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Capítulo Um

Os Passatempos Posteriores
do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu

Este capítulo apresenta uma descrição resumida de todos os passatempos realizados por Śrī Caitanya Mahāprabhu durante o período intermediário de Suas atividades bem como durante os seis anos finais de Suas atividades. São todas descritas brevemente. Descreve-se também o êxtase de Śrī Caitanya Mahāprabhu ocorrido quando Ele recitou o verso que começa com yaḥ kaumāra-hara. Além disso, apresenta-se uma explicação desse êxtase no verso priyaḥ so ’yaṁ kṛṣṇaḥ, de Śrīla Rūpa Gosvāmī. O Senhor abençoou Śrīla Rūpa Gosvāmī especificamente em virtude de ele ter escrito tal verso. Descrevem-se também os muitos livros escritos por Śrīla Rūpa Gosvāmī, Śrīla Sanātana Gosvāmī e Śrīla Jīva Gosvāmī. Narra-se ainda o encontro entre Śrī Caitanya Mahāprabhu, Śrīla Rūpa Gosvāmī e Śrīla Sanātana Gosvāmī na vila conhecida como Rāmakeli.

VERSO 1: Mesmo uma pessoa sem conhecimento pode adquirir de imediato todo o conhecimento simplesmente pela bênção de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Portanto, oro ao Senhor por Sua misericórdia imotivada para comigo.

VERSO 2: Ofereço minhas respeitosas reverências a Śrī Kṛṣṇa Caitanya e ao Senhor Nityānanda, que são como o Sol e a Lua. Eles nasceram simultaneamente no horizonte de Gauḍa para dissipar a escuridão da ignorância e, dessa maneira, abençoar maravilhosamente a todos.

VERSO 3: Glórias aos todo-misericordiosos Rādhā e Madana-Mohana! Sou aleijado e imprudente, mas Eles me orientam, e Seus pés de lótus são tudo para mim.

VERSO 4: Em um templo de joias em Vṛndāvana, debaixo de uma árvore-dos-desejos, Śrī Śrī Rādhā-Govinda, servidos por Seus associados muito íntimos, estão sentados em um trono refulgente. Ofereço-Lhes minhas humildes reverências.

VERSO 5: Que Gopīnāthajī, que atrai todas as gopīs com a canção de Sua flauta e que iniciou a tão melodiosa dança da rāsa às margens do Yamunā em Vaṁśīvaṭa tenha misericórdia de nós.

VERSO 6: Todas as glórias a Śrī Gaurahari, que é um oceano de misericórdia! Todas as glórias a Ti, filho de Śacīdevī, pois és o único amigo de todas as almas caídas!

VERSO 7: Todas as glórias ao Senhor Nityānanda e a Advaita Prabhu, e todas as glórias a todos os devotos do Senhor Caitanya, encabeçados por Śrīvāsa Ṭhākura!

VERSO 8: Acabo de descrever em resumo a Ādi-līlā [passatempos iniciais], que Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura já havia descrito plenamente.

VERSO 9: Portanto, apresentei apenas uma sinopse de tais incidentes, e, nessa sinopse, já se pormenorizou tudo o que era para ser relatado.

VERSO 10: Não é possível descrever os passatempos ilimitados de Śrī Caitanya Mahāprabhu; desejo, contudo, relatar agora os incidentes principais e dar uma sinopse daqueles passatempos ocorridos no final.

VERSOS 11-12: Vou apenas sumariar a parte que Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura apresentou de forma bem elaborada em seu livro Caitanya-maṅgala. No entanto, darei mais tarde todos os pormenores dos incidentes que sejam excepcionais.

VERSO 13: Na verdade, o compilador autorizado dos passatempos de Śrī Caitanya Mahāprabhu é Śrīla Vṛndāvana Dāsa, a encarnação de Vyāsadeva. É apenas por ordem dele que tento mastigar os restos de alimento que ele deixou.

VERSO 14: Colocando seus pés de lótus sobre minha cabeça com grande devoção, passo agora a descrever, em resumo, os passatempos finais do Senhor.

VERSO 15: Por vinte e quatro anos, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu permaneceu no lar, e todos os passatempos que Ele realizou durante esse período são chamados Ādi-līlā.

VERSO 16: Ao final de Seus vinte e quatro anos, no mês de Māgha, durante o quarto crescente, o Senhor aceitou sannyāsa, a ordem de vida renunciada.

VERSO 17: Após aceitar sannyāsa, o Senhor Caitanya permaneceu neste mundo material por mais vinte e quatro anos. Todos os passatempos que Ele efetuou no transcurso desse período se chamam śeṣa-līlā, ou passatempos ocorridos no final.

VERSO 18: Os passatempos finais do Senhor, ocorridos em Seus últimos vinte e quatro anos, chamam-se madhya [intermediários] e antya [finais]. Todos os devotos do Senhor se referem a Seus passatempos segundo tais divisões.

VERSO 19: Durante seis dos últimos vinte e quatro anos, Śrī Caitanya Mahāprabhu viajou por toda a Índia, de Jagannātha Purī à Bengala e do Cabo Camorim a Vṛndāvana.

VERSO 20: Todos os passatempos realizados pelo Senhor nesses lugares são conhecidos como Madhya-līlā, e todos os passatempos realizados depois disso se chamam Antya-līlā.

VERSO 21: Portanto, os passatempos do Senhor se dividem em três períodos – Ādi-līlā, Madhya-līlā e Antya-līlā. Descreverei agora, em muitos pormenores, a Madhya-līlā.

VERSO 22: Por dezoito anos consecutivos, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu permaneceu em Jagannātha Purī e, mediante Seu comportamento pessoal, instruiu todas as entidades vivas no espírito do serviço devocional.

VERSO 23: Desses dezoito anos em Jagannātha Purī, Śrī Caitanya Mahāprabhu passou seis anos com Seus numerosos devotos. Cantando e dançando, Ele introduziu o serviço amoroso ao Senhor.

VERSO 24: O Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu enviou Nityānanda Prabhu de Jagannātha Purī à Bengala, que era conhecida como Gauḍa-deśa, e o Senhor Nityānanda Prabhu inundou esse país com o transcendental serviço amoroso ao Senhor.

VERSO 25: Śrī Nityānanda Prabhu é por natureza imensamente propenso a prestar transcendental serviço amoroso ao Senhor Kṛṣṇa. Agora, tendo recebido a ordem de Śrī Caitanya Mahāprabhu, Ele distribuiu esse serviço amoroso em todos os lugares.

VERSO 26: Presto inúmeras reverências aos pés de lótus de Śrī Nityānanda Prabhu, Ele que é tão generoso que difundiu o serviço a Śrī Caitanya Mahāprabhu por todo o mundo.

VERSO 27: Caitanya Mahāprabhu costumava tratar Nityānanda Prabhu como Seu irmão mais velho, ao passo que Nityānanda Prabhu tratava Śrī Caitanya Mahāprabhu como Seu Senhor.

VERSO 28: Embora Nityānanda Prabhu não seja outro senão o próprio Balarāma, Ele, não obstante, sempre Se considera o servo eterno do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 29: Nityānanda Prabhu pedia a todos que servissem Śrī Caitanya Mahāprabhu, cantassem Suas glórias e pronunciassem Seu nome. Nityānanda Prabhu proclamava que todos aqueles que prestam serviço devocional a Śrī Caitanya Mahāprabhu são Sua vida e alma.

VERSO 30: Dessa maneira, sem fazer discriminação, Śrīla Nityānanda Prabhu apresentou o culto de Śrī Caitanya Mahāprabhu a todos. Muito embora todos fossem almas caídas e blasfemadoras, esse processo as libertava.

VERSO 31: Então, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu enviou os dois irmãos Śrīla Rūpa Gosvāmī e Śrīla Sanātana Gosvāmī a Vraja. Por ordem Sua, eles se dirigiram a Śrī Vṛndāvana-dhāma.

VERSO 32: Depois de irem a Vṛndāvana, os irmãos pregaram o serviço devocional e descobriram muitos locais de peregrinação. Iniciaram especificamente o serviço a Madana-mohana e a Govindajī.

VERSO 33: Tanto Rūpa Gosvāmī quanto Sanātana Gosvāmī levaram diversas escrituras para Vṛndāvana e coligiram a essência delas, compilando muitas escrituras sobre o serviço devocional. Dessa maneira, eles libertaram todos os patifes e almas caídas.

