Capítulo Sete
O Senhor Caitanya em Cinco Aspectos
VERSO 1: Primeiramente, ofereço minhas respeitosas reverências ao Senhor Caitanya Mahāprabhu, que é a meta última da vida para quem é desprovido de todas as posses neste mundo material e que é o único sentido para quem está avançando na vida espiritual. Assim, escrevo sobre Sua magnânima contribuição de serviço devocional em amor a Deus.
VERSO 2: Glorifico o Supremo Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu. Quem se abriga a Seus pés de lótus é a pessoa mais gloriosa.
VERSO 3: No começo, explanei a verdade acerca do mestre espiritual. Agora, tentarei explicar o Pañca-tattva.
VERSO 4: Estes cinco tattvas encarnam com o Senhor Caitanya Mahāprabhu, e assim o Senhor executa Seu movimento de saṅkīrtana com grande prazer.
VERSO 5: Espiritualmente, não há diferenças entre esses cinco tattvas, pois, na plataforma transcendental, tudo é absoluto. Não obstante, também há variedade no mundo espiritual, e, a fim de saborear essas variedades espirituais, deve-se distinguir entre elas.
VERSO 6: Ofereço minhas reverências ao Senhor Śrī Kṛṣṇa, que Se manifesta em cinco formas: como um devoto, expansão de um devoto, encarnação de um devoto, devoto puro e energia devocional.
VERSO 7: Kṛṣṇa, o reservatório de todo o prazer, é a própria Suprema Personalidade de Deus, o controlador supremo. Ninguém é superior ou igual a Śrī Kṛṣṇa, mas Ele aparece como o filho de Mahārāja Nanda.
VERSO 8: O Senhor Śrī Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, é o desfrutador supremo da dança da rāsa. Ele é o líder das donzelas de Vraja, e todos os demais são simplesmente Seus associados.
VERSO 9: O mesmíssimo Senhor Kṛṣṇa apareceu pessoalmente como Śrī Caitanya Mahāprabhu com todos os Seus associados eternos, que são igualmente gloriosos.
VERSO 10: Śrī Caitanya Mahāprabhu, que é o controlador supremo, a única Personalidade de Deus, tornou-Se extaticamente um devoto, mas Seu corpo é transcendental e não é manchado pela matéria.
VERSO 11: A doçura transcendental do amor conjugal de Kṛṣṇa é tão maravilhosa que o próprio Kṛṣṇa aceita a forma de um devoto para prová-la e saboreá-la plenamente.
VERSO 12: Por essa razão, Śrī Caitanya Mahāprabhu, o mestre supremo, aceita a forma de um devoto e aceita o Senhor Nityānanda como Seu irmão mais velho.
VERSO 13: Śrī Advaita Ācārya é a encarnação do Senhor Caitanya como um devoto. Portanto, esses três tattvas [Caitanya Mahāprabhu, Nityānanda Prabhu e Advaita Gosāñi] são os predominadores ou amos.
VERSO 14: Um dEles é Mahāprabhu, e os outros dois são prabhus. Esses dois prabhus servem aos pés de lótus de Mahāprabhu.
VERSO 15: Os três predominadores [Caitanya Mahāprabhu, Nityānanda Prabhu e Advaita Prabhu] são adoráveis a todas as entidades vivas, e deve-se admitir o quarto princípio [Śrī Gadādhara Prabhu] como o adorador dEles.
VERSO 16: Há inúmeros devotos puros do Senhor, encabeçados por Śrīvāsa Ṭhākura, que são conhecidos como devotos imaculados.
VERSO 17: Deve-se considerar os devotos encabeçados por Gadādhara Paṇḍita como encarnações da potência do Senhor. Eles são devotos potenciais internos ocupados a serviço do Senhor.
VERSOS 18-19: Os devotos internos, ou potências internas, são todos associados eternos nos passatempos do Senhor. Somente com eles é que o Senhor aparece para propor o movimento de saṅkīrtana, somente com eles o Senhor saboreia a doçura do amor conjugal, e somente com eles distribui esse amor por Deus às pessoas em geral.
VERSOS 20-21: Compreende-se que as características de Kṛṣṇa são um reservatório de amor transcendental. Com certeza, esse reservatório de amor veio com Kṛṣṇa quando Ele esteve presente aqui, mas estava selado. Contudo, quando Śrī Caitanya Mahāprabhu apareceu com Seus outros associados do Pañca-tattva, eles romperam o selo e saquearam o reservatório a fim de saborear o transcendental amor por Kṛṣṇa. Quanto mais o saboreavam, mais aumentava a sede que eles tinham desse amor.
