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Capítulo Cinco

As Glórias do Senhor Nityānanda Balarāma

Este capítulo é principalmente dedicado a descrever a natureza essencial e as glórias de Śrī Nityānanda Prabhu. O Senhor Śrī Kṛṣṇa é a Personalidade de Deus absoluta, e Sua primeira expansão em uma forma para passatempos é Śrī Balarāma.

Além dos limites deste mundo material está o céu espiritual, paravyoma, que tem muitos planetas espirituais, dentre os quais o supremo chama-se Kṛṣṇaloka. Kṛṣṇaloka, a morada de Kṛṣṇa, tem três divisões, conhecidas como Dvārakā, Mathurā e Gokula. Nessa morada, a Personalidade de Deus expande-Se em quatro porções plenárias: Kṛṣṇa, Balarāma, Pradyumna (o Cupido transcendental) e Aniruddha. Eles são conhecidos como as formas quádruplas originais.

Em Kṛṣṇaloka, existe um local transcendental conhecido como Śvetadvīpa, ou Vṛndāvana. Abaixo de Kṛṣṇaloka, no céu espiritual, estão os planetas Vaikuṇṭha. Em cada planeta Vaikuṇṭha está presente um Nārāyaṇa de quatro braços, expandido da primeira manifestação quádrupla. A Personalidade de Deus conhecida como Śrī Balarāma em Kṛṣṇaloka é o Saṅkarṣaṇa original (Deidade atraente), e desse Saṅkarṣaṇa expande-Se outro Saṅkarṣaṇa, chamado Mahā-Saṅkarṣaṇa, que reside em um dos planetas Vaikuṇṭha. Por meio de Sua potência interna, Mahā-Saṅkarṣaṇa mantém a existência transcendental de todos os planetas no céu espiritual, onde todos os seres vivos são almas eternamente liberadas. Ali, a influência da energia material é notável por sua ausência. Nesses planetas está presente a segunda manifestação quádrupla.

Fora dos planetas Vaikuṇṭha está a manifestação impessoal de Śrī Kṛṣṇa, que é conhecida como Brahmaloka. Do outro lado de Brahmaloka está o kāraṇa-samudra espiritual, ou Oceano Causal. A energia material existe no outro lado do Oceano Causal, sem tocá-lo. No Oceano Causal está Mahā-Viṣṇu, a expansão puruṣa original de Saṅkarṣaṇa. Esse Mahā-Viṣṇu lança Seu olhar sobre a energia material, e, mediante um reflexo de Seu corpo transcendental, amalgama-Se dentro dos elementos materiais.

Na qualidade de fonte dos elementos materiais, a energia material é conhecida como pradhāna, e, na qualidade de fonte das manifestações da energia material, é conhecida como māyā. Porém, a natureza material é inerte no sentido de que não tem poder independente para fazer nada. Ela é dotada de poder para fazer a manifestação cósmica através do olhar de Mahā-Viṣṇu. Portanto, a energia material não é a causa original da manifestação material. Pelo contrário, é o olhar transcendental de Mahā-Viṣṇu sobre a natureza material que produz essa manifestação cósmica.

Mahā-Viṣṇu novamente entra em cada universo como o reservatório de todas as entidades vivas, Garbhodakaśāyī Viṣṇu. Do Garbhodakaśāyī Viṣṇu, expande-Se o Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu, a Superalma de todas as entidades vivas. Garbhodakaśāyī Viṣṇu também tem Seu próprio planeta Vaikuṇṭha em cada universo, onde Ele vive como a Superalma ou controlador supremo do universo. Garbhodakaśāyī Viṣṇu deita-Se no meio da porção aquosa do universo e gera a primeira criatura viva do universo, Brahmā. A forma universal imaginária é uma manifestação parcial de Garbhodakaśāyī Viṣṇu.

No planeta Vaikuṇṭha em cada universo, há um oceano de leite, dentro do qual existe uma ilha chamada Śvetadvīpa, onde vive o Senhor Viṣṇu. Portanto, este capítulo descreve dois Śvetadvīpas – um na morada de Kṛṣṇa e outro no oceano de leite em cada universo. O Śvetadvīpa na morada de Kṛṣṇa é idêntico a Vṛndāvana-dhāma, que é o local onde Kṛṣṇa aparece pessoalmente para manifestar Seus passatempos amorosos. No Śvetadvīpa dentro de cada universo está uma forma Śeṣa da Divindade, que serve a Viṣṇu assumindo a forma de Seu guarda-sol, chinelos, sofá, travesseiros, roupas, residência, cordão sagrado, trono e assim por diante.

O Senhor Baladeva em Kṛṣṇaloka é Nityānanda Prabhu. Portanto, Nityānanda Prabhu é o Saṅkarṣaṇa original, e Mahā-Saṅkarṣaṇa e Suas expansões como os puruṣas nos universos são expansões plenárias de Nityānanda Prabhu.

Neste capítulo, o autor narra a história de como deixou o lar para uma peregrinação pessoal a Vṛndāvana, onde alcançou todo o sucesso. Essa narração revela que o lar paterno original e a terra natal do autor ficavam no distrito de Katwa, na vila de Jhāmaṭapura, que fica perto de Naihāṭī. O irmão de Kṛṣṇadāsa Kavirāja convidou Śrī Mīnaketana Rāmadāsa, grande devoto do Senhor Nityānanda, a sua casa, mas um sacerdote chamado Guṇārṇava Miśra não o recebeu bem, e o irmão de Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī, não reconhecendo as glórias do Senhor Nityānanda, também tomou o lado do sacerdote. Por isso, Rāmadāsa ficou ressentido, quebrou sua flauta e foi-se embora. Isso foi um grande desastre para o irmão de Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī. Porém, naquela mesma noite, o próprio Senhor Nityānanda Prabhu agraciou Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī num sonho, mandando-o partir no dia seguinte para Vṛndāvana.

VERSO 1: Ofereço minhas reverências ao Senhor Śrī Nityānanda, a Suprema Personalidade de Deus, cuja opulência é maravilhosa e ilimitada. Por Sua vontade, mesmo um tolo pode compreender Sua identidade.

VERSO 2: Todas as glórias a Śrī Caitanya Mahāprabhu! Todas as glórias ao Senhor Nityānanda! Todas as glórias a Advaita Ācārya! E todas as glórias a todos os devotos do Senhor Caitanya Mahāprabhu!

