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Capítulo Dezesseis

Os Passatempos do Senhor em Sua infância e Juventude

Este capítulo descreve plenamente a kaiśora-līlā do Senhor Caitanya, ou seja, as atividades que Ele executou logo antes de atingir a juventude. Durante essa época, Ele estudou profundamente e venceu estudiosos altamente eruditos em debates. Durante Sua kaiśora-līlā, o Senhor também divertiu-Se na água. Ele foi para a Bengala Oriental conseguir ajuda financeira, cultivar conhecimento e introduzir o movimento de saṅkīrtana. Lá, Ele Se encontrou com Tapana Miśra, quem Ele instruiu sobre o avanço espiritual e ordenou que fosse para Vārāṇasī. Enquanto o Senhor Caitanya Mahāprabhu viajava pela Bengala Oriental, Sua esposa, Lakṣmīdevī, foi mordida por uma serpente, ou pela serpente da saudade, e, dessa maneira, deixou este mundo. Ao voltar para casa, o Senhor encontrou Sua mãe acabrunhada de pesar devido à morte de Lakṣmīdevī. Então, a pedido dela, mais tarde Ele aceitou Viṣṇupriyā-devī como Sua segunda esposa. Este capítulo também descreve o debate do Senhor com Keśava Kāśmīrī, afamado erudito, e a crítica do Senhor à oração feita pelo erudito em glorificação à mãe Ganges. Nessa oração, o Senhor encontrou cinco espécies de ornamentos literários e cinco espécies de falhas literárias, derrotando, assim, o paṇḍita. Mais tarde, o Kāśmīrī Paṇḍita, conhecido como o campeão nacional, submeteu-se à deusa da sabedoria, por cuja ordem ele foi ter com o Senhor Caitanya Mahāprabhu na manhã do dia seguinte para render-Se a Ele.

VERSO 1: Adoro o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu, cuja misericórdia nectárea flui como um grande rio, inundando o universo inteiro. Assim como o rio flui correnteza abaixo, da mesma forma, o Senhor Caitanya é propício especialmente aos caídos.

VERSO 2: Todas as glórias ao Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu! Todas as glórias ao Senhor Nityānanda! Todas as glórias a Advaitacandra! E todas as glórias a todos os devotos do Senhor!

VERSO 3: Viva o Senhor Caitanya Mahāprabhu em Sua idade kaiśora! Tanto a deusa da fortuna quanto a deusa da sabedoria O adoram. A deusa da sabedoria, Sarasvatī, adorou-O em Sua vitória sobre o erudito que vencera o mundo inteiro, e a deusa da fortuna, Lakṣmīdevī, adorou-O em casa. Portanto, já que Ele é o esposo ou Senhor de ambas as deusas, ofereço-Lhe minhas reverências.

VERSO 4: Aos onze anos de idade, Śrī Caitanya Mahāprabhu começou a lecionar e ter alunos. Isso marca o início de Sua idade kaiśora.

VERSO 5: Assim que o Senhor tornou-Se um professor, muitos e muitos alunos vieram a Ele, todos eles admirados ao ouvir Seu modo de explicar.

VERSO 6: O Senhor derrotou toda a classe de eruditos em debates sobre todas as escrituras, mas, devido ao Seu comportamento gentil, nenhum deles ficou triste.

VERSO 7: O Senhor, como professor, fez diversas espécies de travessuras em Seus passatempos esportivos nas águas do Ganges.

VERSO 8: Após alguns dias, o Senhor foi para a Bengala Oriental, e, aonde quer que fosse, introduzia o movimento de saṅkīrtana.

VERSO 9: Maravilhados com a influência da argúcia intelectual do Senhor Caitanya Mahāprabhu, muitas centenas de estudantes vieram a Ele e começaram a estudar sob Sua orientação.

VERSO 10: Na Bengala Oriental, havia um brāhmaṇa chamado Tapana Miśra, que não conseguia descobrir o objetivo da vida nem como alcançá-lo.