VERSO 22: Os próprios membros do Śrī Pañca-tattva dançavam repetidamente e, deste modo, facilitavam o beber do nectáreo amor a Deus. Eles dançavam, choravam, riam e cantavam como loucos, e distribuíam amor por Deus dessa maneira.
VERSO 23: Ao distribuir o amor a Deus, Caitanya Mahāprabhu e Seus associados não levavam em conta quem era candidato apto e quem não era, nem onde tal distribuição deveria ou não acontecer. Eles não impunham condições. Onde quer que tivessem a oportunidade, os membros do Pañca-tattva distribuíam amor a Deus.
VERSO 24: Embora os membros do Pañca-tattva saqueassem o reservatório de amor a Deus e comessem e distribuíssem seu estoque, nunca havia escassez, pois esse reservatório maravilhoso é tão completo que, à medida que se distribui o amor, o suprimento aumenta centenas de vezes.
VERSO 25: A inundação de amor a Deus alastrou-se em todas as direções, e assim rapazes, velhos, mulheres e crianças afundaram-se todos nessa inundação.
VERSO 26: O movimento para a consciência de Kṛṣṇa inundará o mundo inteiro e afogará a todos, sejam eles cavalheiros, patifes ou mesmo aleijados, inválidos ou cegos.
VERSO 27: Ao verem o mundo inteiro imerso no amor a Deus e a semente de gozo material nas entidades vivas completamente destruída, todos os cinco membros do Pañca-tattva ficaram excessivamente felizes.
VERSO 28: Quanto mais os cinco membros do Pañca-tattva provocam a queda de chuvas de amor a Deus, mais a inundação aumenta e se espalha por todo o mundo.
VERSOS 29-30: Os impersonalistas, trabalhadores fruitivos, pseudológicos, blasfemadores, não-devotos e os mais baixos entre a comunidade estudantil são muito peritos em evitar o movimento para a consciência de Kṛṣṇa, motivo pelo qual a inundação de consciência de Kṛṣṇa não pode atingi-los.
VERSOS 31-32: Ao ver que os māyāvādīs e outros fugiam, o Senhor Caitanya pensou: “Eu queria que todos imergissem nesta inundação de amor a Deus, mas alguns deles escaparam. Portanto, inventarei um estratagema para afogá-los também.”
VERSO 33: Assim, o Senhor aceitou a ordem sannyāsa de vida após plena consideração.
VERSO 34: Śrī Caitanya Mahāprabhu permaneceu na vida familiar por vinte e quatro anos e, nas vésperas de Seu vigésimo quinto aniversário, aceitou a ordem de sannyāsa.
VERSO 35: Após aceitar a ordem de sannyāsa, Śrī Caitanya Mahāprabhu atraiu a atenção de todos aqueles que O haviam evitado, começando com os lógicos.
VERSO 36: Assim, os estudantes, os infiéis, os trabalhadores fruitivos e os críticos vieram todos render-se aos pés de lótus do Senhor.
VERSO 37: O Senhor Caitanya perdoou-lhes a todos, e eles imergiram no oceano de serviço devocional, pois ninguém pode escapar à singular rede amorosa de Śrī Caitanya Mahāprabhu.
VERSO 38: Śrī Caitanya Mahāprabhu apareceu para liberar todas as almas caídas. Portanto, Ele planejou muitos métodos para libertá-las das garras de māyā.
VERSO 39: Todos converteram-se em devotos do Senhor Caitanya, mesmo os mlecchas e yavanas. Apenas os seguidores impersonalistas de Śaṅkarācārya escaparam dEle.
VERSO 40: Quando o Senhor Caitanya Mahāprabhu estava de passagem por Vārāṇasī, a caminho de Vṛndāvana, os filósofos sannyāsīs māyāvādīs blasfemaram-nO de muitas maneiras.
VERSO 41: “Apesar de ser sannyāsī, Ele não Se interessa pelo estudo do Vedānta, mas, em vez disso, sempre Se dedica a cantar e dançar em saṅkīrtana.”
VERSO 42: “Este Caitanya Mahāprabhu é um sannyāsī iletrado e, por isso, não conhece Sua função verdadeira. Movido unicamente por Seus sentimentos, Ele anda por aí na companhia de outros sentimentalistas.”
VERSO 43: Ouvindo toda essa blasfêmia, o Senhor Caitanya Mahāprabhu só fez sorrir levemente, rejeitou todas estas acusações e não falou com os māyāvādīs.
VERSO 44: Assim, menosprezando a blasfêmia dos māyāvādīs de Vārāṇasī, o Senhor Caitanya Mahāprabhu prosseguiu para Mathurā e, após visitar Mathurā, retornou para corrigir a situação.
