeição, o menino tentava subir em meu colo, mas eu não o recebi, nem sequer o acariciei por um momento. Imagina só quão duro é meu coração.
VERSO 68: O grande sábio Nārada respondeu: Meu querido rei, não te aflijas quanto a teu filho. Ele está bem protegido pela Suprema Personalidade de Deus. Embora não estejas realmente informado da influência dele, sua reputação já se espalha pelo mundo inteiro.
VERSO 69: Meu querido rei, teu filho é muito competente. Ele executará atividades que seriam impossíveis mesmo para grandes reis e sábios. Muito em breve, ele terminará sua tarefa e voltará ao lar. Deves saber, também, que ele espalhará tua reputação por todo o mundo.
VERSO 70: O grande Maitreya continuou: O rei Uttānapāda, após ser aconselhado por Nārada Muni, praticamente abandonou todos os deveres em relação ao seu reino, que era muito vasto e amplo, opulento como a deusa da fortuna, e simplesmente colocou-se a pensar em seu filho Dhruva.
VERSO 71: Em outra parte, Dhruva Mahārāja, tendo chegado a Madhuvana, banhou-se no rio Yamunā e jejuou à noite com grande cuidado e atenção. Depois disso, conforme o conselho do grande sábio Nārada, dedicou-se a adorar a Suprema Personalidade de Deus.
VERSO 72: Durante o primeiro mês, Dhruva Mahārāja comeu apenas frutas e amoras silvestres a cada três dias, somente para manter-se vivo, e dessa maneira progrediu em sua adoração à Suprema Personalidade de Deus.
VERSO 73: No segundo mês, Dhruva Mahārāja comeu somente a cada seis dias, e ele usava como comestíveis grama e folhas secas. Assim ele continuou sua adoração.
VERSO 74: No terceiro mês, ele bebeu apenas água a cada nove dias. Assim, ele permanecia inteiramente em transe e adorava a Suprema Personalidade de Deus, que é venerada por versos seletos.
VERSO 75: No quarto mês, Dhruva Mahārāja desenvolveu total domínio sobre o exercício respiratório e, deste modo, inalava ar somente a cada doze dias. Dessa maneira, ele se fixou completamente em sua posição e adorou a Suprema Personalidade de Deus.
VERSO 76: No quinto mês, Mahārāja Dhruva, o filho do rei, já tinha tão perfeito controle de sua respiração que era capaz de ficar em pé sobre apenas uma perna, assim como uma coluna permanece erguida, sem movimento, e concentrar sua mente plenamente no Parabrahman.
VERSO 77: Ele controlou inteiramente os sentidos e seus objetos e, dessa maneira, fixou sua mente na forma da Suprema Personalidade de Deus, não se deixando distrair com nada mais.
VERSO 78: Quando Dhruva Mahārāja atraiu assim a Suprema Personalidade de Deus, que é o refúgio da totalidade da criação material e que é o mestre de todas as entidades vivas, os três mundos começaram a tremer.
VERSO 79: Conforme Dhruva Mahārāja, o filho do rei, mantinha-se estavelmente de pé sobre apenas uma perna, a pressão de seu dedão baixou metade do nível da Terra, assim como um elefante transportado em um bote faz a embarcação balançar para a direita e para a esquerda a cada um de seus passos.
VERSO 80: Quando Dhruva Mahārāja se tornou praticamente uno em peso com o Senhor Viṣṇu, a consciência total, devido à sua plena concentração, fechando todos os poros de seu corpo, a totalidade da respiração universal ficou sufocada, e todos os grandes semideuses em todos os sistemas planetários se sentiram sufocados, refugiando-se, assim, na Suprema Personalidade de Deus.
VERSO 81: Os semideuses disseram: Querido Senhor, sois o refúgio de todas as entidades vivas móveis e imóveis. Sentimos que todas as entidades vivas estão sufocadas, com seus processos respiratórios interrompidos. Nunca experimentamos semelhante coisa. Uma vez que sois o refúgio último de todas as almas rendidas, estamos nos aproximando de Vós: por favor, salvai-nos deste perigo.
VERSO 82: A Suprema Personalidade de Deus respondeu: Meus queridos semideuses, não fiqueis perturbados com isso. Tudo isso se deve à rigorosa austeridade e plena determinação do filho do rei Uttānapāda, que agora está inteiramente absorto em pensar em Mim. Ele obstruiu o processo respiratório universal. Podeis voltar a salvo a vossos respectivos lares. Vou parar os rigorosos atos de austeridade desse menino e ficareis a salvo dessa situação.