VERSO 3: Acabo de descrever as glórias de Śrī Kṛṣṇa Caitanya em seis versos. Agora, em cinco versos, vou descrever as glórias do Senhor Nityānanda.

VERSO 4: A Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, é o manancial de todas as encarnações. O Senhor Balarāma é Seu segundo corpo.

VERSO 5: Eles têm ambos a mesma identidade. Diferem apenas em forma. Ele é a primeira expansão corpórea de Kṛṣṇa, e ajuda nos passatempos transcendentais do Senhor Kṛṣṇa.

VERSO 6: Esse Senhor Kṛṣṇa original apareceu em Navadvīpa como o Senhor Caitanya, e Balarāma apareceu com Ele como o Senhor Nityānanda.

VERSO 7: Que Śrī Nityānanda Rāma seja o objeto de minha lembrança constante. Saṅkarṣaṇa, Śeṣa Nāga e os Viṣṇus deitados no Oceano Kāraṇa, no Oceano Garbha e no oceano de leite são Suas porções plenárias e as porções de Suas porções plenárias.

VERSO 8: O Senhor Balarāma é o Saṅkarṣaṇa original. Ele assume cinco outras formas para servir ao Senhor Kṛṣṇa.

VERSO 9: Ele ajuda pessoalmente nos passatempos do Senhor Kṛṣṇa, e executa o trabalho da criação sob quatro outras formas.

VERSO 10: Ele executa as ordens do Senhor Kṛṣṇa no trabalho da criação, e, sob a forma do Senhor Śeṣa, serve a Kṛṣṇa de diversas maneiras.

VERSO 11: Em todas as formas, Ele saboreia a bem-aventurança transcendental de servir a Kṛṣṇa. Esse mesmo Balarāma é o Senhor Nityānanda, o companheiro do Senhor Gaurasundara.

VERSO 12: Acabo de explicar este sétimo verso em quatro versos subsequentes. Através desses versos, o mundo inteiro poderá conhecer a verdade sobre o Senhor Nityānanda.

VERSO 13: Rendo-me aos pés de lótus de Śrī Nityānanda Rāma, que é conhecido como Saṅkarṣaṇa no meio do catur-vyūha [que consiste em Vāsudeva, Saṅkarṣaṇa, Pradyumna e Aniruddha]. Ele possui plenas opulências e reside em Vaikuṇṭhaloka, muito além da criação material.

VERSO 14: Além da natureza material, encontra-se o reino conhecido como paravyoma, o céu espiritual. Como o próprio Senhor Kṛṣṇa, ele possui todos os atributos transcendentais, tais como as seis opulências.

VERSO 15: Essa região Vaikuṇṭha é onipenetrante, infinita e suprema. É a residência do Senhor Kṛṣṇa e Suas encarnações.

VERSO 16: Na região mais elevada desse céu espiritual está o planeta espiritual chamado Kṛṣṇaloka, que se divide em três partes – Dvārakā, Mathurā e Gokula.

VERSO 17: Śrī Gokula, a mais elevada de todas, também se chama Vraja, Goloka, Śvetadvīpa e Vṛndāvana.

VERSO 18: Assim como o corpo transcendental do Senhor Kṛṣṇa, Gokula é onipenetrante, infinita e suprema. Expande-se tanto para cima quanto para baixo, sem restrição alguma.

VERSO 19: Essa morada manifesta-se dentro do mundo material pela vontade do Senhor Kṛṣṇa. É idêntica àquela Gokula original – não são dois corpos diferentes.

VERSO 20: Ali, a terra é pedra filosofal [cintāmaṇi], e as florestas estão repletas de árvores-dos-desejos. Os olhos materiais veem-na como um lugar ordinário.

VERSO 21: Porém, com os olhos de amor a Deus, pode-se ver a verdadeira identidade dela [essa morada] como o local onde o Senhor Kṛṣṇa executa Seus passatempos com os vaqueirinhos e as vaqueirinhas.

VERSO 22: “Adoro Govinda, o Senhor primordial, o primeiro progenitor, que apascenta as vacas, satisfazendo todos os desejos, em moradas construídas com joias espirituais e rodeadas por milhões de árvores-dos-desejos. Ele é sempre servido com grande reverência e afeição por centenas e milhares de deusas da fortuna.”

VERSO 23: Ele manifesta Sua própria forma em Mathurā e em Dvārakā. Ele desfruta de passatempos de diversas maneiras, expandindo-Se nas formas quádruplas.

VERSO 24: Vāsudeva, Saṅkarṣaṇa, Pradyumna e Aniruddha são as formas quádruplas primárias de quem todas as outras formas quádruplas se manifestam. Todas elas são puramente transcendentais.

VERSO 25: Somente nesses três locais [Dvārakā, Mathurā e Gokula] é que o Senhor Kṛṣṇa todo-brincalhão executa Seus intermináveis passatempos com Seus associados pessoais.

VERSO 26: Nos planetas Vaikuṇṭha do céu espiritual, o Senhor manifesta Sua identidade como Nārāyaṇa e executa passatempos de diversas maneiras.

VERSOS 27-28: A forma própria de Kṛṣṇa tem apenas duas mãos, mas, na forma do Senhor Nārāyaṇa, Ele tem quatro mãos. O Senhor Nārāyaṇa traz conSigo um búzio, disco, maça e flor de lótus e é pleno de grande opulência. As energias śrī, bhū e nīlā servem a Seus pés de lótus.

VERSO 29: Embora Seus passatempos sejam Suas únicas funções características, por Sua misericórdia imotivada Ele executa uma atividade em favor das almas caídas.

VERSO 30: Ele libera as entidades vivas caídas, oferecendo-lhes as quatro classes de liberação – sālokya, sāmīpya, sārṣṭi e sārūpya.

VERSO 31: Aqueles que alcançam a liberação brahma-sāyujya não podem ter acesso a Vaikuṇṭha; a residência deles fica fora dos planetas Vaikuṇṭha.

VERSO 32: Fora dos planetas Vaikuṇṭha está a atmosfera da refulgência ofuscante, que consiste nos raios supremamente brilhantes do corpo do Senhor Kṛṣṇa.          