VERSO 45: Dessa vez, o Senhor Caitanya ficou na casa de Candraśekhara, embora este fosse considerado um śūdra ou kāyastha, pois o Senhor, como a Suprema Personalidade de Deus, é inteiramente independente.
VERSO 46: Por uma questão de princípios, regularmente o Senhor Caitanya alimentava-Se na casa de Tapana Miśra. Ele nunca Se misturava com outros sannyāsīs, nem aceitava seus convites.
VERSO 47: Ao vir da Bengala, Sanātana Gosvāmī encontrou-se com o Senhor Caitanya na casa de Tapana Miśra, onde o Senhor Caitanya permaneceu por dois meses consecutivos para ensinar-lhe o serviço devocional.
VERSO 48: Com base em escrituras como o Śrīmad-Bhāgavatam, que revelam estas orientações confidenciais, Śrī Caitanya Mahāprabhu deu instruções a Sanātana Gosvāmī a respeito de todas as atividades regulares de um devoto.
VERSO 49: Enquanto o Senhor Caitanya Mahāprabhu dava instruções a Sanātana Gosvāmī, tanto Candraśekhara quanto Tapana Miśra ficaram muito tristes. Portanto, eles fizeram um apelo aos pés de lótus do Senhor.
VERSO 50: “Por quanto tempo teremos de tolerar a blasfêmia de Vossos críticos contra Vossa conduta? Preferiríamos abandonar nossas vidas a ter que ouvir tal blasfêmia.”
VERSO 51: “Todos os sannyāsīs māyāvādīs estão criticando Vossa Santidade. É intolerável para nós ouvirmos tais críticas, pois essa blasfêmia dilacera nosso coração.”
VERSO 52: Enquanto Tapana Miśra e Candraśekhara conversavam assim com Śrī Caitanya Mahāprabhu, Ele só fazia sorrir levemente e permanecia calado. Nessa altura, um brāhmaṇa veio ao encontro do Senhor.
VERSO 53: O brāhmaṇa imediatamente caiu aos pés de lótus de Caitanya Mahāprabhu e pediu-Lhe que aceitasse sua proposta alegremente.
VERSO 54: “Meu querido Senhor, convidei todos os sannyāsīs de Benares à minha casa. Meus desejos serão satisfeitos se Vós também aceitardes meu convite.”
VERSO 55: “Meu querido Senhor, sei que nunca Vos misturais com outros sannyāsīs, mas, por favor, tende misericórdia de mim e aceitai meu convite.”
VERSO 56: O Senhor Caitanya sorriu e aceitou o convite do brāhmaṇa. Ele fez esse gesto para mostrar Sua misericórdia aos sannyāsīs māyāvādīs.
VERSO 57: O brāhmaṇa sabia que o Senhor Caitanya Mahāprabhu não costumava ir à casa de qualquer pessoa, mas, devido à inspiração do Senhor, ele fervorosamente pediu-Lhe que aceitasse esse convite.
VERSO 58: No dia seguinte, ao ir à casa daquele brāhmaṇa, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu viu todos os sannyāsīs de Benares ali sentados.
VERSO 59: Assim que Śrī Caitanya Mahāprabhu viu os sannyāsīs, imediatamente ofereceu-lhes reverências, depois do que foi lavar Seus pés. Após lavar os pés, Ele Se sentou no local onde fizera isso.
VERSO 60: Após sentar-Se no chão, Caitanya Mahāprabhu demonstrou Seu poder místico, manifestando uma refulgência brilhante como o brilho de milhões de sóis.
VERSO 61: Quando os sannyāsīs viram a refulgência brilhante do corpo de Śrī Caitanya Mahāprabhu, suas mentes ficaram atraídas, e todos eles deixaram seus assentos imediatamente e ficaram de pé em sinal de respeito.
VERSO 62: O líder de todos os sannyāsīs māyāvādīs presentes chamava-se Prakāśānanda Sarasvatī, e, após levantar-se, dirigiu a palavra ao Senhor Caitanya Mahāprabhu, com grande respeito, da seguinte maneira.
VERSO 63: “Por favor, vem cá. Por favor, vem cá, Santidade. Por que Te sentas nesse local sujo? Qual é o motivo de Tua lamentação?”
VERSO 64: O Senhor respondeu: “Pertenço a uma ordem inferior de sannyāsīs. Portanto, não mereço sentar-Me convosco.”
VERSO 65: Entretanto, Prakāśānanda Sarasvatī tomou Śrī Caitanya Mahāprabhu pela mão e fê-lO sentar-Se com grande respeito no meio da assembleia.