VERSO 11: Caso alguém se torne um rato de biblioteca, lendo muitos livros e escrituras e ouvindo muitos comentários e instruções de muitos homens, encher-se-á de dúvidas dentro de seu coração. Não se pode descobrir a meta verdadeira da vida dessa maneira.

VERSO 12: Num sonho, um brāhmaṇa aconselhou Tapana Miśra, que estava desse modo confuso, a ir ter com Nimāi Paṇḍita [Caitanya Mahāprabhu].

VERSO 13: “Por Ele ser o Senhor [īśvara]”, disse-lhe o brāhmaṇa, “sem dúvida poderá dar-te a orientação adequada.”

VERSO 14: Após ver o sonho, Tapana Miśra procurou o abrigo dos pés de lótus do Senhor Caitanya, para quem descreveu todos os detalhes de seu sonho.

VERSO 15: O Senhor, ficando satisfeito, instruiu-o sobre a finalidade da vida e o processo para alcançá-la. Ensinou-lhe que o princípio básico do sucesso é cantar o santo nome do Senhor [o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa].

VERSO 16: Tapana Miśra desejava viver com o Senhor em Navadvīpa, mas o Senhor pediu-lhe que fosse para Vārāṇasī [Benares].

VERSO 17: O Senhor garantiu a Tapana Miśra que eles se encontrariam de novo em Vārāṇasī. Recebendo essa ordem, Tapana Miśra foi para lá.

VERSO 18: Não posso entender os passatempos inconcebíveis do Senhor Caitanya Mahāprabhu, pois, embora Tapana Miśra desejasse viver com Ele em Navadvīpa, o Senhor aconselhou-o a ir para Vārāṇasī.

VERSO 19: Dessa maneira, Śrī Caitanya Mahāprabhu contribuiu com o maior benefício para o povo da Bengala Oriental, ao iniciá-los no hari-nāma, o cantar do mahā-mantra Hare Kṛṣṇa, e ao transformá-los em estudiosos eruditos, educando-os.

VERSO 20: Como o Senhor Se dedicava de diversas maneiras ao trabalho de pregação na Bengala Oriental, Sua esposa, Lakṣmīdevī, ficava muito triste em casa, com saudades de seu esposo.

VERSO 21: Lakṣmīdevī foi picada pela serpente da saudade, cujo veneno provocou sua morte. Assim, ela partiu para o outro mundo. Ela voltou ao lar, voltou ao Supremo.

VERSO 22: O Senhor Caitanya estava ciente do desaparecimento de Lakṣmīdevī, pois Ele é a própria Superalma. Assim, regressou à casa para consolar Sua mãe, Śacīdevī, que estava muito triste por causa da morte de sua nora.

VERSO 23: Quando o Senhor retornou para casa, trazendo muitas riquezas e muitos seguidores, o Senhor falou a Śacīdevī sobre o conhecimento transcendental para aliviá-la do pesar que a afligia.

VERSO 24: Após voltar da Bengala Oriental, Śrī Caitanya Mahāprabhu começou novamente a dedicar-Se à educação de outros. Pelo poder de Sua educação, venceu a todos e, assim, encheu-Se de orgulho.

VERSO 25: Então, o Senhor Caitanya desposou Viṣṇupriya, a deusa da fortuna, após o que venceu um campeão de erudição chamado Keśava Kāśmīrī.

VERSO 26: Anteriormente, Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura fez uma descrição elaborada disso. Aquilo que é evidente não precisa ser examinado em buscas de qualidades e defeitos.

VERSO 27: Prestando minhas reverências a Śrīla Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura, tentarei descrever a parte da análise do Senhor que fez o Digvijayī, ao ouvi-la, sentir-se condenado.

VERSO 28: Em certa noite de lua cheia, o Senhor estava sentado às margens do Ganges com Seus muitos discípulos e conversava sobre assuntos literários.

VERSO 29: Por coincidência, Keśava Kāśmīrī Paṇḍita também chegou ali. Enquanto oferecia suas orações a mãe Ganges, ele encontrou Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 30: O Senhor recebeu-o com adoração, mas, como Keśava Kāśmīrī era muito orgulhoso, mostrou pouquíssima consideração pelo Senhor.