VERSO 34: Os Gosvāmīs realizaram o trabalho de pregação do serviço devocional com base em um estudo analítico de todos os textos védicos confidenciais. Isso estava de acordo com a ordem de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Assim, pode-se compreender o tão íntimo serviço devocional de Vṛndāvana.

VERSO 35: Alguns dos livros escritos por Śrīla Sanātana Gosvāmī foram o Hari-bhakti-vilāsa, o Bhāgavatāmṛta, o Daśama-ṭippanī e o Daśama-carita.

VERSO 36: Já demos os nomes de quatro livros escritos por Sanātana Gosvāmī. De forma semelhante, Śrīla Rūpa Gosvāmī também escreveu muitos livros, que ninguém pode sequer enumerar.

VERSO 37: Portanto, enumerarei os principais livros escritos por Śrīla Rūpa Gosvāmī, ele que descreve os passatempos de Vṛndāvana em milhares de versos.

VERSO 38: Entre os livros escritos por Śrī Rūpa Gosvāmī, estão o Bhakti-rasāmṛta-sindhu, o Vidagdha-mādhava, o Ujjvala-nīlamaṇi e o Lalita-mādhava.

VERSOS 39-40: Além destes, Śrīla Rūpa Gosvāmī escreveu o Dāna-keli-kaumudī, o Stavāvalī, o Līlā-cchanda, o Padyāvalī, o Govinda-virudāvalī, o Mathurā-māhātmya e o Nāṭaka-varṇana.

VERSO 41: Quem pode enumerar os livros restantes (encabeçados pelo Laghu-bhāgavatāmṛta) escritos por Śrīla Rūpa Gosvāmī? Ele descreve os passatempos de Vṛndāvana em todos eles.

VERSO 42: O sobrinho de Śrī Rūpa Gosvāmī, Śrīla Jīva Gosvāmī, escreveu tantos livros sobre o serviço devocional que não há como enumerá-los.

VERSO 43: No Śrī Bhāgavata-sandarbha, Śrīla Jīva Gosvāmī escreve conclusivamente sobre o fim último do serviço devocional.

VERSO 44: A literatura transcendental mais famosa e impressionante é o livro chamado Gopāla-campū. Nessa obra, são estabelecidos os passatempos eternos do Senhor, e se descrevem completamente as doçuras transcendentais desfrutadas em Vṛndāvana.

VERSO 45: Assim, Śrīla Rūpa Gosvāmī, Sanātana Gosvāmī e seu sobrinho Śrīla Jīva Gosvāmī, bem como praticamente todos os membros da família deles, viveram em Vṛndāvana e publicaram importantes livros sobre o serviço devocional.

VERSO 46: No primeiro ano depois que Śrī Caitanya Mahāprabhu aceitou a ordem de vida renunciada, todos os devotos, encabeçados por Śrī Advaita Prabhu, foram visitar o Senhor em Jagannātha Purī.

VERSO 47: Após participarem da cerimônia de Ratha-yātrā em Jagannātha Purī, todos os devotos permaneceram lá por quatro meses, desfrutando imensamente da companhia de Śrī Caitanya Mahāprabhu através da execução de kīrtana [canto e dança].

VERSO 48: Na hora da partida, o Senhor pediu a todos os devotos: “Por favor, vinde aqui todo ano ver o festival de Ratha-yātrā, o passeio do Senhor Jagannātha ao templo de Guṇḍicā.”

VERSO 49: Seguindo a ordem de Śrī Caitanya Mahāprabhu, todos os devotos costumavam visitar o Senhor Caitanya Mahāprabhu todos os anos. Eles viam o festival de Guṇḍicā em Jagannātha Purī e, então, voltavam para casa quatro meses depois.

VERSO 50: Esse encontro aconteceu por vinte anos consecutivos, e a situação se tornou tão intensa que o Senhor e os devotos não conseguiam ser felizes sem se encontrarem coletivamente.

VERSO 51: Os últimos doze anos foram dedicados exclusivamente ao saborear dos passatempos de Kṛṣṇa com saudades dentro do coração do Senhor.

VERSO 52: Na atitude de saudade, o Senhor Caitanya Mahāprabhu parecia louco tanto de dia quanto de noite. Ora Ele ria, ora chorava; ora Ele dançava, ora cantava muito melancolicamente.

VERSO 53: Em tais momentos, Śrī Caitanya Mahāprabhu visitava o Senhor Jagannātha. Então, Seus sentimentos correspondiam exatamente àqueles das gopīs ao terem visto Kṛṣṇa em Kurukṣetra após longa separação. Kṛṣṇa fora visitar Kurukṣetra com Seu irmão e Sua irmã.

Text 54: Dançando perante o carro durante o festival, Caitanya Mahāprabhu sempre cantava as seguintes duas linhas.

VERSO 55: “Conquistei o Senhor de Minha vida, por quem Eu queimava no fogo de desejos luxuriosos.”

VERSO 56: O Senhor Caitanya Mahāprabhu costumava cantar esta canção [seita parāṇa-nātha] especialmente durante a última parte do dia, e pensava: “Vou apoderar-Me de Kṛṣṇa e voltar para Vṛndāvana.” Seu coração vivia imerso nesse êxtase.

VERSO 57: Em tal êxtase, Śrī Caitanya Mahāprabhu recitava um verso enquanto dançava em frente ao Senhor Jagannātha. Quase ninguém podia entender o significado desse verso.

VERSO 58: “Essa mesmíssima personalidade que roubou meu coração durante minha juventude agora é novamente meu amo. Estas são as mesmas noites enluaradas do mês de Caitra. Emana a mesma fragrância de flores mālatī, e da floresta de kadamba sopram as mesmas doces brisas. Em nossa relação íntima, sou também a mesma amante. Minha mente, todavia, ainda não está feliz aqui. Anseio voltar àquele local, às margens do Revā, debaixo da árvore Vetasī. Esse é o meu desejo.”

VERSO 59: Este verso parece ser o enleio entre um jovem e uma moça comuns, mas seu significado profundo e verdadeiro era conhecido apenas por Svarūpa Dāmodara. Por casualidade, certo ano, Rūpa Gosvāmī também estava presente ali.

VERSO 60: Embora somente Svarūpa Dāmodara conhecesse o significado do verso, após ouvir Śrī Caitanya Mahāprabhu recitá-lo, Rūpa Gosvāmī imediatamente compôs outro verso, descrevendo o significado do verso original.

VERSO 61: Após compor este verso, Rūpa Gosvāmī o escreveu em uma folha de palmeira e o colocou sobre o telhado da casa de sapê em que estava morando.

VERSO 62: Após compor esse verso e colocá-lo no telhado de sua casa, Śrīla Rūpa Gosvāmī foi banhar-se no mar. Nesse ínterim, o Senhor Caitanya Mahāprabhu foi à sua cabana para Se encontrar com ele.

VERSO 63: Para evitar tumulto, três grandes personalidades – Haridāsa Ṭhākura, Śrīla Rūpa Gosvāmī e Śrīla Sanātana Gosvāmī – não entravam no templo de Jagannātha.

VERSO 64: Todos os dias, Śrī Caitanya Mahāprabhu costumava ver a cerimônia de upala-bhoga no templo de Jagannātha, após o que costumava ir visitar essas três grandes personalidades a caminho de Sua residência pessoal.

VERSO 65: Se um desses três não estivesse presente, Ele Se encontrava com os outros. Essa era Sua prática regular.

VERSO 66: Ao chegar à residência de Śrīla Rūpa Gosvāmī, Śrī Caitanya Mahāprabhu viu, por acaso, a folha de palmeira sobre o telhado, e assim leu o verso composto por ele.

VERSO 67: Após ler o verso, Śrī Caitanya Mahāprabhu entrou em êxtase. Enquanto Ele estava naquele estado, Śrīla Rūpa Gosvāmī chegou e logo caiu ao solo como uma vara.

VERSO 68: Quando Rūpa Gosvāmī caiu como uma vara, Śrī Caitanya Mahāprabhu levantou-Se e lhe deu um tapa. Então, pegando-o em Seu colo, começou a falar-lhe.

VERSO 69: “Ninguém conhece o significado de Meu verso”, disse Caitanya Mahāprabhu. “Como pudeste compreender Minha intenção?”

VERSO 70: Dizendo isso, o Senhor Caitanya Mahāprabhu concedeu diversas bênçãos a Rūpa Gosvāmī, e, levando o verso conSigo, mostrou-o mais tarde a Svarūpa Gosvāmī.