VERSO 66: Então, Prakāśānanda Sarasvatī disse: “Segundo me consta, Teu nome é Śrī Kṛṣṇa Caitanya. És discípulo de Śrī Keśava Bhāratī, logo és glorioso.”
VERSO 67: “Pertences ao nosso Śaṅkara-sampradāya e vives em nossa vila, Vārānasī. Por que, então, não Te associas conosco? Por que evitas até mesmo nos ver?”
VERSO 68: “Tu és um sannyāsī. Por que, então, Te entregas a cantar e a dançar, ocupando-Te em Teu movimento de saṅkīrtana na companhia de fanáticos?”
VERSO 69: “A meditação e o estudo do Vedānta são os únicos deveres de um sannyāsī. Por que deixas essas coisas de lado e danças com fanáticos?”
VERSO 70: “És tão brilhante que pareces ser o próprio Nārāyaṇa. Por favor, explica a razão pela qual tens Te comportado como uma pessoa de classe inferior.”
VERSO 71: Śrī Caitanya Mahāprabhu respondeu o seguinte a Prakāśānanda Sarasvatī: “Meu caro senhor, por obséquio, ouve a razão. Meu mestre espiritual considerou-Me um tolo, e por isso repreendeu-Me.”
VERSO 72: “‘Tu és um tolo’, disse ele. ‘Não és qualificado para estudar a filosofia vedānta, motivo pelo qual deves sempre cantar o santo nome de Kṛṣṇa, que é a essência de todos os mantras ou hinos védicos.’”
VERSO 73: “‘Pelo simples cantar do santo nome de Kṛṣṇa, é possível libertar-se da existência material. De fato, todo aquele que simplesmente cantar o mantra Hare Kṛṣṇa será capaz de ver os pés de lótus do Senhor.’”
VERSO 74: “‘Nesta era de Kali, não há outro princípio religioso a não ser o cantar do santo nome, que é a essência de todos os hinos védicos. Esse é o significado de todas as escrituras.’”
VERSO 75: “Após descrever a potência do mahā-mantra Hare Kṛṣṇa, Meu mestre espiritual ensinou-Me outro verso, aconselhando-Me a sempre manter o santo nome dentro de Minha garganta.”
VERSO 76: “‘Nesta era de Kali, não há alternativa, não há alternativa, não há alternativa para o progresso espiritual a não ser o santo nome, o santo nome, o santo nome do Senhor.’”
VERSO 77: “Já que recebi esta ordem de Meu mestre espiritual, sempre canto o santo nome, mas acho que, de tanto cantar o santo nome, fiquei confuso.”
VERSO 78: “Enquanto canto o santo nome do Senhor em puro êxtase, Eu Me perco, e assim dou gargalhada, choro, danço e canto, tal qual um louco.”
VERSO 79: “Portanto, ao recobrar Minha paciência, passei a achar que o cantar do santo nome de Kṛṣṇa encobrira todo o Meu conhecimento espiritual.”
VERSO 80: “Vi que havia enlouquecido por cantar o santo nome, e logo submeti isso aos pés de lótus de Meu mestre espiritual.”
VERSO 81: “‘Meu querido senhor, que espécie de mantra é este que Me destes? Tenho enlouquecido simplesmente por cantar este mahā-mantra!’”
VERSO 82: “‘O cantar do santo nome em êxtase faz com que dancemos, gargalhemos e choremos.’ Ao ouvir tudo isso, Meu mestre espiritual sorriu e, então, pôs-se a falar.”
VERSO 83: “‘A natureza do mahā-mantra Hare Kṛṣṇa é tal que quem o canta imediatamente desenvolve seu êxtase amoroso por Kṛṣṇa.’”
VERSO 84: “‘Religiosidade, desenvolvimento econômico, gozo dos sentidos e liberação são conhecidos como as quatro metas da vida, mas, perante o amor a Deus, a quinta e máxima meta, eles parecem insignificantes como uma palha na rua.’”
VERSO 85: “‘Para um devoto que tenha realmente desenvolvido bhāva, o prazer obtido de dharma, artha, kāma e mokṣa parece uma gota na presença do mar.’”
VERSO 86: “‘A conclusão de todas as escrituras reveladas é que devemos despertar nosso amor adormecido por Deus. És muito afortunado por já teres feito isso.’”
VERSO 87: “‘A característica do amor a Deus é que, por natureza, ele induz sintomas transcendentais em nosso corpo e faz-nos mais e mais cobiçosos de ter abrigo aos pés de lótus do Senhor.’”
VERSO 88: “‘O devoto que de fato desenvolve amor por Deus naturalmente às vezes chora, às vezes ri, outras vezes canta e outras corre de um lado para outro, tal qual um louco.’”
