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Capítulo Três

As Causas do Advento do Senhor Caitanya Mahāprabhu

Neste capítulo, o autor discorre plenamente sobre a razão para o advento de Śrī Caitanya Mahāprabhu. O Senhor Śrī Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, após revelar Seus passatempos como o Senhor Kṛṣṇa, achou por bem descer sob a forma de um devoto para explicar pessoalmente as doces reciprocidades transcendentais de serviço e amor entre Ele próprio e Seus servos, amigos, pais e amantes. Segundo a literatura védica, o dever ocupacional principal da humanidade nesta era de Kali é nāma-saṅkīrtana, ou o canto congregacional do santo nome do Senhor. A encarnação para esta era prega este processo em particular, mas somente o próprio Kṛṣṇa pode explicar o íntimo serviço amoroso executado nas quatro variedades principais de relações amorosas entre o Senhor Supremo e Seus devotos. Portanto, o Senhor Kṛṣṇa apareceu pessoalmente, com Suas porções plenárias, como o Senhor Caitanya. Como se afirma neste capítulo, o Senhor Kṛṣṇa apareceu pessoalmente em Navadvīpa sob a forma de Śrī Kṛṣṇa Caitanya Mahāprabhu, somente para esse propósito.

Kṛṣṇadāsa Kavirāja apresenta aqui muitas evidências autênticas do Śrīmad-Bhāgavatam e de outras escrituras, para comprovar a identidade do Senhor Caitanya como o próprio Śrī Kṛṣṇa. Ele descreve sintomas corpóreos no Senhor Caitanya que são visíveis apenas na pessoa do Senhor Supremo, e prova que o Senhor Caitanya apareceu com Seus associados pessoais, como Śrī Nityānanda, Advaita, Gadādhara, Śrīvāsa e outros devotos, para pregar a importância especial de cantar Hare Kṛṣṇa. O aparecimento do Senhor Caitanya é tão significativo quanto confidencial. Ele pode ser apreciado somente por devotos puros e somente por meio do processo de serviço devocional. O Senhor tentou ocultar Sua identidade como a Suprema Personalidade de Deus, apresentando-Se como um devoto, mas Seus devotos puros conseguiram reconhecê-lO por causa de Seus aspectos especiais. Os Vedas e os Purāṇas predizem o aparecimento do Senhor Caitanya, mas, mesmo assim, às vezes chamam-nO, significativamente, de o advento disfarçado da Suprema Personalidade de Deus.

Advaita Ācārya era contemporâneo do pai do Senhor Caitanya. Ele sentia-se desolado perante as condições do mundo porque, mesmo após o aparecimento do Senhor Kṛṣṇa, ninguém se interessava pelo serviço devocional a Kṛṣṇa. Esse esquecimento era tão esmagador que Advaita Prabhu convenceu-se de que ninguém senão o próprio Senhor Kṛṣṇa poderia iluminar o povo sobre o serviço devocional ao Senhor Supremo. Portanto, Advaita pediu ao Senhor Kṛṣṇa que aparecesse como o Senhor Caitanya. Ele suplicou que o Senhor aparecesse, fazendo oferendas com folhas de tulasī e água do Ganges. Satisfazendo-Se com Seus devotos puros, o Senhor desce para satisfazê-los. Sendo assim, satisfeito com Advaita Ācārya, o Senhor Caitanya apareceu.

VERSO 1: Ofereço minhas respeitosas reverências a Śrī Caitanya Mahāprabhu. Pela potência do abrigo de Seus pés de lótus, mesmo um tolo pode colher as joias preciosas da verdade conclusiva nas minas das escrituras reveladas.

VERSO 2: Todas as glórias ao Senhor Caitanya. Todas as glórias ao Senhor Nityānanda. Todas as glórias a Advaitacandra. E todas as glórias a todos os devotos do Senhor Caitanya.

VERSO 3: Acabo de dar o significado do terceiro verso. Agora, ó devotos, por favor, escutai o significado do quarto verso com toda a atenção.