VERSO 33: Essa região, chamada Siddhaloka, está além da natureza material. Sua essência é espiritual, mas ela não tem variedades espirituais.

VERSO 34: É como a refulgência homogênea em volta do Sol. Porém, dentro do Sol, há as quadrigas, cavalos e outras opulências do deus do Sol.

VERSO 35: “Assim como se pode alcançar a morada do Senhor através da devoção por Ele, da mesma maneira, muitos têm alcançado essa meta abandonando suas atividades pecaminosas e absorvendo suas mentes no Senhor através da luxúria, da inveja, do temor ou da afeição.”

VERSO 36: “Onde se afirma que os inimigos e devotos do Senhor alcançam o mesmo destino, isso se refere à unidade última do Brahman e do Senhor Kṛṣṇa. Pode-se compreender isso com o exemplo do Sol e do brilho do Sol, em que o Brahman é como o brilho do Sol, e o próprio Kṛṣṇa é como o Sol.”

VERSO 37: Assim, no céu espiritual, há variedades de passatempos dentro da energia espiritual. Fora dos planetas Vaikuṇṭha aparece o reflexo impessoal de luz.

VERSO 38: Essa refulgência Brahman impessoal consiste apenas nos raios refulgentes do Senhor. Os que são aptos para a liberação sāyujya fundem-se nessa refulgência.

VERSO 39: “Além da região da ignorância [a manifestação cósmica material], encontra-se o reino de Siddhaloka. Os Siddhas residem lá, absortos na bem-aventurança do Brahman. Demônios mortos pelo Senhor também alcançam esse reino.”

VERSO 40: Nesse céu espiritual, nos quatro lados de Nārāyaṇa, estão as segundas expansões das expansões quádruplas de Dvārakā.

VERSO 41: Vāsudeva, Saṅkarṣaṇa, Pradyumna e Aniruddha constituem esta segunda expansão quádrupla. Eles são puramente transcendentais.

VERSO 42: Lá, o aspecto pessoal de Balarāma chamado Mahā-Saṅkarṣaṇa é o abrigo da energia espiritual. Ele é a causa primária, a causa de todas as causas.

VERSO 43: Descreve-se como bondade pura [viśuddha-sattva] uma variedade dos passatempos da energia espiritual. Ela compreende todas as moradas de Vaikuṇṭha.

VERSO 44: Os seis atributos são todos espirituais. Ficai sabendo com certeza que todos eles são manifestações da opulência de Saṅkarṣaṇa.

VERSO 45: Existe uma potência marginal, conhecida como jīva. Mahā-Saṅkarṣaṇa é o abrigo de todas as jīvas.

VERSO 46: Saṅkarṣaṇa é o abrigo original do puruṣa, a partir de quem este mundo é criado e em quem é dissolvido.

VERSO 47: Ele [Saṅkarṣaṇa] é o abrigo de tudo. Ele é maravilhoso sob todos os aspectos, e Suas opulências são infinitas. Nem mesmo Ananta pode descrever Sua glória.

VERSO 48: Esse Saṅkarṣaṇa, que é bondade pura e transcendental, é uma expansão parcial de Nityānanda Balarāma.

VERSO 49: Acabo de explicar sucintamente o oitavo verso. Agora, por favor, escutai com atenção enquanto explico o nono verso.

VERSO 50: Ofereço todas as minhas reverências aos pés de Śrī Nityānanda Rāma, cuja representação parcial chamada Kāraṇodakaśāyī Viṣṇu, deitado sobre o Oceano Kāraṇa, é o puruṣa original, o senhor da energia ilusória e o abrigo de todos os universos.

VERSO 51: Fora dos planetas Vaikuṇṭha está a refulgência Brahman impessoal, e além dessa refulgência está o Oceano Kāraṇa, ou Oceano Causal.

VERSO 52: Rodeando Vaikuṇṭha, há uma massa de água que é interminável, insondável e ilimitada.

VERSO 53: A terra, a água, o fogo, o ar e o éter de Vaikuṇṭha são todos espirituais. Não se encontram elementos materiais ali.

VERSO 54: A água do Oceano Kārana, que é a causa original, é, portanto, espiritual. O sagrado Ganges, que é apenas uma gota dela, purifica as almas caídas.

VERSO 55: Nesse oceano, está deitada uma porção plenária do Senhor Saṅkarṣaṇa.

VERSO 56: Ele é conhecido como o primeiro puruṣa, o criador da totalidade da energia material. Ele, a causa dos universos, a primeira encarnação, lança Seu olhar sobre māyā.

VERSO 57: Māyā-śakti reside fora do Oceano de Kāraṇa. Māyā não pode tocar suas águas.

VERSO 58: Māyā tem duas variedades de existência. Uma chama-se pradhāna, ou prakṛti. Ela fornece os ingredientes do mundo material.

VERSO 59: Como a prakṛti é insípida e inerte, não pode realmente ser a causa do mundo material. O Senhor Kṛṣṇa, porém, mostra a Sua misericórdia, infundindo Sua energia na natureza material insípida e inerte.

VERSO 60: Assim, prakṛti, mediante a energia do Senhor Kṛṣṇa, torna-se a causa secundária, assim como o ferro vira brasa em contato com a energia do fogo.

VERSO 61: Portanto, o Senhor Kṛṣṇa é a causa original da manifestação cósmica. Prakṛti é como as tetas no pescoço de um bode, que não podem fornecer leite algum.

VERSO 62: O aspecto māyā da natureza material é a causa imediata da manifestação cósmica. Contudo, ele também não pode ser a causa verdadeira, pois a causa original é o Senhor Nārāyaṇa.

VERSO 63: Assim como a causa original do vaso de barro é o oleiro, da mesma forma, o criador do mundo material é a primeira encarnação puruṣa [Kāraṇārṇavaśāyī Viṣṇu].

VERSO 64: O Senhor Kṛṣṇa é o criador, e māyā somente O ajuda como Seu instrumento, tal qual o torno do oleiro e outros instrumentos, que são as causas instrumentais de um vaso.

VERSO 65: O primeiro puruṣa lança de longe o Seu olhar para māyā, e assim a fecunda com a semente de vida sob a forma das entidades vivas.

VERSO 66: Os raios projetados de Seu corpo misturam-se com māyā, e assim māyā dá à luz miríades de universos.