VERSO 31: “Sei que és um professor de gramática”, disse ele, “e que Teu nome é Nimāi Paṇḍita. As pessoas falam muito bem de Tuas aulas de gramática para principiantes.”

VERSO 32: “Sei que ensinas Kalāpa-vyākaraṇa. Disseram-me que Teus alunos são muito peritos no jogo de palavras dessa gramática.”

VERSO 33: O Senhor disse: “Sim, sou conhecido como um professor de gramática, mas, na verdade, não posso infundir conhecimento gramatical em Meus alunos, nem podem eles compreender-Me muito bem.”

VERSO 34: “Meu caro senhor, enquanto tu és um estudioso muito erudito em toda espécie de escrituras e muito experiente em compor poemas, Eu não passo de um menino, um aluno principiante, e nada mais.”

VERSO 35: “Portanto, desejo ouvir-te compor poesia com tua destreza. Gostaríamos de ouvir-te, se fores bondoso conosco, descreveres a glória da mãe Ganges.”

VERSO 36: Ao ouvir isso, o brāhmaṇa, Keśava Kāśmīrī, ficou ainda mais cheio de si e, dentro de uma hora, compôs cem versos descrevendo a mãe Ganges.

VERSO 37: O Senhor elogiou-o, dizendo: “Senhor, não há poeta maior do que tu no mundo inteiro.”

VERSO 38: “Tua poesia é tão difícil que ninguém pode entendê-la senão tu e mãe Sarasvatī, a deusa da sabedoria.”

VERSO 39: “Porém, se explicares o significado de um de teus versos, poderemos todos ouvi-lo de tua própria boca e, assim, ficarmos muito felizes.”

VERSO 40: Keśava Kāśmīrī, o Digvijayī, perguntou que verso Ele desejava que fosse explicado. Então, o Senhor recitou um dos cem versos compostos por Keśava Kāśmīrī.

VERSO 41: “A grandeza da mãe Ganges existe sempre resplandecente. Ela é a mais afortunada, pois emanou dos pés de lótus de Śrī Viṣṇu, a Personalidade de Deus. Ela é a segunda deusa da fortuna, daí ser sempre adorada tanto pelos semideuses quanto pela humanidade. Dotada de todas as qualidades maravilhosas, ela floresce sobre a cabeça do senhor Śiva.”

VERSO 42: Quando o Senhor Caitanya Mahāprabhu lhe pediu que explicasse o significado desse verso, o campeão, muito espantado, perguntou-Lhe o seguinte.

VERSO 43: “Recitei todos os versos como uma ventania. Como pudeste aprender completamente de cor mesmo um dentre esses versos?”

VERSO 44: O Senhor respondeu: “Pela graça do Senhor, pode ser que alguém se torne um grande poeta, e, da mesma forma, por Sua graça, pode ser que outrem se torne um grande śruti-dhara, alguém que pode memorizar qualquer coisa de imediato.”

VERSO 45: Satisfeito com a afirmação do Senhor Caitanya Mahāprabhu, o brāhmaṇa [Keśava Kāśmīrī] explicou o verso citado. Então, o Senhor disse: “Agora, por favor, explica as qualidades especiais e as falhas que há no verso.”

VERSO 46: O brāhmaṇa respondeu: “Não há nem mesmo um traço de falha neste verso. Pelo contrário, ele tem as boas qualidades de metáforas e aliteração.”

VERSO 47: O Senhor disse: “Meu caro senhor, posso dizer-te algo caso não fiques zangado. Podes explicar as falhas deste verso?”

VERSO 48: “Não há dúvidas de que tua poesia está repleta de inventividade e decerto satisfez o Senhor Supremo. Todavia, se a analisarmos minuciosamente, poderemos encontrar tanto boas qualidades quanto falhas.”

VERSO 49: O Senhor concluiu: “Portanto, passemos agora a examinar cuidadosamente esse verso.” O poeta respondeu: “Sim, o verso que recitaste está perfeitamente correto.”