VERSO 71: Mostrando o verso a Svarupa Dāmodara, Caitanya Mahāprabhu lhe perguntou com grande admiração como Rūpa Gosvāmī podia entender as intenções de Sua mente.

VERSO 72: Śrīla Svarūpa Dāmodara Gosvāmī respondeu ao Senhor Caitanya Mahāprabhu: “Se Rūpa Gosvāmī pode entender Tua mente e Tuas intenções, ele deve ter a bênção especial de Vossa Onipotência.”

VERSO 73: O Senhor disse: “Fiquei tão satisfeito com Rūpa Gosvāmī que o abracei e lhe concedi todas as potências necessárias para pregar o culto de bhakti.”

VERSO 74: “Aceito Śrīla Rūpa Gosvāmī como alguém capaz de compreender as doçuras confidenciais do serviço devocional, e recomendo que tu expliques mais sobre o serviço devocional para ele.”

VERSO 75: Descreverei todos esses incidentes, de forma elaborada, mais tarde. O que acabei de fazer foi apenas uma breve referência.

VERSO 76: [Este verso é recitado por Śrīmatī Rādhārāṇī.] “Minha querida amiga, acabo de Me encontrar com Meu muito antigo e querido amigo Kṛṣṇa neste campo de Kurukṣetra. Sou a mesma Rādhārāṇī, e agora Nos encontramos de novo. É muito agradável, mas, ainda assim, Eu gostaria de ir até as margens do Yamunā, debaixo das árvores da floresta de lá. Desejo ouvir a vibração de Sua doce flauta tocando a quinta nota dentro da floresta de Vṛndāvana.”

VERSO 77: Agora, ó devotos, por favor, ouvi uma breve explicação deste verso. O Senhor Caitanya Mahāprabhu pensava dessa maneira após ter visto a Deidade de Jagannātha.

VERSO 78: O tema de Seus pensamentos era Śrīmatī Rādhārāṇī, que Se encontrara com Kṛṣṇa no campo de Kurukṣetra. Muito embora tivesse Se encontrado com Kṛṣṇa lá, Ela pensava nEle da seguinte maneira.

VERSO 79: Ela pensava nEle vestido como um vaqueirinho na atmosfera calma e sossegada de Vṛndāvana. Porém, em Kurukṣetra, Ele vestia trajes reais e vinha acompanhado por elefantes, cavalos e uma multidão de homens. Assim, a atmosfera não era apropriada para o encontro dEles.

VERSO 80: Assim, encontrando-Se com Kṛṣṇa e pensando na atmosfera de Vṛndāvana, Rādhārāṇī desejou que Kṛṣṇa A levasse para Vṛndāvana novamente e satisfizesse Seu desejo naquele ambiente calmo.

VERSO 81: As gopīs falaram assim: “Querido Senhor, cujo umbigo é igual a uma flor de lótus, Teus pés de lótus são o único refúgio para aqueles que caíram no poço fundo da existência material. Grandes yogīs místicos e filósofos altamente eruditos adoram e meditam em Teus pés. Desejamos que esses pés de lótus possam também se despertar dentro de nossos corações, embora sejamos apenas pessoas comuns ocupadas em afazeres domésticos.”

VERSO 82: As gopīs pensaram: “Querido Senhor, se Teus pés de lótus novamente vierem ao nosso lar em Vṛndāvana, teremos nossos desejos satisfeitos.”

VERSO 83: Śrīla Rūpa Gosvāmī explica em um verso o significado confidencial do verso do Śrīmad-Bhāgavatam para a compreensão das pessoas em geral.

VERSO 84: As gopīs continuaram: “Querido Kṛṣṇa, o aroma das doçuras de Teus passatempos se espalha por todas as florestas da gloriosa terra de Vṛndāvana, que é circundada pela doçura do distrito de Mathurā. Na atmosfera propícia daquela terra maravilhosa, podes gozar de Teus passatempos, com Tua flauta dançando em Teus lábios, e rodeado por nós, as gopīs, cujos corações vivem encantados por emoções extáticas imprevisíveis.”

VERSO 85: Dessa maneira, ao ver Jagannātha, Śrī Caitanya Mahāprabhu viu que o Senhor estava com Sua irmã Subhadrā e não segurava uma flauta em Sua mão.

VERSO 86: Absorto no êxtase das gopīs, o Senhor Caitanya Mahāprabhu desejava ver o Senhor Jagannātha sob Sua forma original como Kṛṣṇa, o filho de Nanda Mahārāja, o habitante de Vṛndāvana de aparência muito bela, com Seu corpo curvado em três pontos. Seu desejo de ver tal forma aumentava sem cessar.

VERSO 87: Assim como Śrīmatī Rādhārāṇī conversou incoerentemente com um abelhão na presença de Uddhava, Śrī Caitanya Mahāprabhu, em Seu êxtase, conversava louca e incoerentemente dia e noite.

VERSO 88: Os últimos doze anos de Śrī Caitanya Mahāprabhu se passaram nessa insanidade transcendental. Assim, Ele realizou Seus últimos passatempos de três maneiras.

VERSO 89: Durante os vinte e quatro anos que sucederam à Sua iniciação de sannyāsa [ordem renunciada], todos os passatempos que Śrī Caitanya Mahāprabhu realizou foram ilimitados e insondáveis. Quem pode entender o significado de tais passatempos?

VERSO 90: Só para indicar tais passatempos, apresento um levantamento geral dos principais sob a forma de uma sinopse.

VERSO 91: Esta é a primeira sinopse: Após aceitar a ordem de sannyāsa, Caitanya Mahāprabhu seguiu em direção a Vṛndāvana.

VERSO 92: Enquanto seguia em direção a Vṛndāvana, Śrī Caitanya Mahāprabhu encheu-Se de amor extático por Kṛṣṇa e perdeu toda lembrança do mundo externo. Viajou continuamente desta maneira durante três dias por Rāḍha-deśa, o país onde o rio Ganges não flui.

VERSO 93: Antes de qualquer outra coisa, o Senhor Nityānanda confundiu Śrī Caitanya Mahāprabhu levando-O ao longo das margens do Ganges e Lhe dizendo que aquele era o rio Yamunā.

VERSO 94: Após três dias, o Senhor Caitanya Mahāprabhu chegou à casa de Advaita Ācārya em Śāntipura, e lá aceitou esmola. Essa foi a primeira vez que aceitou esmola. À noite, Ele realizou o canto congregacional ali.

VERSO 95: Na casa de Advaita Prabhu, Ele Se encontrou com Sua mãe, bem como com todos os devotos de Māyāpur. Ele tomou todas as providências e, então, foi para Jagannātha Purī.

VERSO 96: A caminho de Jagannātha Purī, Caitanya Mahāprabhu realizou muitos outros passatempos. Ele visitou diversos templos e ouviu a história de Mādhavendra Purī e da instalação de Gopāla.

VERSO 97: O Senhor Caitanya Mahāprabhu ouviu de Nityānanda Prabhu a história de Kṣīra-curī Gopinātha e do Gopāla testemunha. Então, Nityānanda Prabhu quebrou o bastão de sannyāsa pertencente ao Senhor Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 98: Depois que Nityānanda Prabhu quebrou-Lhe o bastão de sannyāsa, Caitanya Mahāprabhu ficou aparentemente muito zangado e deixou Sua companhia para viajar sozinho rumo ao templo de Jagannātha. Ao entrar no templo de Jagannātha e ver o Senhor Jagannātha, Caitanya Mahāprabhu de imediato caiu inconsciente ao solo.

VERSO 99: Depois que o Senhor Caitanya Mahāprabhu viu o Senhor Jagannātha no templo e caiu inconsciente, Sārvabhauma Bhaṭṭacārya levou-O para sua casa. O Senhor permaneceu inconsciente até a tarde, quando finalmente recuperou Sua consciência.

VERSO 100: O Senhor havia deixado a companhia de Nityānanda e ido sozinho para o templo de Jagannātha; mais tarde, porém, Nityānanda, Jagadānanda, Dāmodara e Mukunda foram vê-lO, após o que ficaram muito satisfeitos.

VERSO 101: Após esse incidente, o Senhor Caitanya Mahāprabhu concedeu Sua misericórdia a Sārvabhauma Bhaṭṭācārya mostrando a ele Sua forma original como o Senhor.

VERSO 102: Tendo concedido misericórdia a Sārvabhauma Bhaṭṭācārya, o Senhor partiu para o sul da Índia. Ao chegar a Kūrma-kṣetra, Ele liberou uma pessoa chamada Vāsudeva.