VERSO 67: O puruṣa entra em cada um dos incontáveis universos. Ele Se manifesta em tantas formas separadas quantos universos existem.

VERSO 68: Quando o puruṣa exala, os universos manifestam-se em cada expiração.

VERSO 69: Depois disso, quando Ele inala, todos os universos entram novamente em Seu corpo.

VERSO 70: Assim como partículas atômicas de poeira atravessam as frestas de uma janela, da mesma forma, as redes de universos atravessam os poros da pele do puruṣa.

VERSO 71: “Os Brahmās e outros senhores dos mundos mortais surgem dos poros do Mahā-Viṣṇu e permanecem vivos pela duração de uma exalação dEle. Adoro o Senhor primordial, Govinda, pois Mahā-Viṣṇu é uma porção de Sua porção plenária.”

VERSO 72: “Onde estou eu, uma pequena criatura de sete palmos da medida de minha própria mão? Estou enclausurado no universo composto de natureza material, da totalidade da energia material, de falso ego, éter, ar, água e terra. E qual é Vossa glória? Universos ilimitados atravessam os poros de Vosso corpo assim como partículas de poeira que atravessam a fresta de uma janela.”

VERSO 73: A parte da parte de um todo chama-se kalā. Śrī Balarāma é a contraforma do Senhor Govinda.

VERSO 74: A própria expansão de Balarāma chama-Se Mahā-Saṅkarṣaṇa, e Seu fragmento, o puruṣa, é considerado kalā, ou seja, uma parte de uma porção plenária.

VERSO 75: Eu digo que este kalā é Mahā-Viṣṇu. Ele é o Mahā-puruṣa, que é a fonte dos outros puruṣas e que é onipenetrante.

VERSO 76: Garbhodaśāyī e Kṣīrodaśāyī são ambos chamados puruṣas. Eles são porções plenárias de Kāraṇodaśāyī Viṣṇu, o primeiro puruṣa, que é a morada de todos os universos.

VERSO 77: “Viṣṇu tem três formas chamadas puruṣas. A primeira, Mahā-Viṣṇu, é o criador da totalidade da energia material [mahat], a segunda é Garbhodaśāyī, que está situado dentro de cada universo, e a terceira é Kṣīrodaśāyī, que vive no coração de todo ser vivo. Aquele que conhece esses três liberta-se das garras de māyā.”

VERSO 78: Embora Kṣīrodaśāyī Viṣṇu seja chamado de “kalā” do Senhor Kṛṣṇa, Ele é a fonte de Matsya, Kūrma e as outras encarnações.

VERSO 79: “Todas essas encarnações de Deus são, ou porções plenárias, ou partes das porções plenárias dos puruṣa-avatāras. Kṛṣṇa, porém, é a própria Suprema Personalidade de Deus. Em toda era, Ele vem proteger o mundo através de Seus diferentes aspectos quando o mundo é perturbado pelos inimigos de Indra.”

VERSO 80: Esse puruṣa [Kāraṇodakaśāyī Viṣṇu] é o executor da criação, manutenção e destruição. Ele Se manifesta em muitas encarnações, pois Ele é o mantenedor do mundo.

VERSO 81: Esse fragmento do Mahā-puruṣa que aparece para o propósito da criação, manutenção e aniquilação chama-se “uma encarnação”.

VERSO 82: Esse Mahā-puruṣa é idêntico à Personalidade de Deus. Ele é a encarnação original, a semente de todas as outras e o refúgio de tudo.

VERSO 83: “O puruṣa é a encarnação primária da Suprema Personalidade de Deus. O tempo, a natureza, prakṛti (como causa e efeito), a mente, os elementos materiais, o falso ego, os modos da natureza, os sentidos, a forma universal, a independência completa e os seres móveis e imóveis aparecem subsequentemente como opulências dEle.”

VERSO 84: “No começo da criação, o Senhor expandiu-Se sob a forma da encarnação puruṣa, acompanhado por todos os ingredientes da criação material. Primeiro, Ele criou as dezesseis energias principais adequadas à criação. Ele fez isso com o objetivo de manifestar os universos materiais.”

VERSO 85: Embora o Senhor seja o refúgio de tudo e embora todos os universos descansem nEle, Ele, como a Superalma, também é o apoio de tudo.

VERSO 86: Embora esteja assim ligado à energia material de duas maneiras, Ele não tem o menor contato com ela.

VERSO 87: “Esta é a opulência do Senhor. Mesmo que Se encontre dentro da natureza material, Ele não é jamais afetado pelos modos da natureza. Do mesmo modo, aqueles que se rendem a Ele e fixam sua inteligência nEle não se deixam influenciar pelos modos da natureza.”

VERSO 88: Assim, a Bhagavad-gītā também afirma repetidamente que a Verdade Absoluta sempre possui poder inconcebível.

VERSO 89: “Estou situado no mundo material, e o mundo apoia-se em Mim. Porém, ao mesmo tempo, não Me encontro no mundo material, nem, na verdade, ele se apoia em Mim.”

VERSO 90: “Ó Arjuna, deves entender que esta é Minha opulência inconcebível.” Esse é o significado propagado pelo Senhor Kṛṣṇa na Bhagavad-gītā.

VERSO 91: Esse Mahā-puruṣa [Kāraṇodakaśāyī Viṣṇu] é conhecido como uma parte plenária do Senhor Nityānanda Balarāma, o associado favorito do Senhor Caitanya.

VERSO 92: Dessa maneira, acabo de explicar o nono verso, passando agora a explicar o décimo. Por favor, escutai com muita atenção.

VERSO 93: Ofereço todas as minhas reverências aos pés de Śrī Nityānanda Rāma, de quem Garbhodakaśāyī Viṣṇu é uma parte parcial. Do umbigo de Garbhodakaśāyī Viṣṇu, brota o lótus onde nasce Brahmā, o engenheiro do universo. O caule desse lótus é o local de descanso da multidão de planetas.

VERSO 94: Após criar milhões de universos, o primeiro puruṣa entrou em cada um deles sob uma forma separada, como Śrī Garbhodakaśāyī.

VERSO 95: Entrando no universo, Ele só encontrou escuridão, sem nenhum lugar em que residir. Assim, Ele começou a considerar.

VERSO 96: Então, Ele criou água da transpiração de Seu próprio corpo e, com essa água, encheu metade do universo.