VERSO 50: “És um mero estudante de gramática. O que sabes sobre adornos literários? Não podes examinar essa poesia, pois não sabes nada sobre ela.”

VERSO 51: Assumindo uma posição humilde, Śrī Caitanya Mahāprabhu disse: “Por Eu não estar no teu nível, pedi que Me mostrasses e explicasses as falhas e qualidades de tua poesia.”

VERSO 52: “Sem dúvida, não estudei a bela arte literária. Porém, ouvi falarem sobre ela em círculos mais elevados e, assim, posso examinar esse verso e descobrir nele muitas falhas e muitas boas qualidades.”

VERSO 53: O poeta disse: “Pois bem, deixa-me ver que qualidades e falhas Tu encontraste.” O Senhor respondeu: “Falarei. Por favor, ouve-Me sem irar-se.”

VERSO 54: “Meu caro senhor, neste verso, há cinco falhas e cinco ornamentos literários. Vou demonstrá-los, um após o outro. Por favor, ouve-Me e, então, faz teu julgamento.”

VERSO 55: “Nesse verso, a falha avimṛṣṭa-vidheyāṁśa ocorre duas vezes, e as falhas viruddha-mati, bhagna-krama e punar-ātta ocorrem uma vez cada uma.”

VERSO 56: “A glorificação do Ganges [mahattvaṁ-gaṅgāyāḥ] é o principal assunto desconhecido nesse verso, e o assunto conhecido é indicado pela palavra ‘idam’, que foi colocada após o desconhecido.”

VERSO 57: “Por teres colocado o sujeito conhecido no final, e aquilo que é desconhecido, no começo, a composição está defeituosa, e o significado das palavras torna-se incerto.”

VERSO 58: “Sem mencionar primeiro o que é conhecido, não se deve introduzir o desconhecido, pois aquilo que não tem base sólida nunca pode estabelecer-se em parte alguma.”

VERSO 59: “Na palavra ‘dvitīya-śrī-lakṣmī’ [a segunda deusa da fortuna todo-opulenta], a qualidade de ser uma segunda Lakṣmī é a incógnita. Ao formar essa palavra composta, o significado tornou-se secundário, e o significado pretendido originalmente se perdeu.”

VERSO 60: “Como a palavra dvitīya [segunda] é a incógnita, em sua combinação nessa palavra composta, o significado pretendido de igualdade com Lakṣmī se perdeu.”

VERSO 61: “Não apenas existe a falha avimṛṣṭa-vidheyāṁśa, como também há outra falha, que te mostrarei. Peço a gentileza de que Me ouças com bastante atenção.”

VERSO 62: “Eis outra grande falha. Arranjaste a palavra bhavānī-bhartṛ para tua grande satisfação, mas isso revela a falha da contradição.”

VERSO 63: “A palavra ‘bhavānī’ significa ‘a esposa do senhor Śiva’. Porém, ao mencionarmos o esposo dela, alguém poderia concluir que ela tem outro esposo.”

VERSO 64: “É contraditório ouvir que a esposa do senhor Śiva tem outro esposo. O uso de semelhantes palavras em literatura cria a falha chamada viruddha-mati-kṛt.”

VERSO 65: “Se alguém diz: ‘Coloca esta caridade na mão do esposo da esposa do brāhmaṇa’, ao ouvirmos tais palavras contraditórias, imediatamente entendemos que a esposa do brāhmaṇa tem outro marido.”

VERSO 66: “A afirmação feita através da palavra ‘vibhavati’ [‘floresce’] é completa. Qualificando-a com o adjetivo ‘adbhuta-guṇā’ [qualidades maravilhosas], cria-se a falha da redundância.”

VERSO 67: “Há aliteração extraordinária em três linhas do verso, mas, em uma linha, não há tal aliteração. Essa é a falha chamada ‘desvio’.”

VERSO 68: “Embora haja cinco ornamentos literários decorando esse verso, o verso inteiro foi arruinado por essas cinco apresentações absolutamente defeituosas.”