VERSO 4: “Que este Senhor, que é conhecido como o filho de Śrīmatī Śacī-devī, situe-Se transcendentalmente no canto mais recôndito de vossos corações. Resplandecente com a irradiância do ouro derretido, Ele aparece na era de Kali por Sua misericórdia imotivada para outorgar o que nenhuma outra encarnação jamais outorgou antes: a mais elevada doçura do serviço devocional, a doçura do amor conjugal.”

VERSO 5: O Senhor Kṛṣṇa, o filho do rei de Vraja, é o Senhor Supremo. Ele goza eternamente de passatempos transcendentais em Sua morada eterna, Goloka, que inclui Vrajadhāma.

VERSO 6: Uma vez em cada dia de Brahmā, Ele desce a este mundo para manifestar Seus passatempos transcendentais.

VERSO 7: Sabemos que existem quatro eras [yugas], a saber, Satya, Tretā, Dvāpara e Kali. Essas quatro juntas compreendem um divya-yuga.

VERSO 8: Setenta e um divya-yugas constituem um manvantara. Existem quatorze manvantaras em cada dia de Brahmā.

VERSO 9: O Manu atual, que é o sétimo, chama-se Vaivasvata [o filho de Vivasvān]. Até agora, passaram-se vinte e sete divya-yugas [27 x 4.320.000 anos solares] de sua era.

VERSO 10: No fim do Dvāpara-yuga do vigésimo oitavo divya-yuga, o Senhor Kṛṣṇa aparece na Terra com toda a parafernália de Sua Vrajadhāma eterna.

VERSO 11: As quatro doçuras [rasas] transcendentais são servidão [dāsya], amizade [sakhya], afeição de pai ou mãe [vātsalya] e amor conjugal [śṛṅgāra]. O Senhor Kṛṣṇa é conquistado pelos devotos que nutrem esses quatro relacionamentos.

VERSO 12: Absorto em tal amor transcendental, o Senhor Śrī Kṛṣṇa desfruta em Vraja com Seus devotados servos, amigos, pais e amantes conjugais.

VERSO 13: O Senhor Kṛṣṇa goza de Seus passatempos transcendentais tanto quanto deseje, após o que desaparece. No entanto, após desaparecer, Ele pensa assim:

VERSO 14: “Já faz muito tempo que não concedo aos habitantes do mundo o imaculado serviço amoroso a Mim. Sem tal apego amoroso, a existência do mundo material é inútil.”

VERSO 15: “Em toda parte do mundo, as pessoas Me adoram segundo preceitos escriturais. Porém, pela mera observância de tais princípios reguladores, não se podem obter os sentimentos amorosos dos devotos que vivem em Vrajabhūmi.”

VERSO 16: “Ao conhecer Minhas opulências, o mundo inteiro contempla-Me com respeito e veneração. Contudo, a débil devoção resultante de tal reverência não Me atrai.”

VERSO 17: “Quem executar tal serviço devocional regulado com respeito e veneração poderá ir para Vaikuṇṭha, alcançando as quatro espécies de liberação.”

VERSO 18: “Essas liberações são sārṣṭi [atingir opulências iguais às do Senhor], sārūpya [ter uma forma semelhante à do Senhor], sāmīpya [viver como companheiro pessoal do Senhor] e sālokya [viver num planeta Vaikuṇṭha]. Contudo, os devotos jamais aceitam sāyujya, já que isso é unidade com Brahman.”

VERSO 19: “Eu vou inaugurar pessoalmente a religião da era – nāma-saṅkīrtana, o canto congregacional do santo nome. Vou fazer o mundo dançar em êxtase, experimentando as quatro doçuras do serviço devocional amoroso.”

VERSO 20: “Aceitarei o papel de um devoto, e ensinarei o serviço devocional, praticando-o Eu mesmo.”

VERSO 21: “A menos que a própria pessoa pratique o serviço devocional, ela não pode ensiná-lo a outros. De fato, confirma-se essa conclusão em toda a Gītā e em todo o Bhāgavatam.”