VERSO 103: Após visitar Kūrma-kṣetra, o Senhor visitou o templo sul-indiano de Jiyaḍa-nṛsiṁha e ofereceu Suas orações ao Senhor Nṛsiṁhadeva. Em Seu caminho, introduziu o cantar do mahā-mantra Hare Kṛṣṇa em todas as vilas.

VERSO 104: Certa vez, o Senhor confundiu a floresta às margens do rio Godāvarī com Vṛndāvana. Naquele local, ocorreu Seu encontro com Rāmānanda Rāya.

VERSO 105: Ele visitou o local conhecido como Tirumala e Tirupati, onde pregou amplamente o cantar do santo nome do Senhor.

VERSO 106: Depois de visitar o templo de Tirumala e Tirupati, Śrī Caitanya Mahāprabhu teve que subjugar alguns ateus. Visitou, então, o templo de Ahovala-nṛsiṁha.

VERSO 107: Ao chegar à terra de Śrī Raṅga-kṣetra, às margens do rio Kāverī, Śrī Caitanya Mahāprabhu visitou o templo de Śrī Raṅganātha, onde foi dominado pelo êxtase do amor a Deus.

VERSO 108: Śrī Caitanya Mahāprabhu morou na casa de Trimalla Bhaṭṭa durante os quatro meses da estação das chuvas.

VERSO 109: Śrī Trimalla Baṭṭa era tanto um membro da comunidade Śrī-vaiṣṇava quanto um estudioso erudito; portanto, ao ver Caitanya Mahāprabhu, que era tanto um grande erudito quanto um grande devoto do Senhor, ele ficou muito admirado.

VERSO 110: O Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu passou os meses de Cāturmāsya com os Śrī-vaiṣṇavas, dançando, cantando e recitando o santo nome do Senhor.

VERSO 111: Após o término do Cāturmāsya, o Senhor Caitanya Mahāprabhu continuou a viajar por todo o sul da Índia. Nessa época, Ele Se encontrou com Paramānanda Purī.

VERSO 112: Depois disso, Kṛṣṇadāsa, o servo do Senhor Caitanya Mahāprabhu, foi salvo das garras de um bhaṭṭathāri. Então, Caitanya Mahāprabhu pregou que brāhmaṇas habituados a cantar o nome do Senhor Rāma também deveriam cantar o nome do Senhor Kṛṣṇa.

VERSO 113: Então, Śrī Caitanya Mahāprabhu encontrou-Se com Śrī Raṅgapurī e mitigou todos os sofrimentos de um brāhmaṇa chamado Rāmadāsa.

VERSO 114: Caitanya Mahāprabhu também teve um debate com a comunidade tattvavādī, e os tattvavādīs sentiram-se vaiṣṇavas inferiores.

VERSO 115: Então, Śrī Caitanya Mahāprabhu visitou os templos de Viṣṇu, de Anantadeva, Puruṣottama, Śrī Janārdana, Padmanābha e Vāsudeva.

VERSO 116: Depois disso, o Senhor Caitanya Mahāprabhu liberou a famosa árvore Sapta-tāla, tomou Seu banho em Setubandha Rāmeśvara e visitou o templo do senhor Śiva conhecido como Rāmeśvara.

VERSO 117: Em Rāmeśvara, Śrī Caitanya Mahāprabhu teve a oportunidade de ler o Kūrma Purāṇa, no qual descobriu que a forma de Sītā raptada por Rāvaṇa não era a da verdadeira Sītā, mas uma mera representação irreal.

VERSO 118: Śrī Caitanya Mahāprabhu ficou muito contente em ler sobre a falsa Sītā, e Se lembrou de Seu encontro com Rāmadāsa Vipra, que estava muito desolado por Sītā ter sido raptada por Rāvaṇa.

VERSO 119: Na verdade, o Senhor Caitanya Mahāprabhu destacou impetuosamente essa página do Kūrma Purāṇa, embora o livro estivesse muito velho, e mais tarde a mostrou a Rāmadāsa Vipra, cuja infelicidade foi mitigada.

VERSO 120: Śrī Caitanya Mahāprabhu também encontrou dois outros livros – a saber, a Brahma-saṁhitā e o Kṛṣṇa-karṇāmṛta. Sabendo que esses livros eram excelentes, Ele os levou para os apresentar a Seus devotos.

VERSO 121: Após obter esses livros, Śrī Caitanya Mahāprabhu regressou a Jagannātha Purī. Naquela ocasião, acontecia a cerimônia de banho de Jagannātha, à qual Ele assistiu.

VERSO 122: Enquanto Jagannātha esteve ausente do templo, Caitanya Mahāprabhu, não podendo vê-lO, sentiu saudades e deixou Jagannātha Purī para ir a um lugar conhecido como Ālālanātha.

VERSO 123: Śrī Caitanya Mahāprabhu permaneceu por alguns dias em Ālālanātha. Neste ínterim, Caitanya Mahāprabhu recebeu a notícia de que todos os devotos da Bengala estavam indo para Jagannātha Purī.

VERSO 124: Quando os devotos da Bengala chegaram a Jagannātha Purī, tanto Nityānanda Prabhu quanto Sārvabhauma Bhaṭṭācārya fizeram todos os esforços para levar Śrī Caitanya Mahāprabhu de volta a Jagannātha Purī.

VERSO 125: Quando finalmente deixou Ālālanātha para retornar a Jagannātha Purī, o Senhor Caitanya Mahāprabhu estava acabrunhado tanto de dia quanto de noite devido à saudade de Jagannātha. Sua lamentação não conhecia limites. Durante essa época, todos os devotos de diferentes partes da Bengala, e especialmente de Navadvīpa, foram a Jagannātha Purī.

VERSO 126: Após a devida consideração, todos os devotos se puseram a cantar o santo nome em congregação. Assim, o êxtase do canto tranquilizou a mente do Senhor Caitanya.

VERSO 127: Anteriormente, ao viajar pelo sul da Índia, Śrī Caitanya Mahāprabhu encontrara-Se com Rāmānanda Rāya às margens do Godāvarī. Naquela ocasião, fora decidido que Rāmānanda Rāya se demitiria de seu cargo como governador e regressaria a Jagannātha Purī para viver com Śrī Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 128: Por ordem de Śrī Caitanya Mahāprabhu, Śrī Rāmānanda Rāya se despediu do rei e regressou a Jagannātha Purī. Após sua chegada, Śrī Caitanya Mahāprabhu comprazia-Se muito em conversar com ele, tanto de dia quanto de noite, sobre o Senhor Kṛṣṇa e Seus passatempos.

VERSO 129: Após a chegada de Rāmānanda Rāya, Śrī Caitanya Mahāprabhu concedeu Sua misericórdia a Kāśī Miśra e Se encontrou com Pradyumna Miśra. Nesse tempo, três personalidades chaves – Paramānanda Purī, Govinda e Kāśīśvara – foram ver o Senhor Caitanya em Jagannātha Purī.

VERSO 130: Em seguida, o Senhor encontrou-Se com Svarūpa Dāmodara Gosvāmī, o que O deixou satisfeitíssimo. Houve também um encontro com Śikhi Māhiti e com Bhavānanda Rāya, o pai de Rāmānanda Rāya.

VERSO 131: Aos poucos, todos os devotos da Bengala foram chegando a Jagannātha Purī. Nessa época, os residentes de Kulīna-grāma também foram ver Śrī Caitanya Mahāprabhu pela primeira vez.

VERSO 132: Por fim, Narahari Dāsa e outros habitantes de Khaṇḍa, juntamente com Śivānanda Sena, chegaram todos, e Śrī Caitanya Mahāprabhu os recebeu.

VERSO 133: Após ver a cerimônia de banho do Senhor Jagannātha, Śrī Caitanya Mahāprabhu lavou e limpou o templo de Śrī Guṇḍicā com o auxílio de muitos devotos.

VERSO 134: Depois disso, o Senhor Caitanya Mahāprabhu e todos os devotos viram o Ratha-yātrā, a cerimônia do festival de carros. O próprio Caitanya Mahāprabhu dançou em frente aos carros e, após dançar, entrou em um jardim.

VERSO 135: Naquele jardim, o Senhor Caitanya Mahāprabhu concedeu Sua misericórdia ao rei Pratāparudra. Em seguida, quando os devotos bengalis estavam a ponto de retornar às suas casas, o Senhor deu ordens específicas a quase cada um deles todos.