VERSO 97: O universo mede quinhentos milhões de yojanas. Seu comprimento e largura são iguais.

VERSO 98: Após encher metade do universo com água, Ele estabeleceu Sua própria residência ali e manifestou os quatorze mundos na outra metade.

VERSO 99: Ali, Ele manifestou Vaikuṇṭha como Sua própria morada e descansou nas águas, na cama do Senhor Śeṣa.

VERSOS 100-101: Ele deitou-Se ali, tendo Ananta como Sua cama. O Senhor Ananta – uma serpente divina com milhares de cabeças, milhares de rostos, milhares de olhos e milhares de mãos e pés – é a semente de todas as encarnações e é a causa do mundo material.

VERSO 102: De Seu umbigo, cresceu uma flor de lótus, que se tornou o local de nascimento do senhor Brahmā.

VERSO 103: Dentro do caule daquele lótus estavam os quatorze mundos. Assim, o Senhor Supremo, como Brahmā, criou toda a criação.

VERSO 104: E, como o Senhor Viṣṇu, Ele mantém o mundo inteiro. O Senhor Viṣṇu, estando além de todos os atributos materiais, não tem contato algum com as qualidades materiais.

VERSO 105: Assumindo a forma de Rudra, Ele destrói a criação. Assim, criação, manutenção e dissolução são criados por Sua vontade.

VERSO 106: Ele é a Superalma, Hiraṇyagarbha, a causa do mundo material. Concebe-se a forma universal como Sua expansão.

VERSO 107: Esse Senhor Nārāyaṇa é parte de uma parte plenária do Senhor Nityānanda Balarāma, que é a fonte de todas as encarnações.

VERSO 108: Assim, acabo de explicar o décimo verso. Agora, por favor, escutai o significado do décimo primeiro verso com toda a concentração mental.

VERSO 109: Ofereço minhas respeitosas reverências aos pés de Śrī Nityānanda Rāma, cuja parte secundária é o Viṣṇu deitado no Oceano de Leite. Esse Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu é a Superalma de todas as entidades vivas, e o mantenedor de todos os universos. Śeṣa Nāga é Sua outra subparte.

VERSO 110: Os planetas materiais descansam dentro do caule que cresceu do umbigo de lótus do Senhor Nārāyaṇa. Entre esses planetas, existem sete oceanos.

VERSO 111: Lá, em parte do Oceano de Leite, encontra-se Śvetadvīpa, a morada do mantenedor, o Senhor Viṣṇu.

VERSO 112: Ele é a Superalma de todas as entidades vivas. Ele mantém este mundo material e é o Senhor dele.

VERSO 113: Nas eras e milênios de Manu, Ele aparece como diferentes encarnações para estabelecer os princípios da religião verdadeira e eliminar os princípios da irreligião.

VERSO 114: Incapazes de vê-lO, os semideuses vão até a margem do Oceano de Leite e oferecem-Lhe orações.

VERSO 115: Ele, então, desce para manter o mundo material. Não se podem contar Suas opulências ilimitadas.

VERSO 116: Esse Senhor Viṣṇu é apenas parte de uma parte de uma porção plenária do Senhor Nityānanda, que é a fonte de todas as encarnações.

VERSO 117: Esse mesmo Senhor Viṣṇu, sob a forma do Senhor Śeṣa, sustenta os planetas sobre Suas cabeças, embora não saiba onde eles estão, pois não pode sentir a existência deles sobre Suas cabeças.

VERSO 118: Seus milhares de capelos estendidos são adornados com joias cujo brilho supera o brilho do sol.

VERSO 119: O universo, que mede quinhentos milhões de yojanas de diâmetro, repousa sobre um de Seus capelos como se fosse uma semente de mostarda.

VERSO 120: Esse Ananta Śeṣa é a encarnação de devoto da Divindade. Ele não conhece nada além do serviço ao Senhor Kṛṣṇa.

VERSO 121: Com Suas milhares de bocas, Ele canta as glórias do Senhor Kṛṣṇa, mas, embora sempre cante dessa maneira, não chega ao fim das qualidades do Senhor.

VERSO 122: Os quatro Kumāras ouvem o Śrīmad-Bhāgavatam de Seus lábios, e eles, por sua vez, repetem-no na bem-aventurança transcendental do amor a Deus.

VERSO 123: Ele serve ao Senhor Kṛṣṇa, assumindo todas as seguintes formas: guarda-sol, chinelos, cama, travesseiro, roupas, espreguiçadeira, residência, cordão sagrado e trono.

VERSO 124: Assim, Ele é chamado de Senhor Śeṣa, pois alcançou o fim último da servidão a Kṛṣṇa. Ele assume muitas formas a serviço de Kṛṣṇa e, assim, serve ao Senhor.

VERSO 125: O Senhor Nityānanda Prabhu é essa pessoa de quem o Senhor Ananta é kalā, ou parte de uma parte plenária. Portanto, quem pode conhecer os passatempos do Senhor Nityānanda?

VERSO 126: Por estas conclusões, podemos conhecer o limite da verdade sobre o Senhor Nityānanda. Porém, que glória há em chamá-lO de Ananta?

VERSO 127: Contudo, aceito isso como a verdade, pois foram os devotos que me disseram. Como Ele é a fonte de todas as encarnações, tudo é possível nEle.

VERSO 128: Eles sabem que não há diferença entre a encarnação e a fonte de todas as encarnações. Anteriormente, diferentes pessoas consideravam o Senhor Kṛṣṇa à luz de diferentes princípios.

VERSO 129: Alguns diziam que Kṛṣṇa era diretamente o Senhor Nara-Nārāyaṇa, e outros O chamavam de Senhor Vāmanadeva encarnado.

VERSO 130: Alguns chamavam o Senhor Kṛṣṇa de encarnação do Senhor Kṣīrodakaśāyī. Todos esses nomes são verdadeiros; nada é impossível.

VERSO 131: Ao aparecer, Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, é o refúgio de todas as partes plenárias. Assim, nesse momento, todas as Suas porções plenárias juntam-Se nEle.

VERSO 132: Fala-se do Senhor segundo a forma dEle que seja conhecida, não importando qual seja. Não há falsidade nisso, uma vez que tudo é possível em Kṛṣṇa.

VERSO 133: Portanto, o Senhor Caitanya mostrou a todo o mundo os passatempos de todas as diversas encarnações.