VERSO 22: “‘Sempre e onde quer que haja um declínio na prática religiosa e um aumento predominante de irreligião, ó descendente de Bharata – nessa altura, Eu próprio desço.’”

VERSO 23: “‘Para salvar os piedosos e aniquilar os canalhas, bem como para restabelecer os princípios da religião, Eu próprio apareço, milênio após milênio.’”

VERSO 24: “‘Se eu não mostrasse os princípios de religião apropriados, todos estes mundos estariam arruinados. Eu seria a causa de população indesejada e prejudicaria todos esses seres vivos.’”

VERSO 25: “‘As pessoas comuns seguem quaisquer ações que um grande homem execute. E o mundo inteiro copia quaisquer padrões que ele estabeleça por seus atos exemplares.’”

VERSO 26: “Minhas porções plenárias podem estabelecer os princípios da religião para cada era. Contudo, ninguém a não ser Eu pode outorgar a espécie de serviço amoroso executado pelos residentes de Vraja.”

VERSO 27: “Pode ser que haja muitas encarnações plenamente auspiciosas da Personalidade de Deus, mas quem além do Senhor Śrī Kṛṣṇa pode outorgar amor de Deus às almas rendidas?”

VERSO 28: “Portanto, acompanhado de Meus devotos, aparecerei na Terra e executarei variados passatempos coloridos.”

VERSO 29: Pensando assim, o próprio Śrī Kṛṣṇa, a Personalidade de Deus, desceu em Nadia, nos primórdios da era de Kali.

VERSO 30: Assim, o Senhor Caitanya, que é como um leão, aparece em Navadvīpa. Ele tem os ombros de um leão, os poderes de um leão e a voz estrondosa de um leão.

VERSO 31: Que esse leão Se sente no âmago do coração de todo ser vivo. Que assim, com Seu urro estrondoso, Ele afaste nossos vícios elefânticos.

VERSO 32: Em Seus passatempos iniciais, Ele é conhecido como Viśvambhara porque inunda o mundo com o néctar da devoção e, assim, salva os seres vivos.

VERSO 33: A raiz verbal “ḍubhṛñ” [que é a raiz da palavra “viśvambhara”] indica nutrição e manutenção. Ele [o Senhor Caitanya] nutre e mantém os três mundos, distribuindo amor a Deus.

VERSO 34: Em Seus passatempos posteriores, Ele é conhecido como Senhor Śrī Kṛṣṇa Caitanya. Ele abençoa o mundo inteiro, ensinando sobre o nome e a fama do Senhor Śrī Kṛṣṇa.

VERSO 35: Sabendo que Ele [o Senhor Caitanya] é a encarnação para Kali-yuga, Gargamuni predisse o aparecimento dEle durante a cerimônia de dar o nome a Kṛṣṇa.

VERSO 36: “Este menino [Kṛṣṇa] tem outras três cores – branca, vermelha e amarela – conforme aparece em diferentes eras. Ele acaba de aparecer numa cor enegrecida transcendental.”

VERSO 37: Os três brilhos corpóreos que o Senhor, o esposo da deusa da fortuna, assume nas eras de Satya, Tretā e Kali são branco, vermelho e amarelo, respectivamente.

VERSO 38: Agora, em Dvāpara-yuga, o Senhor descera com uma tez enegrecida. Essa é a essência das afirmações encontradas nos Purāṇas e em outros textos védicos com referência ao contexto.

VERSO 39: “Em Dvāpara-yuga, a Personalidade de Deus aparece com tez enegrecida. Ele Se veste de amarelo, traz Suas próprias armas e está decorado com a joia Kaustubha e marcas de Śrīvatsa. É assim que se descrevem Seus sintomas.”

VERSO 40: A prática religiosa para a era de Kali é difundir as glórias do santo nome. Foi apenas com este objetivo que o Senhor desceu como o Senhor Caitanya, com cor amarela.

VERSO 41: O brilho de Seu vasto corpo assemelha-se ao ouro derretido. O profundo som de Sua voz supera o trovejar de nuvens recém-reunidas.