VERSO 136: Śrī Caitanya Mahāprabhu desejava Se encontrar todo ano com todos os devotos da Bengala. Portanto, mandou que fossem assistir ao festival de Ratha-yātrā todos os anos.

VERSO 137: Śrī Caitanya Mahāprabhu foi convidado a jantar na casa de Sārvabhauma Bhaṭṭācārya. Enquanto Ele comia suntuosamente, o genro de Sārvabhauma Bhaṭṭācārya [esposo de sua filha Ṣāṭhī] O criticou. Por causa disso, a mãe de Ṣāṭhī o amaldiçoou orando para que Ṣāṭhī se tornasse viúva. Em outras palavras, ela amaldiçoou seu genro à morte.

VERSO 138: No fim do ano, todos os devotos da Bengala, encabeçados por Advaita Ācārya, novamente foram ver o Senhor. Houve um afluxo de devotos para Jagannātha Purī realmente grande.

VERSO 139: A todo devoto que chegava da Bengala, Śrī Caitanya Mahāprabhu providenciava alojamento, e Śivānanda Sena ficou encarregado da manutenção deles.

VERSO 140: Um cão acompanhava Śivānanda Sena e os devotos, e esse cão foi tão afortunado que, após ver os pés de lótus do Senhor Caitanya Mahāprabhu, alcançou a liberação e voltou ao lar, voltou ao Supremo.

VERSO 141: Todos quantos iam a caminho de Vārāṇasī se encontravam com Sārvabhauma Bhaṭṭācārya.

VERSO 142: Após chegar a Jagannātha Purī, todos os vaiṣṇavas se encontraram com Śrī Caitanya Mahāprabhu. Mais tarde, Śrī Caitanya Mahāprabhu divertiu-Se na água, levando conSigo todos os devotos.

VERSO 143: Primeiro, o Senhor lavou o templo de Guṇḍicā muito esmeradamente. Então, todos assistiram ao festival de Ratha-yātrā e à dança do Senhor perante o carro.

VERSO 144: No jardim ao longo da estrada que vai do templo de Jagannātha a Guṇḍicā, o Senhor Caitanya Mahāprabhu realizou diversos passatempos. Certo brāhmaṇa chamado Kṛṣṇadāsa realizou a cerimônia de banho do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 145: Após dançar no templo de Guṇḍicā, o Senhor divertiu-Se na água com Seus devotos, e, no dia de Herā-pañcamī, todos eles viram as atividades de Lakṣmīdevī, a deusa da fortuna.

VERSO 146: No Janmāṣṭamī, o aniversário do Senhor Kṛṣṇa, o próprio Śrī Caitanya Mahāprabhu vestiu-Se como um vaqueirinho e, carregando uma balança com potes de iogurte, circundou um tronco.

VERSO 147: Depois disso, Śrī Caitanya Mahāprabhu despediu-Se de todos os devotos de Gauḍa-deśa [Bengala] e continuou cantando com Seus devotos íntimos que constantemente permaneciam com Ele.

VERSO 148: “A fim de visitar Vṛndāvana, o Senhor foi para Gauḍa-deśa [Bengala]. No caminho, o rei Pratāparudra prestou vários serviços para agradar ao Senhor.”

VERSO 149: No caminho para Vṛndāvana via Bengala, houve um incidente em que algumas roupas foram trocadas com Purī Gosāñi. Śrī Rāmānanda Rāya acompanhou o Senhor até a cidade de Bhadraka.

VERSO 150: Ao chegar a Vidyānagara, Bengala, a caminho de Vṛndāvana, Śrī Caitanya Mahāprabhu parou na casa de Vidyā-vācaspati, que era irmão de Sārvabhauma Bhaṭṭācārya. Tendo o Senhor Caitanya Mahāprabhu chegado à casa dele subitamente, uma multidão de gente se reuniu ali.

VERSO 151: Por cinco dias consecutivos, todas as pessoas se reuniram para ver o Senhor, e, ainda assim, não havia descanso. Temendo a multidão, o Senhor Caitanya Mahāprabhu partiu à noite em direção à vila Kuliyā [atual Navadvīpa].

VERSO 152: Ao ficarem sabendo da chegada do Senhor a Kuliyā-grāma, muitas centenas de milhares de pessoas foram vê-lO.

VERSO 153: As ações específicas realizadas por Śrī Caitanya Mahāprabhu nessa época foram a demonstração de misericórdia para com Devānanda Paṇḍita e o perdão ao brāhmaṇa conhecido como Gopāla Cāpala pela ofensa que este cometera aos pés de lótus de Śrīvāsa Ṭhākura.

VERSO 154: Muitos ateus e blasfemadores foram e caíram aos pés de lótus do Senhor, que, em troca, perdoou-os e lhes deu amor por Kṛṣṇa.

VERSO 155: Ao ouvir falar que o Senhor Caitanya Mahāprabhu iria a Vṛndāvana, Śrī Nṛsiṁhānanda Brahmacārī ficou muito satisfeito e, mentalmente, começou a enfeitar o caminho até lá.

VERSO 156: Primeiramente, Nṛsiṁhānanda Brahmacārī contemplou uma ampla estrada a partir da cidade de Kuliyā. Ele cravejou a estrada com joias, sobre as quais derramou, então, um canteiro de flores sem hastes.

VERSO 157: Mentalmente, ele enfeitou ambos os lados da estrada com árvores de flores bakula e instalou, de ambos os lados, a intervalos, lagos de aspecto transcendental.

VERSO 158: Esses lagos tinham balneários construídos com joias e estavam cheios de flores de lótus desabrochadas. Diversos pássaros gorjeavam, e a água era exatamente como néctar.

VERSO 159: Toda a estrada era ventilada com muitas brisas frescas, que carregavam os aromas de várias flores. Ele estendeu a construção desta estrada até Kānāi Nāṭaśālā.

VERSO 160: Na mente de Nṛsiṁhānanda Brahmacārī, não pôde ser construída a estrada além de Kānāi Nāṭaśālā. Ele não conseguia entender por que a construção da estrada não podia concluir-se, e isso o deixou surpreso.

VERSO 161: Então, com grande convicção, ele disse aos devotos que o Senhor Caitanya não iria a Vṛndāvana daquela vez.

VERSO 162: Nṛsiṁhānanda Brahmacārī disse: “O Senhor irá para Kānāi Nāṭaśālā e, então, retornará. Todos vós vireis a saber disto mais tarde, mas eu digo isto agora com grande convicção.”

VERSO 163: Quando o Senhor Caitanya Mahāprabhu colocou-Se a caminhar de Kuliyā em direção a Vṛndāvana, milhares de homens O acompanhavam, e todos eles eram devotos.

VERSO 164: Onde quer que o Senhor passasse de visita, multidões de inumeráveis pessoas vinham vê-lO. Ao vê-lO, toda infelicidade e lamentação delas desapareciam.

VERSO 165: Onde quer que o Senhor tocasse o solo com Seus pés de lótus, as pessoas imediatamente vinham e recolhiam a terra. Na verdade, elas recolhiam tanta terra que se criavam muitos buracos na estrada.

VERSO 166: O Senhor Caitanya Mahāprabhu chegou, por fim, a uma vila chamada Rāmakeli. Essa vila fica na fronteira da Bengala e é muito requintada.

VERSO 167: Enquanto fazia saṅkīrtana em Rāmakeli-grāma, o Senhor dançava e, às vezes, perdia a consciência devido ao amor a Deus. Enquanto Ele esteve em Rāmakeli-grāma, inúmeras pessoas foram ver Seus pés de lótus.

VERSO 168: Ao ouvir falar da influência de Caitanya Mahāprabhu em atrair inumeráveis pessoas, o rei muçulmano da Bengala ficou muito admirado e começou a falar o seguinte.

VERSO 169: “Uma pessoa assim, que é seguida por tantas outras sem lhes dar caridade, deve ser um profeta. Disto tenho plena certeza.”

VERSO 170: O rei muçulmano ordenou ao magistrado: “Não perturbes tal profeta hindu por motivo de inveja. Deixa-O fazer o que Sua própria vontade ditar, onde quer que Ele queira.”