VERSO 134: Dessa maneira, o Senhor Nityānanda tem encarnações ilimitadas. Com emoção transcendental, Ele Se diz servo do Senhor Caitanya.

VERSO 135: Às vezes, Ele serve ao Senhor Caitanya como Seu guru, às vezes, como Seu amigo, e, às vezes, como Seu servo, assim como o Senhor Balarāma brincava com o Senhor Kṛṣṇa desses três diferentes modos em Vraja.

VERSO 136: Atuando como um touro, o Senhor Balarāma luta com Kṛṣṇa, cabeça a cabeça. E, às vezes, o Senhor Kṛṣṇa massageia os pés do Senhor Balarāma.

VERSO 137: Ele considera-Se um servo e sabe que Kṛṣṇa é Seu amo. Assim, Ele Se considera um fragmento de Sua porção plenária.

VERSO 138: “Agindo como meninos comuns, Eles faziam o papel de touros mugindo enquanto lutavam um com o outro, e imitavam os gritos de diversos animais.”

VERSO 139: “Às vezes, quando o Senhor Balarāma, o irmão mais velho do Senhor Kṛṣṇa, sentia-Se cansado após brincar e deitava Sua mão no colo de um vaqueirinho, o próprio Senhor Kṛṣṇa O servia, massageando-Lhe os pés.”

VERSO 140: “Quem é esta mística poderosa, e de onde ela vem? Será uma semideusa ou uma demônia? Deve ser a energia ilusória de Meu amo, o Senhor Kṛṣṇa, pois quem mais pode Me confundir?”

VERSO 141: “Qual é o valor de um trono para o Senhor Kṛṣṇa? Os senhores dos diversos sistemas planetários aceitam a poeira de Seus pés de lótus em suas cabeças coroadas. Essa poeira faz os locais santos serem sagrados, e mesmo o senhor Brahmā, o senhor Śiva, Lakṣmī e Eu próprio, que somos todos porções de Sua porção plenária, eternamente trazemos essa poeira sobre nossas cabeças.”

VERSO 142: O Senhor Kṛṣṇa é o único controlador supremo, e todos os outros são Seus servos. Eles dançam como Ele os faz dançar.

VERSO 143: Assim, o Senhor Caitanya é também o único controlador. Todos os outros são Seus associados ou servos.

VERSOS 144-145: Associados mais velhos que Ele, tais como o Senhor Nityānanda, Advaita Ācārya e Śrīvāsa Ṭhākura, bem como Seus outros devotos – sejam eles mais novos que Ele, iguais ou superiores – todos estes ajudam-nO em Seus passatempos. O Senhor Gaurāṅga cumpre Seus objetivos com a ajuda deles.

VERSO 146: Śrī Advaita Ācārya e Śrīla Nityānanda Prabhu, que são partes plenárias do Senhor, são Seus principais associados. Com esses dois, o Senhor executa Seus passatempos de diversas maneiras.

VERSO 147: O Senhor Advaita Ācārya é diretamente a Suprema Personalidade de Deus. Embora o Senhor Caitanya O aceite como Seu preceptor, Advaita Ācārya é um servo do Senhor.

VERSO 148: Não posso descrever a verdade sobre Advaita Ācārya. Ele libertou o mundo inteiro ao fazer o Senhor Kṛṣṇa descer.

VERSO 149: O Senhor Nityānanda Svarūpa anteriormente apareceu como Lakṣmaṇa e serviu ao Senhor Rāma como Seu irmão mais novo.

VERSO 150: As atividades do Senhor Rāma eram repletas de sofrimento, mas Lakṣmaṇa tolerava esse sofrimento voluntariamente.

VERSO 151: Ele não podia contrariar a resolução do Senhor Rāma, por ser Seu irmão mais novo, e assim permanecia calado, embora mentalmente infeliz.

VERSO 152: Ao aparecer o Senhor Kṛṣṇa, Ele [Balarāma] tornou-Se Seu irmão mais velho para servi-lO como desejava e fazê-lO desfrutar de todas as espécies de felicidade.

VERSO 153: Śrī Rāma e Śrī Lakṣmaṇa, que são porções plenárias do Senhor Kṛṣṇa e do Senhor Balarāma, entraram nEles na época do aparecimento de Kṛṣṇa e Balarāma.

VERSO 154: Kṛṣṇa e Balarāma apresentam-Se como irmão mais velho ou mais novo, mas as escrituras Os descrevem como a Suprema Personalidade de Deus original e Sua expansão.

VERSO 155: “Adoro Govinda, o Senhor primordial, que, mediante Suas diversas porções plenárias, apareceu no mundo sob diferentes formas e encarnações, tais como o Senhor Rāma, mas que pessoalmente aparece sob Sua suprema forma original como o Senhor Kṛṣṇa.”

VERSO 156: O Senhor Caitanya é esse mesmo Senhor Kṛṣṇa, e o Senhor Nityānanda é o Senhor Balarāma. O Senhor Nityānanda satisfaz todos os desejos do Senhor Caitanya.

VERSO 157: O oceano da glória do Senhor Nityānanda é infinito e insondável. Apenas por Sua misericórdia posso tocar uma só gota desse oceano.

VERSO 158: Por favor, escutai outra glória de Sua misericórdia. Ele fez uma entidade viva caída elevar-se ao limite máximo.

VERSO 159: Não é apropriado revelar isso, pois é algo que deve ser mantido tão confidencial quanto os Vedas. Não obstante, vou falar sobre isso para que todos tomem conhecimento de Sua misericórdia.

VERSO 160: Ó Senhor Nityānanda, escrevo sobre Vossa misericórdia com grande júbilo. Por favor, perdoai-me por minhas ofensas.

VERSO 161: O Senhor Nityānanda Prabhu tinha um servo chamado Śrī Mīnaketana Rāmadāsa, que era um reservatório de amor.

VERSO 162: Em minha casa, havia saṅkīrtana dia e noite, e por isso ele a visitou, tendo sido convidado.

VERSO 163: Absorto em emocionado amor, ele se sentou em meu quintal, ao que todos os vaiṣṇavas prostraram-se a seus pés.

VERSO 164: Com alegre disposição de amor a Deus, às vezes ele subia no ombro de alguém que lhe oferecia reverências, e outras vezes golpeava outrem com sua flauta ou dava-lhe um tapinha suavemente.