VERSO 42: Louva-se alguém como uma grande personalidade se ele tem altura e largura equivalentes a quatro cúbitos de seu próprio braço.

VERSO 43: Tal pessoa é chamada “nyagrodha-parimaṇḍala”. Śrī Caitanya Mahāprabhu, que personifica todas as boas qualidades, tem o corpo de um nyagrodha-parimaṇḍala.

VERSO 44: Seus braços são suficientemente longos para atingir Seus joelhos, Seus olhos são como flores de lótus, Seu nariz é como uma flor de gergelim, e Seu rosto é belo como a Lua.

VERSO 45: Ele é pacífico, autocontrolado e plenamente devotado ao transcendental serviço do Senhor Śrī Kṛṣṇa. Ele é afetuoso com Seus devotos, amável e equânime com todos os seres vivos.

VERSO 46: Decorado com braceletes e pulseiras de sândalo e untado com polpa de sândalo, Ele usa esses adornos especialmente para dançar em śrī-kṛṣṇa-saṅkīrtana.

VERSO 47: Lembrando-se de todas essas qualidades do Senhor Caitanya, o sábio Vaiśampāyana incluiu Seu nome no Viṣṇu-sahasra-nāma.

VERSO 48: Os passatempos do Senhor Caitanya dividem-se em duas partes – os passatempos iniciais [ādi-līlā] e os passatempos posteriores [śeṣa-līlā]. Ele tem quatro nomes em cada uma dessas duas līlās.

VERSO 49: “Em Seus passatempos iniciais, Ele aparece como um chefe de família, com tez dourada. Seus membros são belos, e Seu corpo, untado com polpa de sândalo, parece ouro derretido. Em Seus passatempos posteriores, Ele aceita a ordem de sannyāsa, e é equânime e pacífico. Ele é a morada suprema da paz e da devoção, pois faz calar os não-devotos impersonalistas.”

VERSO 50: O Śrīmad-Bhāgavatam declara e repete que a essência da religião na era de Kali é o canto do santo nome de Kṛṣṇa.

VERSO 51: “Ó rei, assim o povo em Dvāpara-yuga adorava o Senhor do universo. Em Kali-yuga, também adoram a Suprema Personalidade de Deus segundo as regulações das escrituras reveladas. Por favor, ouve-me falar sobre isso agora.”

VERSO 52: “Na era de Kali, as pessoas inteligentes executam o canto congregacional para adorar a encarnação de Deus que constantemente canta o nome de Kṛṣṇa. Embora não tenha tez enegrecida, Ele é o próprio Kṛṣṇa. Seus associados, servos, armas e companheiros íntimos O acompanham.”

VERSO 53: Meus queridos irmãos, por favor, escutai todas estas glórias do Senhor Caitanya. Este verso resume claramente Suas atividades e características.

VERSO 54: As duas sílabas “kṛṣ-ṇa” estão sempre em Sua boca; ou então, Ele constantemente descreve Kṛṣṇa com grande prazer.

VERSO 55: Esses são dois significados da expressão “kṛṣṇa- varṇa”. Na verdade, nada mais além de Kṛṣṇa brota de Sua boca.

VERSO 56: Se alguém tentar descrevê-lO como sendo de tez enegrecida, o próximo adjetivo [tviṣā akṛṣṇam] irá contradizê-lo imediatamente.

VERSO 57: Certamente Sua tez não é enegrecida. Na verdade, o fato de Ele não ser negro indica que Sua tez é amarela.

VERSO 58: “Executando o sacrifício do canto congregacional do santo nome, sábios eruditos na era de Kali adoram o Senhor Kṛṣṇa, que agora não é negro devido ao grande extravasar dos sentimentos de Śrīmatī Rādhārāṇī. Ele é a única Deidade adorável para os paramahaṁsas, que atingiram a fase mais elevada da quarta ordem [sannyāsa]. Que essa Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Caitanya, nos mostre Sua grande misericórdia imotivada.”

VERSO 59: Pode-se ver vividamente Sua brilhante tez de ouro derretido, que dissipa a escuridão da ignorância.