VERSO 171: Tendo o rei muçulmano pedido notícias a seu assistente, que se chamava Keśava Chatrī, sobre a influência de Śrī Caitanya Mahāprabhu, Keśava Chatrī, embora sabendo de tudo sobre Caitanya Mahāprabhu, tentou evitar a conversa, não dando nenhuma importância às atividades de Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 172: Keśava Chatrī informou ao rei muçulmano que Caitanya Mahāprabhu era um mendicante a viajar por diversos locais de peregrinação, e que, sendo assim, apenas poucas pessoas iam vê-lO.

VERSO 173: Keśava Chatrī disse: “Por inveja, teu servo muçulmano conspira contra Ele. Acho que não deves interessar-te muito nEle, pois não há vantagem alguma nisso. Pelo contrário, só há perda.”

VERSO 174: Após apaziguar o rei dessa maneira, Keśava Chatrī enviou um mensageiro brāhmaṇa ao Senhor Caitanya Mahāprabhu solicitando-Lhe que partisse sem demora.

VERSO 175: A sós, o rei indagou de Dabira Khāsa [Śrīla Rūpa Gosvāmī], quem começou a falar sobre as glórias do Senhor.

VERSO 176: Śrīla Rūpa Gosvāmī disse: “A Suprema Personalidade de Deus, quem deu a ti este reino e quem tomaste por profeta, nasceu em teu país devido à tua boa fortuna.”

VERSO 177: “Esse profeta sempre deseja tua boa fortuna. Pela graça dEle, todos os teus negócios são exitosos. Por Suas bênçãos, serás vitorioso em toda parte.”

VERSO 178: “Por que me questionas? Melhor questionares tua própria mente. Por seres o rei do povo, és o representante da Suprema Personalidade de Deus. Portanto, podes entender isso melhor do que eu.”

VERSO 179:  Assim, Śrīla Rūpa Gosvāmī informou ao rei que a mente dele poderia ser um veículo para ele tomar conhecimento de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Ele assegurou ao rei que tudo o que ocorresse em sua mente se poderia considerar uma evidência.

VERSO 180: O rei respondeu: “Considero que Śrī Caitanya Mahāprabhu é a Suprema Personalidade de Deus. Não tenho dúvidas quanto a isso.”

VERSO 181: O rei respondeu: “Considero que Śrī Caitanya Mahāprabhu é a Suprema Personalidade de Deus. Não tenho dúvidas quanto a isso.”

VERSO 182: Após regressar à sua residência, Dabira Khāsa e seu irmão decidiram, depois de muito deliberarem, ir ver o Senhor secretamente.

VERSO 183: Assim, na calada da noite, os dois irmãos, Dabira Khāsa e Sākara Mallika, foram ver Śrī Caitanya Mahāprabhu secretamente. Primeiro, encontraram-se com Nityānanda Prabhu e Haridāsa Ṭhākura.

VERSO 184: Śrī Nityānanda Prabhu e Haridāsa Ṭhākura disseram ao Senhor Caitanya Mahāprabhu que duas personalidades – Śrī Rūpa e Sanātana – tinham ido vê-lO ali.

VERSO 185: Com grande humildade, ambos os irmãos levavam feixes de palha entre seus dentes, e, cada qual com um pano amarrado em volta do pescoço, prostraram-se como varas perante o Senhor.

VERSO 186: Ao verem o Senhor Caitanya Mahāprabhu, os dois irmãos se encheram de alegria e humildemente começaram a chorar. O Senhor Caitanya Mahāprabhu lhes pediu que se levantassem e lhes assegurou toda boa fortuna.

VERSO 187: Os dois irmãos levantaram-se e, outra vez colocando a palha entre seus dentes, humildemente ofereceram orações de mãos juntas.

VERSO 188: “Todas as glórias a Śrī Kṛṣṇa Caitanya Mahāprabhu, o mais misericordioso salvador das almas caídas! Todas as glórias à Personalidade Suprema!”

VERSO 189: “Senhor, pertencemos à classe mais baixa de homens, e nossos associados e emprego são também da categoria mais baixa. Não podemos, portanto, apresentar-nos a Vós. Sentimo-nos bastante envergonhados estando aqui perante Vós.”

VERSO 190: “Querido Senhor, permiti que Vos informemos que ninguém é mais pecaminoso do que nós, tampouco há alguém tão ofensivo quanto nós. Se quiséssemos mencionar nossas atividades pecaminosas, logo ficaríamos envergonhados. E o que dizer, então, de abandoná-las?”

VERSO 191: Os dois irmãos disseram: “Querido Senhor, Vós encarnastes para salvar as almas caídas. Deveis considerar que, neste mundo, não há ninguém tão caído quanto nós.”

VERSO 192: “Salvastes os dois irmãos Jagāi e Mādhāi, mas, para salvá-los, não tivestes que Vos empenhar muito.”

VERSO 193: “Os irmãos Jagāi e Mādhāi pertenciam à classe de brāhmaṇas e moravam no lugar sagrado de Navadvīpa. Eles jamais serviram a pessoas de classe baixa, nem serviram de instrumento para atividades abomináveis.”

VERSO 194: “Jagāi e Mādhāi tinham apenas uma falha – eram viciados em atividades pecaminosas. Contudo, muitíssimas atividades pecaminosas podem ser reduzidas a cinzas simplesmente por um tênue reflexo do cantar de Vosso santo nome.”

VERSO 195: “Jagāi e Mādhāi pronunciaram Vosso santo nome em tom de blasfêmia a Vós. Felizmente, tal santo nome se tornou a causa da salvação de ambos.”

VERSO 196: “Nós dois somos milhões e milhões de vezes inferiores a Jagāi e Mādhāi. Somos mais degradados, mais caídos e mais pecaminosos do que eles.”

VERSO 197: “Na verdade, pertencemos à casta dos comedores de carne, pois somos servos dos comedores de carne. De fato, nossas atividades são exatamente como as dos comedores de carne. Por sempre nos associarmos com tais pessoas, somos hostis às vacas e aos brāhmaṇas.”

VERSO 198: Os dois irmãos Sākara Mallika e Dabira Khāsa muito humildemente confessaram que, devido às suas atividades abomináveis, estavam agora atados pelo pescoço e pelas mãos e tinham sido atirados em um fosso repleto de objetos de gozo material dos sentidos abomináveis e semelhantes a excremento.

VERSO 199: “Ninguém dentro dos três mundos é poderoso o bastante para nos libertar. Sois o único salvador das almas caídas, motivo pelo qual não contamos com ninguém exceto Vós.”

VERSO 200: “Se simplesmente nos salvardes mediante Vossa força transcendental, então, com certeza, Vosso nome como ‘o salvador das almas caídas’ ficará conhecido.”

VERSO 201: “Deixai-nos dizer-Vos algo que é muito verdadeiro. Simplesmente escutai-nos, ó misericordioso. Não há outro objeto de misericórdia dentro dos três mundos além de nós.”

VERSO 202: “Somos os mais caídos; portanto, ao mostrar-nos Vossa misericórdia, essa será coroada de êxito. Que o poder de Vossa misericórdia se manifeste por todo o universo!”

VERSO 203: “‘Deixai-nos apresentar-Vos uma pequena informação, querido Senhor. Não é em nada falsa, mas repleta de significado. A informação é a seguinte: Se não tiverdes misericórdia de nós, será dificílimo encontrar candidatos mais adequados para Vossa misericórdia.’”

VERSO 204: “Estamos muito deprimidos por sermos candidatos ineptos para a obtenção de Vossa misericórdia. Todavia, desde que ouvimos falar de Vossas qualidades transcendentais, ficamos bastante atraídos por Vós.”

VERSO 205: “Na verdade, somos como um anão que quer capturar a Lua. Apesar de sermos inteiramente incapazes, está despertando dentro de nossa mente o desejo de receber Vossa misericórdia.”

VERSO 206: “‘Por servir-Vos constantemente, nós nos livramos de todos os desejos materiais e nos apaziguamos por completo. Quando me ocuparei como Vosso servo eterno e permanente e sempre me regozijarei de ter um amo tão digno?’”

VERSO 207: Após ouvir a oração de Dabira Khāsa e Sākara Mallika, Śrī Caitanya Mahāprabhu disse: “Meu querido Dabira Khāsa, tu e teu irmão sois Meus antigos servos.”

VERSO 208: “Meu querido Sākara Mallika, deste dia em diante, vossos nomes serão Śrīla Rūpa e Śrīla Sanātana. Agora, por favor, abandonai vossa humildade, pois Meu coração está se partindo por ver-vos tão humildes.”

VERSO 209: “Tendes escrito várias cartas mostrando vossa humildade. Por meio delas, posso entender vosso comportamento.”