VERSOS 89-90: “‘Transpiração, tremor, arrepio dos pelos do corpo, lágrimas, balbucios, esmorecimento, loucura, melancolia, paciência, orgulho, alegria e humildade – tais são os diversos sintomas naturais de amor extático por Deus, o qual faz com que o devoto dance e flutue num oceano de bem-aventurança transcendental enquanto canta o mantra Hare Kṛṣṇa.’”
VERSO 91: “‘É muito bom, meu querido filho, que tenhas alcançado a meta suprema da vida, desenvolvendo amor por Deus. Assim, satisfizeste-me muitíssimo, e fico-Te muito agradecido.’”
VERSO 92: “‘Meu querido filho, continua dançando, cantando e executando saṅkīrtana na companhia dos devotos. Além disso, sai e prega o valor de cantar kṛṣṇa-nāma, pois, através desse processo, serás capaz de salvar todas as almas caídas.’”
VERSO 93: “Dizendo isto, Meu mestre espiritual ensinou-Me um verso do Śrīmad-Bhāgavatam, que é a essência de todas as instruções do Bhāgavatam; portanto, ele recitou esse verso repetidamente.”
VERSO 94: “‘Quando alguém é realmente avançado e sente prazer em cantar o santo nome do Senhor, que lhe é muito querido, ele fica emocionado e canta o santo nome em voz alta. Além disso, ri, chora, se exalta e canta tal qual um louco, sem se importar com estranhos.’”
VERSOS 95-96: “Acredito firmemente nessas palavras de Meu mestre espiritual e, por isso, sempre canto o santo nome do Senhor, sozinho e na companhia dos devotos. Esse santo nome do Senhor Kṛṣṇa às vezes Me faz cantar e dançar, de modo que canto e danço. Por favor, não penses que faço isso com intencionalidade. Faço-o automaticamente.”
VERSO 97: “Comparado ao oceano de bem-aventurança transcendental que é saboreado ao se cantar o mantra Hare Kṛṣṇa, o prazer obtido da percepção do Brahman impessoal [brahmānanda] é como a água rasa de um canal.”
VERSO 98: “‘Meu querido Senhor, ó mestre do universo, desde que Te vi diretamente, minha bem-aventurança transcendental tomou a forma de um grande oceano. Estando imerso nesse oceano, percebo agora que todas as outras supostas felicidades são como a água contida na pegada de um bezerro.’”
VERSO 99: Após ouvir o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu, todos os sannyāsīs māyāvādīs ficaram comovidos. Suas mentes se transformaram, e assim eles falaram com palavras agradáveis.
VERSO 100: “Querido Śrī Caitanya Mahāprabhu, tudo o que disseste é verdade. Somente aquele que é favorecido por boa fortuna alcança amor a Deus.”
VERSO 101: “Querido senhor, não fazemos objeção a que sejas um grande devoto do Senhor Kṛṣṇa. Ficamos todos satisfeitos com isto. No entanto, por que evitas discutir sobre o Vedānta-sūtra? Que há de errado nisso?”
VERSO 102: Após ouvir os sannyāsīs māyāvādīs falarem daquela maneira, o Senhor Caitanya Mahāprabhu sorriu levemente e disse: “Meus queridos senhores, se não vos importardes, posso dizer-vos algo a respeito da filosofia vedānta.”
VERSO 103: Ouvindo isso, os sannyāsīs māyāvādīs ficaram bem mais humildes e chamaram Caitanya Mahāprabhu de o próprio Nārāyaṇa, o que todos eles concordaram que Ele era.
VERSO 104: “Querido Caitanya Mahāprabhu”, disseram eles, “para dizer-Te a verdade, estamos muito satisfeitos em ouvir Tuas palavras, e, além disso, as características de Teu corpo são tão agradáveis que sentimos satisfação extraordinária em ver-Te.”
VERSO 105: “Querido senhor, por Tua influência, nossas mentes estão bastante satisfeitas, e acreditamos que Tuas palavras não serão jamais desarrazoadas. Portanto, podes falar sobre o Vedānta-sūtra.”
VERSO 106: O Senhor disse: “A filosofia vedānta consiste em palavras faladas pela Suprema Personalidade de Deus, Nārāyaṇa, sob a forma de Vyāsadeva.”
VERSO 107: “Os defeitos materiais de equívocos, ilusões, trapaça e ineficiência sensória não existem nas palavras da Suprema Personalidade de Deus.”
VERSO 108: “As Upaniṣads e o Brahma-sūtra descrevem a Verdade Absoluta, mas é preciso compreender seus versos como eles são. Essa é a glória suprema em compreensão.”
VERSO 109: “Śrīpāda Śaṅkarācārya descreve todos os textos védicos em termos de significados indiretos. Aquele que ouve tais explicações está arruinado.”