VERSO 69: “Num verso onde existem dez ornamentos literários, uma só expressão defeituosa põe a perder todo o verso.”

VERSO 70: “Talvez se possa decorar o corpo belo de alguém com joias, mas uma simples mancha de lepra branca faz todo o corpo parecer abominável.”

VERSO 71: “‘Assim como o corpo de alguém, embora bem decorado com ornamentos, se desgraça por uma simples mancha de lepra branca, de forma semelhante, todo um poema se torna inútil devido a uma falha, a despeito das aliterações, símiles e metáforas.’”

VERSO 72: “Agora ouve a descrição dos cinco ornamentos literários. Há dois ornamentos de som e três ornamentos de sentido.”

VERSO 73: “Há um ornamento sonoro de aliteração em três linhas. E, na combinação das palavras Śrī e Lakṣmī, há o ornamento de um toque de redundância.”

VERSO 74: “No arranjo da primeira linha, a letra ‘ta’ ocorre cinco vezes, e o arranjo da terceira linha repete a letra ‘ra’ cinco vezes.”

VERSO 75: “Na quarta linha, a letra ‘bha’ ocorre quatro vezes. Esse arranjo de aliteração é um agradável uso ornamental de sons.”

VERSO 76: “Embora as palavras Śrī e Lakṣmī exprimam o mesmo sentido e sejam, portanto, quase redundantes. Não obstante, elas não são redundantes.”

VERSO 77: “Descrever Lakṣmī como possuidora de Śrī [opulência] faz uma diferença no sentido com um toque de repetição. Esse é o segundo uso ornamental de palavras.”

VERSO 78: “O uso de ‘lakṣmīr iva’ [‘como Lakṣmī’] manifesta o ornamento de sentido chamado upamā [analogia]. Há também o ornamento adicional de sentido chamado virodhābhāsa, ou seja, uma indicação contraditória.”

VERSO 79: “Todos sabem que crescem flores de lótus na água do Ganges. Porém, dizer que o Ganges nasce de uma flor de lótus parece extremamente contraditório.”

VERSO 80: “Mãe Ganges começa a existir a partir dos pés de lótus do Senhor. Embora essa afirmação de que surge água de uma flor de lótus seja uma contradição, em relação ao Senhor Viṣṇu, isso é maravilhoso.”

VERSO 81: “Neste nascimento do Ganges, pela potência inconcebível do Senhor, não há contradição, embora pareça contraditório.”

VERSO 82: “Todos sabem que as flores de lótus crescem na água, mas a água nunca brota de um lótus. No entanto, todas essas contradições são maravilhosamente possíveis em Kṛṣṇa. O grande rio Ganges brotou de Seus pés de lótus.”

VERSO 83: “A verdadeira glória da mãe Ganges é que ela brotou dos pés de lótus do Senhor Viṣṇu. Semelhante hipótese é outro ornamento, chamado anumāna.”

VERSO 84: “Só falei das cinco falhas grosseiras e dos cinco ornamentos literários desse verso, porém, se o considerarmos mais pormenorizadamente, encontraremos falhas ilimitadas.”

VERSO 85: “Adquiriste imaginação poética e inventividade pela graça de teu semideus adorável. Porém, poesia mal revisada é decerto criticável.”

VERSO 86: “Talento poético usado com o devido discernimento é muito puro e, com metáforas e analogias, é deslumbrante.”

VERSO 87: Após ouvir a explicação do Senhor Caitanya Mahāprabhu, o poeta campeão ficou tomado de assombro. Com sua inteligência aturdida, não foi capaz de dizer nada.

VERSO 88: Ele queria dizer algo, mas nada conseguia responder com sua boca. Passou, então, a considerar esse enigma mentalmente.

VERSO 89: “Esse simples menino assombrou minha inteligência. Portanto, posso entender que mãe Sarasvatī está zangada comigo.”

VERSO 90: “Não seria possível para um ser humano dar a explicação maravilhosa que esse menino deu. Portanto, mãe Sarasvatī deve ter falado pessoalmente através de Sua boca.”