VERSO 165: Lágrimas fluíam automaticamente dos olhos de alguém que via os olhos de Mīnaketana Rāmadāsa, pois uma chuva constante de lágrimas fluía dos olhos de Mīnaketana Rāmadāsa.

VERSO 166: Às vezes, havia erupções de êxtase como flores kadamba em certas partes de seu corpo, e às vezes um membro entorpecia enquanto outro tremia.

VERSO 167: Sempre que bradava o nome Nityānanda, as pessoas em volta dele enchiam-se de grande admiração e espanto.

VERSO 168: Um brāhmaṇa respeitável chamado Śrī Guṇārṇava Miśra era servo da Deidade.

VERSO 169: Quando Mīnaketana estava sentado no quintal, esse brāhmaṇa não lhe prestou respeitos. Vendo isso, Śrī Rāmadāsa irritou-se e falou.

VERSO 170: “Eis aqui o segundo Romaharṣaṇa-sūta, que não se levantou para honrar o Senhor Balarāma ao vê-lO.”

VERSO 171: Após dizer isso, ele dançou e cantou à vontade, mas o brāhmaṇa não ficou zangado, pois estava então servindo ao Senhor Kṛṣṇa.

VERSO 172: No fim do festival, Mīnaketana Rāmadāsa foi embora, abençoando a todos. Nessa altura, ele teve certa controvérsia com meu irmão.

VERSO 173: Meu irmão tinha fé firme no Senhor Caitanya, mas apenas um tênue lampejo de fé no Senhor Nityānanda.

VERSO 174: Ao saber disso, Śrī Rāmadāsa sentiu-se mentalmente infeliz. Então, eu repreendi meu irmão.

VERSO 175: “Esses dois irmãos”, disse-lhe eu, “são como um só corpo; Eles são manifestações idênticas. Se não acreditas no Senhor Nityānanda, cairás.”

VERSO 176: “Se tens fé em um, mas desrespeitas o outro, tua lógica é como a lógica de aceitar metade de uma galinha.”

VERSO 177: “Seria melhor ser um ateísta menosprezando ambos os irmãos do que um hipócrita acreditando em um e menosprezando o outro.”

VERSO 178: Assim, Śrī Rāmadāsa quebrou sua flauta, irado, e foi embora, e, naquele momento, meu irmão caiu.

VERSO 179: Assim, acabo de descrever o poder dos servos do Senhor Nityānanda. Passo agora a descrever outra característica de Sua misericórdia.

VERSO 180: Naquela noite, o Senhor Nityānanda apareceu-me em sonho devido à minha boa qualidade ao castigar meu irmão.

VERSO 181: Na vila de Jhāmaṭapura, que fica perto de Naihāṭi, o Senhor Nityānanda apareceu-me em sonho.

VERSO 182: Caí a Seus pés, prestando-Lhe minhas reverências, após o que Ele colocou Seus próprios pés de lótus sobre minha cabeça.

VERSO 183: “Desperta! Levanta-te!”, dizia-me Ele repetidamente. Quando me levantei, fiquei impressionadíssimo ao ver Sua beleza.

VERSO 184: Ele tinha uma lustrosa tez enegrecida, e Sua estatura alta, forte e heroica fazia-O parecer-Se com o próprio Cupido.

VERSO 185: Ele tinha mãos, braços e pernas belamente formados, e olhos como flores de lótus. Usava roupa de seda, com turbante de seda na cabeça.

VERSO 186: Usava brincos de ouro nas orelhas, e braceletes e pulseiras de ouro. Usava tornozeleiras tilintantes em Seus pés, e uma guirlanda de flores em volta do pescoço.

VERSO 187: Seu corpo estava untado com polpa de sândalo, e Ele estava bem decorado com tilaka. Seus movimentos superavam os de um elefante enlouquecido.

VERSO 188: Seu rosto era mais belo do que milhões e milhões de luas, e Seus dentes eram como sementes de romã porque Ele mascava bétel.

VERSO 189: Seu corpo movia-se para frente e para trás, à direita e à esquerda, pois Ele estava absorto em êxtase. Ele cantava “Kṛṣṇa, Kṛṣṇa” com voz profunda.

VERSO 190: Movimentando o bastão vermelho em Sua mão, Ele parecia um leão enlouquecido. Em volta dos quatro lados de Seus pés, havia abelhas.

VERSO 191: Seus devotos, vestidos como vaqueirinhos, rodeavam Seus pés como se fossem um enxame de abelhas, e também cantavam “Kṛṣṇa, Kṛṣṇa”, absortos em amor extático.

VERSO 192: Alguns deles tocavam cornetas e flautas, e outros dançavam e cantavam. Alguns deles ofereciam-Lhe nozes de bétel, e outros O abanavam com cāmaras.

VERSO 193: Assim, vi toda essa opulência no Senhor Nityānanda Svarūpa. Sua forma, qualidades e passatempos maravilhosos são todos transcendentais.

VERSO 194: Enchi-me de êxtase transcendental, perdendo noção de tudo mais. Então, o Senhor Nityānanda sorriu e falou-me o seguinte.

VERSO 195: “Ó meu querido Kṛṣṇadāsa, não temas. Vai para Vṛndāvana, pois lá conseguirás tudo.”

VERSO 196: Após dizer-me isso, Ele me indicou o caminho para Vṛndāvana acenando com Sua mão. Então, Ele desapareceu com Seus associados.

VERSO 197: Desmaiei e caí ao solo, meu sonho interrompeu-se e, ao recuperar minha consciência, vi que já amanhecera.

VERSO 198: Meditei sobre o que havia visto e ouvido e concluí que o Senhor mandara que eu me dirigisse rumo a Vṛndāvana imediatamente.

VERSO 199: Naquele mesmo instante, parti para Vṛndāvana e, por Sua misericórdia, lá cheguei com grande alegria.

VERSO 200: Todas as glórias, todas as glórias ao Senhor Nityānanda Balarāma, por cuja misericórdia consegui abrigo na morada transcendental de Vṛndāvana.

VERSO 201: Todas as glórias, todas as glórias ao misericordioso Senhor Nityānanda, por cuja misericórdia alcancei o abrigo dos pés de lótus de Śrī Rūpa e Śrī Sanātana.