VERSO 110: “Śaṅkarācārya não é culpado, pois ele encobriu assim o verdadeiro objetivo dos Vedas por ordem da Suprema Personalidade de Deus.”
VERSO 111: “Segundo a compreensão direta, a Verdade Absoluta é a Suprema Personalidade de Deus, que tem todas as opulências espirituais. Ninguém pode ser igual ou superior a Ele.”
VERSO 112: “Tudo na Suprema Personalidade de Deus é espiritual, incluindo Seu corpo, Sua opulência e Sua parafernália. Contudo, a filosofia māyāvāda, encobrindo Sua opulência espiritual, advoga a teoria do impersonalismo.”
VERSO 113: “A Suprema Personalidade de Deus é plena de potências espirituais. Portanto, Seu corpo, Seu nome, Sua fama e Seu séquito são todos espirituais. O filósofo māyāvādī, devido à ignorância, diz que tudo isso são meramente transformações do modo material da bondade.”
VERSO 114: “Śaṅkarācārya, que é uma encarnação do senhor Śiva, é impecável por ser um servo cumpridor das ordens do Senhor. Todavia, aqueles que seguem sua filosofia māyāvādī estão condenados. Perderão todo o seu avanço em conhecimento espiritual.”
VERSO 115: “Quem acha que o corpo transcendental do Senhor Viṣṇu é feito de natureza material é o maior ofensor aos pés de lótus do Senhor. Não há maior blasfêmia contra a Suprema Personalidade de Deus.”
VERSO 116: “O Senhor é como um grande fogo abrasante, e as entidades vivas são como pequenas centelhas desse fogo.”
VERSO 117: “As entidades vivas são energias, e não o energético. O energético é Kṛṣṇa. Na Bhagavad-gītā, no Viṣṇu Purāṇa e em outros textos védicos, descreve-se isso muito vividamente.”
VERSO 118: “‘Além da natureza inferior, ó poderoso Arjuna, tenho Minha energia superior, que consiste em todas as entidades vivas, as quais lutam com a natureza material e sustêm o universo.’”
VERSO 119: “‘Resume-se a potência do Senhor Viṣṇu em três categorias – a saber, a potência espiritual, as entidades vivas e a ignorância. A potência espiritual é plena de conhecimento; as entidades vivas, embora pertencentes à potência espiritual, estão sujeitas a confundir-se; e a terceira energia, que é plena de ignorância, é sempre visível nas atividades fruitivas.’”
VERSO 120: “A filosofia māyāvāda é tão degradada que considera que as entidades vivas insignificantes sejam o Senhor, a Verdade Suprema, encobrindo, assim, a glória e a supremacia da Verdade Absoluta com o monismo.”
VERSO 121: “Em seu Vedānta-sūtra, Śrīla Vyāsadeva descreve que tudo é apenas uma transformação da energia do Senhor. No entanto, Śaṅkarācārya desencaminhou o mundo, comentando que Vyāsadeva estava errado. Assim, ele levantou grande oposição ao teísmo pelo mundo inteiro.”
VERSO 122: “Segundo Śaṅkarācārya, quem aceita a teoria da transformação de energia do Senhor cria uma ilusão, aceitando indiretamente que a Verdade Absoluta Se transforma.”
VERSO 123: “A transformação da energia é um fato provado. É a falsa concepção corpórea do eu que é uma ilusão.”
VERSO 124: “A Suprema Personalidade de Deus é opulenta sob todos os aspectos. Portanto, mediante Suas energias inconcebíveis, transforma a manifestação cósmica material.”
VERSO 125: “Usando o exemplo da pedra filosofal [cintāmaṇi], que, mediante sua energia, transforma ferro em ouro e mesmo assim permanece a mesma, podemos compreender que, embora a Suprema Personalidade de Deus transforme Suas inúmeras energias, Ele permanece imutável.”
VERSO 126: “Embora a pedra filosofal produza muitas variedades de joias preciosas, não obstante, ela permanece a mesma. Ela não altera sua forma original.”
VERSO 127: “Se existe semelhante potência inconcebível em objetos materiais, por que não deveríamos crer na potência inconcebível da Suprema Personalidade de Deus?”
VERSO 128: “A vibração sonora védica oṁkāra, a principal palavra nos textos védicos, é a base de todas as vibrações védicas. Portanto, deve-se aceitar o oṁkāra como a representação sonora da Suprema Personalidade de Deus e o reservatório da manifestação cósmica.”
VERSO 129: “É intenção da Suprema Personalidade de Deus apresentar o praṇava [oṁkāra] como o reservatório de todo o conhecimento védico. As palavras tat tvam asi são apenas uma explicação parcial do conhecimento védico.”