VERSO 60: A vida pecaminosa dos seres vivos é consequência da ignorância. Para destruir essa ignorância, Ele traz conSigo diversas armas, tais como Seus associados plenários, Seus devotos e o santo nome.

VERSO 61: A maior ignorância consiste em atividades, quer religiosas, quer irreligiosas, que são contrárias ao serviço devocional. Deve-se encará-las como pecados [kalmaṣa].

VERSO 62: Erguendo Seus braços, cantando o santo nome e olhando para todos com profundo amor, Ele elimina todos os pecados e inunda a todos com amor por Deus.

VERSO 63: “Que a Suprema Personalidade de Deus sob a forma do Senhor Śrī Caitanya conceda-nos Sua misericórdia imotivada. Seu olhar sorridente dissipa de imediato todas as apreensões do mundo, e Suas próprias palavras vivificam as auspiciosas trepadeiras da devoção, expandindo suas folhas. Abrigar-se a Seus pés de lótus invoca transcendental amor por Deus imediatamente.”

VERSO 64: Qualquer pessoa que contemple Seu belo corpo ou belo rosto livra-se de todos os pecados e obtém a fortuna do amor a Deus.

VERSO 65: Em outras encarnações, o Senhor desceu com exércitos e armas, mas, nesta encarnação, Seus soldados são Suas partes plenárias e Seus associados.

VERSO 66: “O Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu é sempre a Deidade mais adorável para os semideuses, incluindo o senhor Śiva e o senhor Brahmā, que vieram vestidos como homens comuns, trazendo amor por Ele. Ele ensina a Seus próprios devotos o Seu próprio serviço devocional puro. Será que Ele novamente será o objeto de minha visão?”

VERSO 67: Suas partes plenárias e associados exercem a função de armas como seus próprios deveres específicos. Por favor, ouvi-me enquanto dou outro significado da palavra “āṅga”.

VERSO 68: Segundo a evidência das escrituras reveladas, um membro do corpo [aṅga] é chamado também de parte [aṁśa], e uma parte de um membro chama-se parte parcial [upāṅga].

VERSO 69: “Ó Senhor dos senhores, sois o vidente de toda a criação. De fato, sois a vida mais querida de todos. Acaso não sois, portanto, meu pai, Nārāyaṇa? ‘Nārāyaṇa’ refere-se àquele cuja morada fica na água nascida de Nara [Garbhodakaśāyī Viṣṇu], e esse Nārāyaṇa é Vossa porção plenária. Todas as Vossas porções plenárias são transcendentais. Elas são absolutas e não são criações de māyā.”

VERSO 70: A manifestação do Nārāyaṇa que predomina no coração de todos, bem como o Nārāyaṇa que vive nas águas [Kāraṇa, Garbha e Kṣīra], é Vossa porção plenária. Portanto, sois o Nārāyaṇa original.

VERSO 71: Na verdade, a palavra “aṅga” refere-se a porções plenárias. Tais manifestações não devem jamais ser consideradas produtos da natureza material, pois todas elas são transcendentais, plenas de conhecimento e bem-aventurança.

VERSO 72: Tanto Śrī Advaita Prabhu quanto Śrī Nityānanda Prabhu são porções plenárias do Senhor Caitanya. Assim, Eles são os membros [aṅgas] de Seu corpo. As partes desses dois membros chamam-se upāṅgas.

VERSO 73: Sendo assim, o Senhor está equipado com armas afiadas sob a forma de Suas partes e porções plenárias. Todas essas armas são competentes o bastante para esmagar os ateístas sem fé.

VERSO 74: Śrī Nityānanda Gosāñi é diretamente Haladhara [o Senhor Balarāma], e Advaita Ācārya é a própria Personalidade de Deus.

VERSO 75: Esses dois capitães, com Seus soldados, tais como Śrīvāsa Ṭhākura, viajam por toda parte, cantando o santo nome do Senhor.

VERSO 76: As próprias características do Senhor Nityānanda indicam que Ele é o subjugador dos descrentes. Todos os descrentes e pecados fogem dos altos brados de Advaita Ācārya.