VERSO 210: “Por vossas cartas, pude entender vossos corações. Portanto, a fim de vos ensinar, Eu vos enviei um verso, cujo teor é o seguinte.”

VERSO 211: “‘Se uma mulher se apegar a outro homem e não a seu esposo, ela parecerá muito zelosa em levar a cabo seus afazeres domésticos, mas, dentro de seu coração, sempre estará saboreando as emoções do contato com seu amante.’”

VERSO 212: “Eu, na verdade, não tinha necessidade alguma de vir à Bengala, mas vim somente para ver-vos dois.”

VERSO 213: “Todos perguntam por que vim a esta vila de Rāmakeli. Ninguém conheceMinhas intenções.”

VERSO 214: “É muito bom que vós dois tenhais vindo ver-Me. Agora podeis ir para casa. Não temais coisa alguma.”

VERSO 215: “Tendes sido Meus servos eternos nascimento após nascimento. Estou certo de que Kṛṣṇa vos libertará muito em breve.”

VERSO 216: Então, o Senhor colocou Suas duas mãos sobre a cabeça de cada um, ao passo que eles imediatamente puseram os pés de lótus do Senhor sobre suas cabeças.

VERSO 217: Depois disso, o Senhor abraçou ambos e pediu a todos os devotos presentes que fossem misericordiosos com eles e os libertassem.

VERSO 218: Ao verem a misericórdia do Senhor para com os dois irmãos, todos os devotos ficaram muito contentes e se puseram a cantar o santo nome do Senhor: “Hari! Hari!”

VERSO 219: Todos os associados vaiṣṇavas do Senhor estavam presentes, incluindo Nityānanda, Haridāsa Ṭhākura, Śrīvāsa Ṭhākura, Gadādhara Paṇḍita, Mukunda, Jagadānanda, Murāri e Vakreśvara.

VERSO 220: De acordo com as instruções de Śrī Caitanya Mahāprabhu, os dois irmãos, Rūpa e Sanātana, tocaram imediatamente os pés de lótus daqueles vaiṣṇavas, que ficaram todos muito felizes e se congratularam com os dois irmãos por terem estes recebido a misericórdia do Senhor.

VERSO 221: Após pedir permissão a todos os vaiṣṇavas presentes, os dois irmãos, na hora de sua partida, humildemente imploraram algo aos pés de lótus do Senhor.

VERSO 222: Eles disseram: “Querido Senhor, embora o rei da Bengala, nababo Hussain Shah, seja muito respeitoso para conVosco, nada mais tendes a fazer aqui. Por favor, parti deste local.”

VERSO 223: “Embora o rei seja respeitoso para conVosco, ainda assim, ele pertence à classe dos yavanas, e não se deve confiar nele. Achamos que não há necessidade de que tão grande multidão Vos acompanhe em Vossa peregrinação para Vṛndāvana.”

VERSO 224: “Querido Senhor, estais indo para Vṛndāvana com centenas de milhares de pessoas seguindo-Vos. Essa não é a maneira adequada para se peregrinar.”

VERSO 225: Embora Śrī Caitanya Mahāprabhu fosse o próprio Śrī Kṛṣṇa, o Senhor Supremo, e, portanto, não estivesse em nada temeroso, ainda assim, agiu como um ser humano para ensinar a neófitos como se deve agir.

VERSO 226: Tendo falado assim, os dois irmãos ofereceram orações aos pés de lótus do Senhor e retornaram a suas casas. Então, o Senhor Caitanya Mahāprabhu decidiu deixar aquela vila.

VERSO 227: De manhã, o Senhor partiu rumo a um lugar conhecido como Kānāi Nāṭaśālā. Uma vez lá, viu muitos passatempos do Senhor Kṛṣṇa.

VERSO 228: Naquela noite, o Senhor ponderou sobre a sugestão de Sanātana Gosvāmī de que Ele não deveria ir a Vṛndāvana acompanhado por tantas pessoas.

VERSO 229: O Senhor pensou: “Se Eu fosse a Mathurā com tal multidão atrás de Mim, não seria uma situação muito feliz, pois o ambiente ficaria perturbado.”

VERSO 230: O Senhor concluiu que iria sozinho para Vṛndāvana ou, no máximo, levaria apenas uma pessoa como Seu acompanhante. Dessa maneira, seria muito agradável ir a Vṛndāvana.

VERSO 231: Pensando assim, o Senhor tomou Seu banho matinal no Ganges e partiu para Nīlācala dizendo: “Irei para lá.”

VERSO 232: Sempre caminhando, Śrī Caitanya Mahāprabhu chegou a Śāntipura, onde permaneceu na casa de Advaita Ācārya de cinco a sete dias.

VERSO 233: Aproveitando-Se dessa oportunidade, Śrī Advaita Ācārya Prabhu mandou chamar mãe Śacīdevī, quem permaneceu em Sua casa durante sete dias a fim de preparar as refeições para Śrī Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 234: Pedindo permissão a Sua mãe, o Senhor Caitanya Mahāprabhu partiu para Jagannātha Purī. Quando os devotos O quiseram seguir, Ele lhes pediu humildemente que ficassem e Se despediu de todos.

VERSO 235: Embora tivesse pedido a todos os devotos que voltassem, Śrī Caitanya Mahāprabhu permitiu que duas pessoas O acompanhassem. Pediu a todos os devotos que fossem a Jagannātha Purī e se encontrassem com Ele durante o festival de carros.

VERSO 236: Duas pessoas, chamadas Balabhadra Bhaṭṭācārya e Dāmodara Paṇḍita, acompanharam Śrī Caitanya Mahāprabhu até Jagannātha Purī [Nīlācala].

VERSO 237: Após permanecer em Jagannātha Purī por alguns dias, o Senhor partiu secretamente à noite para Vṛndāvana. Ele fez isso sem ninguém saber.

VERSO 238: Somente Balabhadra Bhaṭṭācārya acompanhava Śrī Caitanya Mahāprabhu quando Este deixou Jagannātha Purī rumo a Vṛndāvana. Assim, Ele viajou pelo caminho que atravessa Jhārikhaṇḍa e chegou a Benares com grande deleite.

VERSO 239: Śrī Caitanya Mahāprabhu ficou somente quatro dias em Benares e, então, partiu para Vṛndāvana. Após ver a cidade de Mathurā, visitou as doze florestas.

VERSO 240: Ao visitar todos os doze locais dos passatempos de Śrī Kṛṣṇa, Śrī Caitanya Mahāprabhu ficou muito comovido em razão do êxtase. De alguma forma, Balabhadra Bhaṭṭācārya fê-lO sair de Mathurā.

VERSO 241: Após deixar Mathurā, o Senhor colocou-Se a caminhar ao longo das margens do Ganges, chegando, por fim, ao local sagrado chamado Prayāga [Allahabad]. Foi lá que Śrīla Rūpa Gosvāmī foi ao encontro do Senhor.

VERSO 242: Em Prayāga, Rūpa Gosvāmī caiu ao solo para prestar reverências ao Senhor, e o Senhor o abraçou com grande deleite.

VERSO 243: Após instruir Śrīla Rūpa Gosvāmī em Prayāga, no Daśāśvamedha-ghāṭa, Caitanya Mahāprabhu o mandou ir a Vṛndāvana. Então, o Senhor regressou a Vārāṇasī.

VERSO 244: Quando o Senhor Caitanya Mahāprabhu chegou a Vārāṇasī, Sanātana Gosvāmī se encontrou com Ele ali. O Senhor permaneceu por dois meses e, naquele lugar, instruiu Sanātana Gosvāmī perfeitamente.

VERSO 245: Após instruir plenamente Sanātana Gosvāmī, Śrī Caitanya Mahāprabhu o enviou para Mathurā, dotando-o com a força da devoção para prestar seu serviço. Em Benares, também concedeu Sua misericórdia aos sannyāsīs māyāvādīs. Então, regressou a Nīlācala [Jagannātha Purī].

VERSO 246: O Senhor viajou por toda a Índia por seis anos. Ora aqui, ora ali, realizava Seus passatempos transcendentais, e às vezes permanecia em Jagannātha Purī.

VERSO 247: Quando em Jagannātha Purī, o Senhor passava Seu tempo em grande júbilo fazendo saṅkīrtana e visitando o templo de Jagannātha em grande êxtase.

VERSO 248: Assim, acabo de fazer uma sinopse da Madhya-līlā, os passatempos intermediários do Senhor. Agora, ó devotos, por favor, ouvi a sinopse dos passatempos finais do Senhor, conhecidos como Antya-līlā.