VERSO 130: “O praṇava [oṁkāra] é o mahā-vākya [mahā-mantra] nos Vedas. Os seguidores de Śaṅkarācārya encobrem isso para enfatizar, sem autoridade, o mantra tat tvam asi.”
VERSO 131: “Todos os sūtras e textos védicos destinam-se a compreender o Senhor Kṛṣṇa, mas os seguidores de Śaṅkarācārya encobriram o significado verdadeiro dos Vedas com explicações indiretas.”
VERSO 132: “Os textos védicos autoevidentes são a prova máxima de tudo, mas, se esses textos são interpretados, sua natureza autoevidente se perde.”
VERSO 133: “A escola māyāvāda, abandonando o sentido verdadeiro e facilmente compreensível da literatura védica, introduz significados indiretos, baseada em seus poderes imaginativos, para provar sua própria filosofia.”
VERSO 134: Quando Śrī Caitanya Mahāprabhu mostrou assim, para cada sūtra, os defeitos nas explicações de Śaṅkarācārya, todos os sannyāsīs māyāvādīs reunidos ficaram maravilhados.
VERSO 135: Os sannyāsīs māyāvādīs disseram: “Santidade, por favor, queremos que saibas que realmente não discordamos de Tua refutação desses significados, pois apresentaste uma compreensão clara dos sūtras.”
VERSO 136: “Sabemos que todo esse malabarismo de palavras brota da imaginação de Śaṅkarācārya, e, não obstante, por pertencermos à seita dele, aceitamo-lo, embora isso não nos satisfaça.”
VERSO 137: “Agora, vejamos”, continuaram os sannyāsīs māyāvādīs, “quão bem podes descrever os sūtras em termos de seu significado direto.” Ao ouvir isso, o Senhor Caitanya Mahāprabhu começou a dar Sua explicação direta do Vedānta-sūtra.
VERSO 138: “Brahman, que é maior que o maior, é a Suprema Personalidade de Deus. Ele é pleno de seis opulências, e por isso é o reservatório da verdade última e do conhecimento absoluto.”
VERSO 139: “Sob Sua forma original, a Suprema Personalidade de Deus é plena de opulências transcendentais que são livres da contaminação do mundo material. Deve-se entender que, em toda a literatura védica, a Suprema Personalidade de Deus é a meta última.”
VERSO 140: “Ao falarmos do Supremo como impessoal, negamos Suas potências espirituais. Logicamente, aceitando metade da verdade, não podeis compreender o todo.”
VERSO 141: “É apenas através do serviço devocional, começando com ouvir, que alguém pode aproximar-se da Suprema Personalidade de Deus. Esse é o único meio de aproximar-se dEle.”
VERSO 142: “Quem pratica este serviço devocional regulado sob a orientação do mestre espiritual com certeza desperta seu amor adormecido por Deus. Esse processo se chama abhidheya.”
VERSO 143: “Se alguém desenvolve seu amor por Deus e se apega aos pés de lótus de Kṛṣṇa, gradualmente perde seu apego por todo o resto.”
VERSO 144: “O amor a Deus é tão elevado que é considerado a quinta meta da vida humana. Quem desperta seu amor por Deus pode alcançar a plataforma de amor conjugal, saboreando-o mesmo no decorrer da presente vida.”
VERSO 145: “O Senhor Supremo, que é maior do que o maior, torna-Se submisso mesmo a um devoto muito insignificante por causa do serviço devocional deste. A natureza bela e elevada do serviço devocional faz com que o Senhor infinito Se submeta à entidade viva infinitesimal. Em atividades devocionais recíprocas com o Senhor, o devoto realmente goza da doce qualidade transcendental do serviço devocional.”
VERSO 146: “Nossa relação com a Suprema Personalidade de Deus, nossas atividades em função desta relação e a meta última da vida [desenvolver amor por Deus] – esses três assuntos são explicados em cada código do Vedānta-sūtra, pois eles formam o auge de toda a filosofia vedānta.”
VERSO 147: Ao ouvirem assim a explicação de Caitanya Mahāprabhu baseada em sambandha, abhidheya e prayojana, todos os sannyāsīs māyāvādīs falaram muito humildemente.
VERSO 148: “Querido senhor, és o conhecimento védico personificado e és diretamente o próprio Nārāyaṇa. Por favor, perdoa-nos as ofensas que cometemos anteriormente ao criticar-Te.”
VERSO 149: A partir do momento em que ouviram o Senhor explicar o Vedānta-sūtra, a mente dos sannyāsīs māyāvādīs transformou-se, e, sob a instrução de Caitanya Mahāprabhu, eles também cantavam sempre “Kṛṣṇa! Kṛṣṇa!”