VERSO 77: O Senhor Śrī Kṛṣṇa Caitanya é o iniciador do saṅkīrtana [canto congregacional do santo nome do Senhor]. Aquele que O adora através do saṅkīrtana é realmente afortunado.

VERSO 78: Uma pessoa assim é realmente inteligente, ao passo que outros, que têm apenas um pobre fundo de conhecimento, são forçados a submeter-se a um ciclo de repetidos nascimentos e mortes. De todas as execuções de sacrifício, o canto do santo nome do Senhor é a mais sublime.

VERSO 79: Quem diz que dez milhões de sacrifícios aśvamedha equivalem ao canto do santo nome do Senhor Kṛṣṇa é, sem dúvidas, um ateísta. Yamarāja certamente o punirá.

VERSO 80: Na auspiciosa introdução do Bhāgavata-sandarbha, Śrīla Jīva Gosvāmī dá como explicação o seguinte verso.

VERSO 81: “Refugio-me no Senhor Śrī Kṛṣṇa Caitanya Mahāprabhu, que externamente tem compleição clara, mas que, internamente, é o próprio Kṛṣṇa. Nesta era de Kali, Ele revela Suas expansões [Seus aṅgas e upāṅgas], executando o canto congregacional do santo nome do Senhor.”

VERSO 82: Nos Upa-purāṇas, ouvimos Śrī Kṛṣṇa mostrando Sua misericórdia a Vyāsadeva ao falar-lhe o seguinte.

VERSO 83: “Ó brāhmaṇa erudito, às vezes Eu aceito a ordem de vida renunciada para induzir as pessoas caídas da era de Kali a aceitarem o serviço devocional ao Senhor.”

VERSO 84: O Śrīmad-Bhāgavatam, o Mahābhārata, os Purāṇas e outros textos védicos – todos eles dão evidência para provar que o Senhor Śrī Kṛṣṇa Caitanya Mahāprabhu é a encarnação de Kṛṣṇa.

VERSO 85: Além disso, pode-se ver diretamente a manifesta influência do Senhor Caitanya em Seus atos incomuns e em Sua incomum compreensão consciente de Kṛṣṇa.

VERSO 86: Porém, assim como corujas não veem os raios do sol, descrentes sem fé não veem o que está claramente evidente.

VERSO 87: “Ó meu Senhor, aqueles que são influenciados por princípios demoníacos não podem compreender-Vos, embora sejais claramente o Supremo devido a Vossas atividades magnânimas, formas, caráter e poder incomum, confirmados por todas as escrituras reveladas na qualidade da bondade e pelos célebres transcendentalistas na natureza divina.”

VERSO 88: O Senhor Śrī Kṛṣṇa tenta ocultar-Se de diversas maneiras, mas, de qualquer modo, Seus devotos puros conhecem-nO como Ele é.

VERSO 89: “Ó meu Senhor, tudo na natureza material é limitado por tempo, espaço e pensamento. No entanto, Vossas características são sempre transcendentais a tais limitações, pois são inigualáveis e insuperáveis. Vez por outra, Vós ocultais essas características com Vossa própria energia, mas, de qualquer maneira, Vossos devotos imaculados são sempre capazes de ver-Vos em todas as circunstâncias.”

VERSO 90: Aqueles cuja natureza é demoníaca não podem jamais conhecer Kṛṣṇa, mas Ele não pode esconder-Se de Seus devotos puros.

VERSO 91: “Há duas classes de homens no mundo criado – a dos demônios e a dos divinos. Os devotos do Senhor Viṣṇu são divinos, ao passo que aqueles que são justamente o oposto chamam-se demônios.”

VERSO 92: Advaita Ācārya Gosvāmī é uma encarnação do Senhor como devoto. Seus altos brados foram a causa da encarnação de Kṛṣṇa.

VERSO 93: Sempre que Śrī Kṛṣṇa deseja manifestar Sua encarnação na Terra, primeiramente Ele cria as encarnações de Seus respeitáveis predecessores.