VERSO 249: Ao regressar a Jagannātha Purī vindo de Vṛndāvana, o Senhor permaneceu ali e não foi a nenhum outro lugar por dezoito anos.

VERSO 250: Durante esses dezoito anos, todos os devotos da Bengala costumavam visitá-lO todo ano em Jagannātha Purī. Eles permaneciam ali por quatro meses contínuos e gozavam da companhia do Senhor.

VERSO 251: Em Jagannātha Purī, Śrī Caitanya Mahāprabhu cantava e dançava sem cessar. Assim, desfrutava dos passatempos de saṅkīrtana. Ele manifestou a todos, incluindo aos homens mais baixos, Sua misericórdia imotivada, a saber, o amor puro por Deus.

VERSO 252: Paṇḍita Gosāñi e outros devotos, tais como Vrakreśvara, Dāmodara, Śaṅkara e Haridāsa Ṭhākura, residiam com o Senhor em Jagannātha Purī.

VERSO 253: Jagadānanda, Bhagavān, Govinda, Kāśīśvara, Paramānanda Purī e Svarūpa Dāmodara eram outros devotos que também viviam com o Senhor.

VERSO 254: Śrīla Rāmānanda Rāya e outros devotos residentes de Jagannātha Purī também permaneciam constantemente com o Senhor.

VERSOS 255-256: Outros devotos do Senhor – liderados por Advaita Ācārya, Nityānanda Prabhu, Mukunda, Śrīvāsa, Vidyānidhi, Vāsudeva e Murāri – costumavam visitar Jagannātha Purī e permanecer com o Senhor cada ano por quatro meses contínuos. O Senhor desfrutava de vários passatempos na companhia deles.

VERSO 257: Haridāsa Ṭhākura abandonou o corpo em Jagannātha Purī. O incidente foi muito maravilhoso, pois o próprio Senhor realizou o festival da partida de Haridāsa Ṭhākura.

VERSO 258: Em Jagannātha Purī, Śrīla Rūpa Gosvāmī se encontrou mais uma vez com o Senhor, e o Senhor dotou seu coração com todo poder transcendental.

VERSO 259: Depois disso, o Senhor puniu Haridāsa Júnior, e Dāmodara Paṇḍita deu alguns conselhos ao Senhor.

VERSO 260: A seguir, Sanātana Gosvāmī se encontrou com o Senhor mais uma vez, e o Senhor o colocou à prova no calor abrasante do mês Jyaiṣṭha.

VERSO 261: Comprazendo-Se com Sanātana Gosvāmī, o Senhor o enviou de volta a Vṛndāvana, após o que foi alimentado maravilhosamente pelas mãos de Śrī Advaita Ācārya.

VERSO 262: Após enviar Sanātana Gosvāmī de volta a Vṛndāvana, o Senhor consultou Śrī Nityānanda Prabhu em particular. Então, enviou Este à Bengala para pregar o amor a Deus.

VERSO 263: Logo depois disso, Vallabha Bhaṭṭa se encontrou com o Senhor em Jagannātha Purī, onde o Senhor lhe explicou a importância do santo nome de Kṛṣṇa.

VERSO 264: Após explicar as qualidades transcendentais de Rāmānanda Rāya, o Senhor enviou Pradyumna Miśra à residência de Rāmānanda Rāya, com quem Pradyumna Miśra aprendeu kṛṣṇa-kathā.

VERSO 265: Depois disso, o Senhor Caitanya Mahāprabhu salvou Gopīnātha Paṭṭanāyaka, o irmão mais novo de Rāmānanda Rāya, de ser condenado à morte pelo rei.

VERSO 266: Rāmacandra Purī criticou os hábitos alimentares do Senhor Caitanya Mahāprabhu; por isso, o Senhor reduziu Seu comer ao mínimo. Porém, como todos os vaiṣṇavas demonstraram desagrado com isso, o Senhor aumentou Sua porção passando a comer a metade do que costumava fazê-lo antes.

VERSO 267: Existem quatorze sistemas planetários dentro do universo, nos quais residem todas as entidades vivas.

VERSO 268: Vestindo-se como seres humanos em peregrinação, todas elas costumavam ir a Jagannātha Purī visitar Śrī Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 269: Certo dia, todos os devotos, liderados por Śrīvāsa Ṭhākura, cantavam as qualidades transcendentais de Śrī Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 270: Desaprovando o canto de Suas qualidades transcendentais, Śrī Caitanya Mahāprabhu os repreendeu como se estivesse aborrecido. “Que espécie de canto é esse?”, perguntou Ele. “Acaso estais deixando de lado o cantar do santo nome do Senhor?”

VERSO 271: Assim, Śrī Caitanya Mahāprabhu repreendeu todos os devotos, dizendo-lhes que não fossem impudentes e não arruinassem o mundo inteiro tornando-se independentes.

VERSO 272: Quando Śrī Caitanya Mahāprabhu mostrou-Se aparentemente zangado e repreendeu Seus devotos, muitos milhares de pessoas de fora gritaram alto em voz tumultuosa: “Todas as glórias a Śrī Caitanya Mahāprabhu!”

VERSO 273: Todas as pessoas começaram a clamar bem alto: “Todas as glórias a Śrī Caitanya Mahāprabhu, que é o filho de Mahārāja Nanda! Apareceste agora para salvar o mundo inteiro!”

VERSO 274: “Ó Senhor, estamos muito infelizes. Viemos de uma longa distância para ver-Vos. Por favor, sede misericordioso e mostrai-nos Vosso favor.”

VERSO 275: Ao ouvir o humilde apelo feito pelo povo, o coração do Senhor se comoveu. Sendo muito misericordioso, Ele imediatamente saiu e deu audiência a todos eles.

VERSO 276: Erguendo Seus braços, o Senhor pediu a todos que cantassem em voz alta a vibração do santo nome do Senhor Hari. Logo, formou-se um grande alvoroço, e a vibração “Hari!” tomou as quatro direções.

VERSO 277: Ao verem o Senhor, todos se jubilaram movidos pelo amor. Todos aceitaram o Senhor como o Supremo, e assim Lhe ofereceram suas orações.

VERSO 278: Enquanto o povo oferecia suas orações ao Senhor, Śrīnivāsa Ācārya sarcasticamente disse ao Senhor: “Em casa, querias ficar escondido. Por que Te manifestaste aqui fora, então?”

VERSO 279: Śrīnivāsa Ācārya prosseguiu: “Quem ensinou isso a essas pessoas? O que elas estão dizendo? Podes agora mesmo tapar suas bocas com Tua própria mão.”

VERSO 280: “É como se o Sol, após nascer, quisesse se esconder. Não somos capazes de compreender tais características de Teu comportamento.”

VERSO 281: O Senhor respondeu: “Meu caro Śrīnivāsa, por favor, para de zombaria. Todos vós vos reunistes para Me humilhar dessa maneira.”

VERSO 282: Falando assim, o Senhor retirou-Se para Seus aposentos depois de caridosamente lançar Seu olhar auspicioso sobre as pessoas. Dessa maneira, os desejos do povo foram inteiramente satisfeitos.

VERSO 283: Nessa altura, Raghunātha Dāsa se aproximou de Śrī Nityānanda Prabhu e, de acordo com a ordem dEle, preparou um banquete e distribuiu prasāda composta de arroz frito e coalhada.

VERSO 284: Mais tarde, Śrīla Raghunātha Dāsa Gosvāmī deixou o lar e se refugiou em Śrī Caitanya Mahāprabhu em Jagannātha Purī. Naquela ocasião, o Senhor o recebeu e o deixou aos cuidados de Svarūpa Dāmodara para iluminação espiritual.

VERSO 285: Mais tarde, Śrī Caitanya Mahāprabhu reprovou o hábito de Brahmānanda Bhāratī de usar pele de veado. Assim, o Senhor gozou de Seus passatempos por seis anos consecutivos, experimentando variedades de bem-aventurança transcendental.

VERSO 286: Acabo de relatar, assim, a sinopse da Madhya-līlā. Agora, por favor, ouvi os passatempos do Senhor realizados durante os últimos doze anos.

VERSO 287: Orando aos pés de lótus de Śrī Rūpa e Śrī Raghunātha, desejando sempre a misericórdia deles, eu, Kṛṣṇadāsa, narro o Śrī Caitanya-caritāmṛta seguindo seus passos.

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