VERSO 150: Assim, o Senhor Caitanya perdoou todas as ofensas dos sannyāsīs māyāvādīs e abençoou-os muito misericordiosamente com o kṛṣṇa-nāma.
VERSO 151: Depois disso, todos os sannyāsīs fizeram o Senhor sentar-Se entre eles, e assim todos tomaram sua refeição juntos.
VERSO 152: Após almoçar entre os sannyāsīs māyāvādīs, Śrī Caitanya Mahāprabhu, que é conhecido como Gaurasundara, regressou à Sua residência. Assim, o Senhor executa Seus passatempos maravilhosos.
VERSO 153: Ouvindo os argumentos de Śrī Caitanya Mahāprabhu e presenciando Sua vitória, Candraśekhara, Tapana Miśra e Sanātana ficaram todos extremamente satisfeitos.
VERSO 154: Muitos sannyāsīs māyāvādīs de Vārāṇasī vieram visitar o Senhor após este incidente, e a cidade inteira O elogiava.
VERSO 155: Todo o povo de Vārāṇasī ficou muito agradecido por Śrī Caitanya Mahāprabhu ter visitado a cidade.
VERSO 156: A multidão à porta de Sua residência era tão grande que constava de centenas e milhares.
VERSO 157: Quando O Senhor foi visitar o templo de Viśveśvara, centenas e milhares de pessoas reuniram-se para vê-lO.
VERSO 158: Sempre que o Senhor Caitanya ia banhar-Se às margens do Ganges, grandes multidões de muitas centenas e milhares de pessoas também se reuniam ali.
VERSO 159: Sempre que as multidões se tornavam numerosas, Śrī Caitanya Mahāprabhu levantava-Se, erguia os braços e cantava: “Hari! Hari!”, ao que todas as pessoas respondiam, enchendo tanto a terra quanto o céu com esta vibração.
VERSO 160: Após assim libertar as pessoas em geral, o Senhor desejou partir de Vārāṇasī. Após dar instruções a Śrī Sanātana Gosvāmī, Ele o enviou para Vṛndāvana.
VERSO 161: Como a cidade de Vārāṇasī era sempre cheia de multidões tumultuosas, Śrī Caitanya Mahāprabhu, após enviar Sanātana a Vṛndāvana, regressou a Jagannātha Purī.
VERSO 162: Acabo de fazer uma breve narrativa destes passatempos do Senhor Caitanya, porém, mais adiante, irei descrevê-los mais pormenorizadamente.
VERSO 163: Śrī Kṛṣṇa Caitanya Mahāprabhu e Seus associados do Pañca-tattva distribuíram o santo nome do Senhor para despertar o amor a Deus em todo o universo, e assim o universo inteiro ficou agradecido.
VERSO 164: O Senhor Caitanya enviou os dois generais Rūpa Gosvāmī e Sanātana Gosvāmī a Vṛndāvana para pregarem o culto de bhakti.
VERSO 165: Assim como Rūpa Gosvāmī e Sanātana Gosvāmī foram enviados a Mathurā, da mesma forma, Nityānanda Prabhu foi enviado à Bengala para pregar extensivamente o culto de Caitanya Mahāprabhu.
VERSO 166: Śrī Caitanya Mahāprabhu pessoalmente foi para o sul da Índia, onde difundiu o santo nome do Senhor Kṛṣṇa em todas as vilas e cidades.
VERSO 167: Assim, o Senhor foi até o ponto mais meridional da península indiana, conhecido como Setubandha [Cabo Comorin]. Em toda a parte, Ele distribuiu o culto de bhakti e amor a Kṛṣṇa e, dessa maneira, salvou a todos.
VERSO 168: Acabo de explicar a verdade do Pañca-tattva. Aquele que ouve esta explicação aumenta seu conhecimento sobre Śrī Caitanya Mahāprabhu.
VERSO 169: Ao se cantar o Pañca-tattva mahā-mantra, devem-se cantar os nomes de Śrī Caitanya, Nityānanda, Advaita, Gadādhara e Śrīvāsa com seus muitos devotos. Eis o processo.
VERSO 170: Presto minhas reverências repetidamente ao Pañca-tattva. Assim, acho que serei capaz de descrever algo sobre os passatempos do Senhor Caitanya Mahāprabhu.
VERSO 171: Orando aos pés de lótus de Śrī Rūpa e Śrī Raghunātha, desejando sempre a misericórdia deles, eu, Kṛṣṇadāsa, narro o Śrī Caitanya-caritāmṛta, seguindo seus passos.