VERSO 202: Por Sua misericórdia, consegui o abrigo da grande personalidade Śrī Raghunātha Dāsa Gosvāmī e, por Sua misericórdia, encontrei o refúgio de Śrī Svarūpa Dāmodara.

VERSO 203: Pela misericórdia de Sanātana Gosvāmī, aprendi as conclusões finais sobre o serviço devocional e, pela graça de Śrī Rūpa Gosvāmī, tenho saboreado o néctar mais elevado do serviço devocional.

VERSO 204: Todas as glórias, todas as glórias aos pés de lótus do Senhor Nityānanda, por cuja misericórdia alcancei Śrī Rādhā-Govinda.

VERSO 205: Sou mais pecaminoso que Jagāi e Mādhāi e mais baixo ainda que os vermes no excremento.

VERSO 206: Qualquer pessoa que ouça meu nome perde os resultados de suas atividades piedosas. Qualquer pessoa que pronuncie meu nome torna-se pecaminosa.

VERSO 207: Quem neste mundo senão Nityānanda poderia mostrar Sua misericórdia a uma pessoa tão abominável como eu?

VERSO 208: Por viver embriagado de amor extático e ser uma encarnação de misericórdia, Ele não distingue entre o bom e o mau.

VERSO 209: Ele liberta todos aqueles que se prostram ante Ele. Portanto, Ele libertou uma pessoa tão pecaminosa e caída como eu.

VERSO 210: Embora eu seja pecaminoso e o mais caído, Ele concedeu-me os pés de lótus de Śrī Rūpa Gosvāmī.

VERSO 211: Não sou digno de falar todas essas palavras confidenciais sobre minha visita ao Senhor Madana Gopāla e ao Senhor Govinda.

VERSO 212: O Senhor Madana Gopāla, a Deidade principal de Vṛndāvana, é o desfrutador da dança da rāsa e é diretamente o filho do rei de Vraja.

VERSO 213: Ele desfruta da dança da rāsa com Śrīmatī Rādhārāṇī, Śrī Lalitā e outras. Ele Se manifesta como o Cupido dos Cupidos.

VERSO 214: “Usando roupas amarelas e decorado com uma guirlanda de flores, o Senhor Kṛṣṇa, aparecendo entre as gopīs com Seu rosto de lótus sorridente, assemelhava-Se diretamente ao encantador do coração de Cupido.”

VERSO 215: Com Rādhā e Lalitā servindo-O de Seus dois lados, Ele atrai os corações de todos com Sua própria doçura.

VERSO 216: A misericórdia do Senhor Nityānanda mostrou-me Śrī Madana-mohana e deu-me Śrī Madana-mohana como meu Senhor e mestre.

VERSO 217: Ele outorgou a visão do Senhor Govinda a alguém tão baixo quanto eu. Palavras não podem descrever isso, tampouco é algo que se possa revelar.

VERSOS 218-219: Num altar feito de joias, no templo principal de Vṛndāvana, no meio duma floresta de árvores-dos-desejos, o Senhor Govinda, filho do rei de Vraja, está sentado num trono de joias e manifesta toda a Sua glória e doçura, encantando, assim, o mundo inteiro.

VERSO 220: De Seu lado esquerdo está Śrīmatī Rādhārāṇī e Suas amigas pessoais. Com elas, o Senhor Govinda goza da rāsa-līlā e de muitos outros passatempos.

VERSO 221: O senhor Brahmā, sentado em seu assento de lótus em sua própria morada, sempre medita nEle e adora-O com o mantra composto de dezoito sílabas.

VERSO 222: Todos nos quatorze mundos meditam nEle, e todos os habitantes de Vaikuṇṭha cantam sobre Suas qualidades e passatempos.

VERSO 223: A deusa da fortuna sente-se atraída por Sua doçura, que Śrīla Rūpa Gosvāmī descreve dessa maneira:

VERSO 224: “Meu caro amigo, se estás realmente apegado a teus amigos mundanos, não olhes para o rosto sorridente do Senhor Govinda, que Se encontra às margens do Yamunā no Keśīghāṭa. Lançando olhares de soslaio, Ele coloca Sua flauta em Seus lábios, que se assemelham a brotos recém-desabrochados. Seu corpo transcendental, que se dobra em três pontos, parece muito brilhante ao luar.”

VERSO 225: Sem dúvida, Ele é diretamente o filho do rei de Vraja. Só um tolo O considera como uma estátua.

VERSO 226: Por esta ofensa, ele não poderá libertar-se. Pelo contrário, cairá em terrível condição infernal. O que mais posso dizer?

VERSO 227: Portanto, quem pode descrever a misericórdia dos pés de lótus dEle [do Senhor Nityānanda], graças a quem obtive o abrigo desse Senhor Govinda?

VERSO 228: Todos os grupos de vaiṣṇavas que vivem em Vṛndāvana absorvem-se em cantar o inteiramente auspicioso nome de Kṛṣṇa.

VERSO 229: O Senhor Caitanya e o Senhor Nityānanda são sua vida e alma. Eles nada conhecem além do serviço devocional a Śrī Śrī Rādhā-Kṛṣṇa.

VERSO 230: A poeira e a sombra dos pés de lótus dos vaiṣṇavas foram concedidas a esta alma caída pela misericórdia do Senhor Nityānanda.

VERSO 231: O Senhor Nityānanda disse: “Em Vṛndāvana, todas as coisas são possíveis.” Acabo de explicar aqui Sua breve afirmação pormenorizadamente.

VERSO 232: Consegui tudo isso vindo a Vṛndāvana, e isso foi possível pela misericórdia do Senhor Nityānanda.

VERSO 233: Acabo de descrever minha própria história, sem reservas. Os atributos do Senhor Nityānanda, fazendo de mim um homem louco, forçam-me a escrever essas coisas.

VERSO 234: As glórias dos atributos transcendentais do Senhor Nityānanda são insondáveis. Nem mesmo o Senhor Śeṣa, com Suas milhares de bocas, pode descobrir seus limites.

VERSO 235: Orando aos pés de lótus de Śrī Rūpa e Śrī Raghunātha, desejando sempre a misericórdia deles, eu, Kṛṣṇadāsa, narro o Śrī Caitanya-caritāmṛta, seguindo seus passos.

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