VERSO 91: Pensando assim, o paṇḍita disse: “Meu querido Nimāi Paṇḍita, por favor, ouve-me. Tendo ouvido Tua explicação, estou simplesmente maravilhado.”

VERSO 92: “Estou surpreso. Não és estudante de literatura nem tens longa experiência no estudo dos śāstras. Como foste capaz de explicar todos esses pontos críticos?”

VERSO 93: Ouvindo isso e entendendo o coração do paṇḍita, Śrī Caitanya Mahāprabhu respondeu, bem-humorado.

VERSO 94: “Meu caro senhor, não sei o que é boa nem o que é má composição. Porém, deve-se compreender que tudo o que falei foi mãe Sarasvatī que falou.”

VERSO 95: Ao ouvir esse julgamento do Senhor Caitanya Mahāprabhu, o paṇḍita, entristecido, desejou saber por que mãe Sarasvatī valeu-se de um menininho para derrotá-lo.

VERSO 96: “Oferecerei orações e meditação à deusa da sabedoria”, concluiu o campeão, “e lhe perguntarei por que me humilhou tanto por meio desse menino.”

VERSO 97: Na verdade, Sarasvatī havia induzido o campeão a compor seu verso incorretamente. Além disso, quando os dois discutiram sobre o verso, ela encobriu sua inteligência, de modo que a inteligência do Senhor triunfou.

VERSO 98: Quando o poeta campeão foi assim derrotado, todos os discípulos do Senhor ali sentados começaram a rir alto. O Senhor Caitanya Mahāprabhu, porém, pediu-lhes que não fizessem isso e disse o seguinte ao poeta.

VERSO 99: “És o mais erudito dos estudiosos e o maior de todos os grandes poetas, pois, de outro modo, como poderia brotar de tua boca tão bela poesia?”

VERSO 100: “Teu talento poético é como o fluir constante das águas do Ganges. Desconheço alguém no mundo inteiro que possa competir contigo.”

VERSO 101: “Mesmo nas composições poéticas de tão grandes poetas como Bhavabhūti, Jayadeva e Kālidāsa existem muitos exemplos de falhas.”

VERSO 102: “Semelhantes erros devem ser considerados insignificantes. Deve-se apenas observar como esses poetas exibem o seu poder poético.”

VERSO 103: “Não sou sequer digno de ser teu discípulo. Portanto, por favor, não leves a sério qualquer atrevimento infantil que Eu tenha mostrado.”

VERSO 104: “Por favor, volta para casa, e amanhã poderemos encontrar-nos mais uma vez, de modo que Eu possa ouvir explicações dos śāstras a partir de tua boca.”

VERSO 105: Dessa maneira, tanto o poeta quanto Caitanya Mahāprabhu voltaram para casa, e, à noite, o poeta adorou mãe Sarasvatī.

VERSO 106: Num sonho, a deusa o inteirou da posição do Senhor, e o poeta-campeão pôde entender que o Senhor Caitanya Mahāprabhu é a própria Suprema Personalidade de Deus.

VERSO 107: Na manhã seguinte, o poeta foi ter com o Senhor Caitanya e rendeu-se a Seus pés de lótus. O Senhor outorgou-lhe Sua misericórdia e eliminou todo o seu cativeiro ao apego material.

VERSO 108: O poeta campeão era certamente muito afortunado. Sua vida foi bem-sucedida por causa de sua vasta erudição e competência cultural, e, assim, ele alcançou o abrigo do Senhor Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 109: Śrīla Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura descreve todos esses incidentes elaboradamente. Eu apenas apresentei os incidentes específicos que ele não descreveu.

VERSO 110: As gotas nectáreas dos passatempos de Śrī Caitanya Mahāprabhu podem satisfazer os sentidos de todos que os ouçam.

VERSO 111: Orando aos pés de lótus de Śrī Rūpa e Śrī Raghunātha, desejando sempre a misericórdia deles, eu, Kṛṣṇadāsa, narro o Śrī Caitanya-caritāmṛta, seguindo seus passos.

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