VERSO 94: Assim, respeitáveis personalidades, tais como Seu pai, Sua mãe e Seu mestre espiritual, nascem todos na Terra primeiro.

VERSO 95: Mādhavendra Purī, Īśvara Purī, Śrīmatī Śacīmātā e Śrīla Jagannātha Miśra, todos apareceram com Śrī Advaita Ācārya.

VERSO 96: Ao aparecer, Advaita Ācārya encontrou o mundo desprovido de serviço devocional a Śrī Kṛṣṇa, pois as pessoas estavam absortas em afazeres materiais.

VERSO 97: Todos estavam envolvidos com gozo material, quer pecaminosa, quer virtuosamente. Ninguém se interessava no transcendental serviço ao Senhor, que pode dar alívio total à repetição de nascimentos e mortes.

VERSO 98: Vendo as atividades do mundo, o Ācārya sentiu compaixão, e colocou-se a considerar como poderia agir para o benefício do povo.

VERSO 99: “Caso Śrī Kṛṣṇa aparecesse como uma encarnação, Ele próprio, por Seu exemplo pessoal, poderia pregar devoção.”

VERSO 100: “Nesta era de Kali, não há outra religião além do canto do santo nome do Senhor, mas como o Senhor aparecerá como uma encarnação nesta era?”

VERSO 101: “Hei de adorar a Kṛṣṇa em estado mental purificado. Vou suplicar-Lhe constantemente, com toda a humildade.”

VERSO 102: “Meu nome, ‘Advaita’, será apropriado caso Eu seja capaz de induzir Kṛṣṇa a inaugurar o movimento do canto do santo nome.”

VERSO 103: Enquanto pensava sobre como agradar a Kṛṣṇa adorando-O, o seguinte verso veio à Sua mente.

VERSO 104: “Śrī Kṛṣṇa, que é muito afetuoso com Seus devotos, vende-Se a um devoto que Lhe oferece uma folha de tulasī e um punhado dágua.”

VERSOS 105-106: Advaita Ācārya considerou o significado do verso dessa maneira: “Não encontrando maneira alguma de retribuir Sua dívida àquele que Lhe oferece uma folha de tulasī e água, o Senhor Kṛṣṇa pensa: ‘Não há riqueza em Minha posse que se equipare a uma folha de tulasī e água.’”

VERSO 107: Sendo assim, o Senhor salda Sua dívida oferecendo-Se ao devoto. Considerando isso, o Ācārya colocou-se a adorar o Senhor.

VERSO 108: Pensando nos pés de lótus de Śrī Kṛṣṇa, Ele constantemente oferecia brotos de tulasī em água do Ganges.

VERSO 109: Ele invocou Śrī Kṛṣṇa em altos brados e, assim, possibilitou o aparecimento de Kṛṣṇa.

VERSO 110: Portanto, esta invocação de Advaita Ācārya é a razão principal para a descida de Śrī Caitanya. O Senhor, o protetor da religião, aparece pelo desejo de Seu devoto.

VERSO 111: “Ó meu Senhor, sempre habitais na visão e na audição de Vossos devotos puros. Viveis também em seus corações de lótus, purificados pelo serviço devocional. Ó meu Senhor, a quem orações enaltecedoras glorificam, mostrais favor especial a Vossos devotos, manifestando-Vos sob as formas eternas nas quais eles Vos acolhem.”

VERSO 112: A essência do significado deste verso é que o Senhor Kṛṣṇa aparece sob todas as Suas formas eternas e inumeráveis por causa dos desejos de Seus devotos puros.

VERSO 113: Assim, com certeza determinei o significado do quarto verso. O Senhor Gaurāṅga [o Senhor Caitanya] apareceu como uma encarnação para pregar amor imaculado a Deus.

VERSO 114: Orando aos pés de lótus de Śrī Rūpa e Śrī Raghunātha, desejando sempre a misericórdia deles, eu, Kṛṣṇadāsa, narro o Śrī Caitanya-caritāmṛta, seguindo seus passos.

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